Quando subir ao palco hoje à noite em Seattle, terra do Nirvana, no tradicionalíssimo clube The Moore Theatrer (há os que defendam que o grunge nasceu ali), o público americano vai começar a conhecer quem é Tim Bernardes, responsável pelo recém-lançado disco “A Thousand Invisible Things”, que recebeu da rigorosa publicação indie americana uma bela nota de 7.6 “out of” 10.
Acontece que “A Thousand Invisible Things”, como nome, não existe. O disco se chama “Mil Coisas Invisíveis” e deve ser batizado assim, sem tradução, porque suas músicas todas são em bom português. Nem rock é. Pensa na cabeça da plateia do Moore quando olharem para o “nosso” Tim.
A Seattle, terra do Nirvana, é também a terra da especialíssima banda indie-folk Fleet Foxes, que vai arrastar o “nosso” Tim para uma longa turnê americana de apresentação de seu mais recente disco, tour essa que começa hoje na famosa cidade lááá no alto do mapa americano no seu canto esquerdo, perto do Canadá. Foi o segundo convite do vocalista Robin Pecknold, do FF, para o menino dO Terno. O primeiro foi de ele cantar trechos, em português, na faixa “Going-to-the-Sun Road”, de “Shore”, o disco de 2020 do Fleet Foxes.
A proximidade às referências tanto nacionais quanto internacionais foram essenciais para essa nova fase do cantor e compositor paulistano, que soltou esse belo “Mil Coisas Invisíveis” no nosso colo e se pirulitou para os EUA, para retomar o disco só em agosto. É que Bernardes citou ao longo dos anos Fleet Foxes como uma das suas principais referências internacionais e durante a pandemia se aproximou do vocalista, Robin Pecknold, fazendo essa participação no “Shore”. E o “sonho americano” começou a tomar forma.
“É a coisa mais legal, nem daria pra sonhar com o que está acontecendo, mas estou vivendo isso agora. Estou animado, me preparando para o show. Com aquele friozinho na barriga e ansioso para as coisas começarem”, disse Tim Bernardes à Popload.
Para o cantor as reações internacionais ao seu nome têm sido interessantes. Mesmo muito pouca gente nos EUA saber nem o que significa a palavra “saudade”. “Tem sido surpreendente como as pessoas têm conseguido sentir a essência da coisa sem estar entendendo a letra, algo que transparece na expressão vocal, na melodia, no clima da música, nas sonoridades”, afirmou.
“Também é o melhor cenário possível, porque o Fleet Foxes tem a tradição do cantor-compositor, da coisa do folk, de música sentada. […] Sinto que é uma situação favorável para eu apresentar esse tipo de música”, falou Tim.
Acostumado com shows sozinho no palco nessa sua pegada solo, para Tim ainda não é o momento ainda de introduzir mais músicos em sua perfomance. “Eu gosto muito da situação de show de cantor-compositor, em que você ouve as músicas do jeito que elas foram compostas. Tem uma potência no intimismo de estar eu sozinho, falando um para um, por mais que seja um monte de gente.”
No segundo semestre, acontecerão as turnês pelo Brasil e Europa. Mas quando o assunto é banda, para Tim não existe outra banda para tocar junto que não O Terno. Ele não descarta tocar composições solo com seus colegas, mas só “se acontecer naturalmente e for uma vontade dos três.”
Por tudo o que estar por viver lá fora, fica a dúvida: será que o próximo lançamento de Tim Bernardes vem em inglês? Para ele, depende do contexto. “Se forem discos que façam sentido por lá [nos EUA], sim, mas que não percam a minha essência também para quem está no Brasil, minha terra, para o meu público. Pode ser uma coisa legal, sim, em algum momento.”
Em seu recém-lançado álbum, seu aguardado segundo disco solo, Tim Bernardes mostra uma nova fase artística, mais madura e inclusive mística. Com 15 faixas e quase uma hora de duração, o seu novo álbum traz um conjunto eclético de canções que permeiam diferentes sonoridades e transitam entre o indie e a MPB. Não, não tem rock.
Em 2020, quando Tim juntou seu repertório de canções a composições novas, ele “não quis gastar à toa essa questão do disco conceitual, […] Eu tinha vontade de voltar a fazer discos de canção”, revelou a este site.
Ao completar a obra, Bernardes defende que “existe um espírito geral da soma das 15 músicas”, mas fez questão de que as faixas funcionassem como músicas soltas e cada um dos quatro singles serviu para exemplificar os temas gerais presentes no álbum.
E falando em temas, uma das expectativas do público para o álbum era de que fosse mais um conjunto de músicas de “sofrência”. O single “Última vez” – uma canção em formato de crônica que retrata um momento de “remember” entre um ex-casal – reverberou muito nas redes, de encontro a essa expectativa. Contudo, para Tim, não é sobre ser uma música de sofrência ou não, mas sobre transmitir uma verdade.
“Eu sempre quis fazer uma coisa que eu sentisse que fosse verdadeira para mim. O “Recomeçar” [primeiro disco] marcou um repertório que ficou guardado por muito tempo. E depois de seu lançamento acabei gostando muito disso, de canções do coração. Este novo álbum segue esse padrão de serem canções de coração, mas eu não to cantando de coração só de assuntos românticos. Mesmo quando eu estou falando de assuntos existenciais ou abstratos, até poéticos, eu estou falando com amor de alguma forma.”
Talvez seja essa a essência que diferencia Tim Bernardes de muitos que tentam abordar o assunto do amor e caem na mesmice. E isso o destaca quando o assunto é o “futuro da MPB”, em que ele é um dos artífices. Como resultado visível disso acompanhamos suas colaborações nos últimos anos, com nomes como Jards Macalé, Maria Bethânia, Erasmo Carlos e Gal Costa.
Para resumir, tem sido incrível assistir a Tim Bernardes neste momento, crescendo tanto no Brasil como lá fora.
Entende who the f•ck Tim Bernardes é?
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* Por: Carolina Andreozzi. Edição: Lúcio Ribeiro
* As fotos de Tim Bernardes usadas neste post são de Marco Lafer & Isabela Vdd
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