Nesta quinta-feira (22), começa o festival C6, que acontecerá de hoje a 25 de maio em São Paulo, reunindo diversas ótimas atrações nacionais e internacionais. Os shows todos acontecerão no Parque Ibirapuera, e o line-up do festival, em sua terceira edição, é conhecido por apresentar artistas multiculturais, muitos conhecidos por estilos musicais como o jazz, o R&B, o indie e o eletrônico. E nesta proposta se destaca a paquistanesa Arooj Aftab, atração hoje na primeira noite do evento.
Filha de paquistaneses, Arooj Aftab, que se apresenta pela primeira vez no Brasil embora já tenha visitado o país antes de férias na Bahia, nasceu na Arábia Saudita, onde morou até os 10 anos de idade. Mais tarde, no início da vida adulta, mudou-se para os EUA, em 2005, quando ingressou na faculdade de música, estudando jazz no Berklee College of Music de Boston.
Representante de uma música considerada global, Aftab explora diversas influências em seu som, desde elementos não convencionais para a cultura ocidental, como o canto qawwali, que é uma manifestação musical devocional da comunidade islâmica sufi, tradicional da Índia e do Paquistão, até aspectos da jazz e da música pop contemporânea, tudo isso perceptível em seu mais recente lançamento, “raat ki rani (Khruangbin Remix)”, lançada em março e que conta com a marca psicodélica do trio texano Khruangbin, que inclusive já se apresentou no Popload Festival.
Bastante reconhecida no cenário musical internacional, Arooj Aftab já conquistou o Grammy de Melhor Performance Musical Global pela canção “Mohabbat” em 2022, além de ter recebido uma indicação na categoria de Melhor Artista Revelação no mesmo ano. Arooj também já participou duas vezes da famosa série Tiny Desk, da americana NPR.
Arroja Aftab conversou com a Popload sobre seu som, sua apresentação no Brasil e sua batalha em mostrar que a música sul-asiática não apenas serve para meditar.
Popload – Você já disse que a noite é sua maior fonte de inspiração. Como são as noites para você no Brasil? Elas te trazem algo diferente do que você vivencia nos EUA e no Paquistão? Você já esteve na Bahia, certo?
Arooj Aftab – Sim! As noites na Bahia quando estive lá eram de outro mundo. É simplesmente incrível. Não consigo nem descrever a sensação que foi estar lá por um mês inteiro, só curtindo. Era basicamente ficar na praia por horas e horas: nadar, voltar, tomar um maracujá e uma caipirinha e nadar de novo! Fazia isso por volta das 20h ou 21h, porque não era uma cidade festeira, era um lugar tranquilo. As pessoas iam para casa, fazíamos comida e nadávamos um pouquinho mais na piscina. Então foi uma situação de relaxamento total.
Popload – É a sua primeira vez em São Paulo?
Aftab – Não, eu estava em São Paulo no Ano Novo, acho que não no ano passado, mas no retrasado.
Popload – E você nota alguma mudança na cena musical paquistanesa desde que você saiu em 2005 até hoje? Você acha que o seu Grammy trouxe mais atenção para a música paquistanesa?
Aftab – Sim, eu realmente acho que sim. Acho que a cena musical no Paquistão se expandiu nos últimos 20 anos, o que é incrível. E eu ter ganhado um Grammy inspirou muita gente. Acho que sou, de certa forma, uma pioneira da música sul-asiática na situação global contemporânea, porque tem sido extremamente difícil fazer as pessoas perceberem que a música sul-asiática é mais do que apenas algo para meditar. Ou é meditação, ou é Bollywood… Não houve nenhum momento contemporâneo para essa música, e acho que é porque as pessoas nos EUA em geral tiveram esse tipo de foco. Eles são muito centrados na música em inglês, ao contrário do resto do mundo, onde todo mundo ouve coisas em outras línguas e ninguém pensa muito sobre isso. Foi algo muito difícil de fazer e acho que, ao fazer, criei espaço para os outros e isso é bom.
Popload – É comum que os fãs brasileiros tentem se aproximar de seus ídolos nas redes sociais. Os brasileiros andam te mandando mensagens no seu Instagram recentemente?
Aftab – Tem alguns! Sempre que eu posto minha turnê, tem uns dois ou três comentários dizendo: “Venha para o Brasil”. E então estou aqui!
Popload – Embora tenha passado muito tempo nos EUA, você canta muitas de suas músicas em urdu (idioma nativo do Paquistão). O que isso significa para você?
Aftab – Hum, é que eu só sei duas línguas, sabe? E o urdu é muito poético, muito bonito. Já existe muita poesia em urdu, o que é incrível, tanto que, em muitos casos, não preciso escrever letras. E eu nunca tinha pensado muito sobre isso… Acho que é algo bem tranquilo, às vezes canto em inglês e, mais vezes, canto em urdu, e talvez isso mude ou talvez permaneça o mesmo. Não sei…