CENA – A perigosa cantora carioca Tontom, de 17 anos, e o estranhos jeitos de entender um sucesso hoje em dia

É muito curioso medir o sucesso ou “o sucesso” de alguém na música hoje em dia, em diversas camadas.

Por exemplo, o que aconteceu nos últimos anos com a veterana banda americana Pavement, herói do indie mundial mas que sempre teve um alcance de vendas de discos e público de show bem… indie.

O maior hit do Pavement, desde os anos 90, sempre foi a grudenta música “Cut Your Hair”, canção maravilhosa e engraçadinha que completou 30 anos neste ano. No Spotify, para termos uma referência, esse hit radiofônico alcançou mais de 40 milhões de escutadas na era streaming, muito ajudado pelo fato de “Cut Your Hair” fazer parte da trilha do videogame Guitar Hero.

Ninguém entendeu nada em 2017 quando um lado B de single que só fã true da banda conhecia, a música “Harness Your Hopes”, se tornou de repente uma das canções mais ouvidas do Pavement, sem se saber ao certo o que aconteceu. Nem era uma música nova sendo lançada: ela é de 1997. Nos EUA, acreditam que a música tinha uma métrica que de alguma forma atraiu o algoritmo da plataforma de streaming, vai vendo, e a música começou a ganhar bastante plays na, digamos, indução robótica.

Uma coisa levando à outra, “Harness Your Hopes” foi parar no Tik Tok alguns anos depois, em 2000, e, bem, viralizou. Vai vendo 2. Hoje a “canção qualquer” chamada “Harness Your Hopes”, que nem bons fãs do Pavement conheciam até havia pouco tempo, tem 155 milhões de hits nos streamings. Quase o quádruplo da conhecida “Cut Your Hair”.

Isso faz o Pavement ser mais popular? Vender bem mais ingressos? Até pelo que vimos em maio, no lindo C6 Festival, não mesmo!

Isso inclusive estimulou o Pavement a voltar aos shows, em 2022. Obviamente com “Harness Your Hopes” enfiada no setlist.

Aqui no Brasil vivemos recentemente um caso de extremo sucesso viral que a gente não tem tanta ideia se isso mexeu com a vida da banda autora.

Não teve um dia de descanso nos últimos meses para quem abriu Instagram ou Tik Tok e não viu alguma garota, em sua maioria, musicar seus vídeos e selfies com um trecho bem específico de “Tô Bem”, hit novo da esperta banda indie pop curitibana pós-pandêmica Jovem Dionísio. Esperta para hits, esperta para vírus, esperta também para o som indie pop.

“Ah, cê reparou que eu me arrumei?/ Ah, tô bonitinho”, o trecho onipresente (tipo praga máxima nas redes sociais) da música “Tô Bem”, faixa do disco “Ontem Eu Tinha Certeza (Hoje Eu Tenho Mais)”, levou a banda até o programa global matinal da Ana Maria Braga, para explicar o que estava acontecendo.

O álbum novo do JD, o segundo da trupe paranaense, é lançamento de maio. “Tô Bem”, por causa da viralizada, virou “forçosamente” um single, que ganhou um vídeo oficial agora em junho.

Enquanto “Tô Bem” ainda está bem longe no Spotify de “Acorda, Pedrinho”, este meeeeeeegahit da banda de 2022, já tem uma performance absurda no streaming perto das outras do mesmo álbum. Tipo mais de 5,5 milhões de plays contra 800 mil de “Neste Contexto”, a segunda mais escutada de “Ontem Eu Tinha Certeza (Hoje Eu Tenho Mais)”.

O Jovem Dionísio está milionária e enchendo estádios depois dessa nova aferição de sucesso de uma música ou disco ou banda? Provavelmente não. Mas como a banda é muuuito nova, vamos acompanhar. Até porque eles iniciam sua nova turnê na próxima semana.

E chegamos então onde queríamos, antes de escrever tooooodo esse texto acima. Na cantora carioca Tontom.

Tontom tem 17 anos e na semana passada chegou às alturas no Top 1 Viral Brasil, do Spotify. Ela é top 1 do Top 1 graças à música pop “Tontom Perigosa”, faixa de seu primeiro EP, “Mania 2000”, lançado não tem um mês.

“Tontom Perigosa” já está devidamente viralizada além do top viral da plataforma de streaming mais famosa. A música já é uma praga no Tik Tok, habitat natural de postagem da Tontom para além da músic

Antonia Périssé de Farias, a Tontom, é filha de Heloísa Périssé, da humorista, autora e atriz de clássicos dos anos 2000 como “O Diário de Tati”. Seu disco debut foi produzido por Guilherme Lírio, conhecido por seu trabalho como guitarrista acompanhando artistas como Gilberto Gil e Ana Frango Elétrico.

Digamos que Tontom já pertença à nova safra dessa pulsante cena indie nova carioca. Seu EP são quatro músicas que misturam uma pegada mais clássica de MPB, que fica clara na faixa “Vê Se Atrasa”, com seu arranjo de voz puxada no violão.

Em música como “Como Iguais”, que traz guitarras com referências setentistas de Lírio, Tontom tem a companhia nos vocais de sua irmã mais velha, a também cantora Raquel Dimantas, outra da turminha da Ana Frango. Na canção, típico dessa galera, as duas exageram em seus sotaques cariocas.

Mas o “hit viral”, então, é a música-chiclete “Tontom Perigosa”, que mistura sonoridades pop com seu tom jovem, resultando numa faixa mais fofa e dançante do que perigosa de fato. Graças ao destaque nas redes, Tontom já acumula uma boa base de ouvintes. “Tontom Perigosa” já ultrapasa meio milhão de escutadas no Spotify, onde é a número um do top viral da plataforma.

Olhar a trajetória de uma artista tão fresh como Tontom talvez nos ajude a entender como o sucesso musical hoje em dia é determinado. Ou, sinal dos tempos, vai nos confundir ainda mais.

Mas pelo menos nos parece divertido acompanhar.

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* Este texto foi elaborado por Carolina Andreosi Lúcio Ribeiro.

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