Veredito: o disco novo do Muse e a teoria do “f*da-se”

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* A gente precisou ouvir algumas vezes para “entender” onde Matt Bellamy quer ir com este novo álbum da banda inglesa Muse, lançado sexta passada. O poploader Fernando Scoczynski Filho tem uma teoria boa.

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Finalmente está entre nós o oitavo disco do Muse, “Simulation Theory”. A banda, que sempre foi genial ao vivo, apontava para uma genialidade similar em estúdio até o quarto LP, “Black Holes & Revelations” (2006). Depois, começou a oscilar: cada lançamento conseguia acrescentar algumas músicas boas ao repertório, mas vinha recheado de material totalmente esquecível. O último LP, “Drones” (2015), mesmo marcando um retorno ao rock cheio de riffs, não foi exatamente um sucesso entre os fãs, nem com a imprensa musical. Depois de tantos anos de críticas, é apenas lógico que “Simulation Theory” viria a ser o disco em que o Muse ligou o foda-se. Com o perdão da palavra, claro.

Explicamos: desta vez, não soa como se a banda estivesse tentando um som “mais pop”, “mais épico”, ou mais qualquer coisa, senão “mais Muse”. A faixa de abertura, “Algorithm”, é um synth pop à la trilha sonora do filme “Drive”, mesclada com uma pegada orquestral, e é exatamente como você imaginaria o Muse fazendo esse som.

Em seguida, “The Dark Side” continua sendo o óbvio destaque que já era quando saiu como single. A forma como Matt Bellamy canta o verso “I hail from the dark side”, exagerando ao enunciar “darkkkk”, é o perfeito exemplo da atitude que permeia o disco. A capa obviamente inspirada nos anos 80 não é acidente nenhum: tudo isso é um exagero consciente, o que norte-americanos gostam de chamar de “campy”. As despretensiosas “Thought Contagion” e “Pressure”, que também foram singles, se encaixam ainda melhor quando inseridas nesse contexto. É o tal do foda-se, em ação, fazendo bem ao disco, levando a música onde precisa ir para ser divertida.

Aqui na Popload já frisamos que os flertes do Muse com um som mais eletrônico e pop não são exatamente o problema da banda – a quantidade de breguice é o problema. Qualquer seja o estilo que o Muse adote numa música, há vezes que eles conseguem ficar num nível aceitável de breguice (referências: Queen e Depeche Mode), e as que não conseguem (referências: Bon Jovi e Savage Garden). Em “Simulation Theory”, acontecem os dois, claro, mas de uma maneira mais complexa.

A introdução de “Propaganda” é o tipo de coisa que merece vídeos de reação em redes sociais. Uma mistura absurda de um riff e um loop vocal que remete a “Rockit” de Herbie Hancock, só que bem mais absurdo e ridículo. Daí a música em si alterna entre esse loop e um pop estilo Justin Timberlake; de repente, entra um solo de violão com slide, tipo trilha sonora de faroeste. É provavelmente a coisa mais esdrúxula que você escutará em 2018. Antes do ouvinte ter tempo para assimilar isso tudo, entra “Break It to Me”, que mistura guitarras do Rage Against the Machine com vocalizações indianas e sintetizadores de filmes de invasão alienígena. E, veja só, não estamos dizendo que isso tudo é necessariamente ruim. É, no mínimo, engraçado.

Ao mesmo tempo que o Muse se comprometeu a deixar as músicas absurdas bem absurdas, também deixou as chatas bem chatas. Já comentamos na Popload o horroso single “Something Human”, com cara de Chainsmokers; agora, este vem acompanhado da insuportável “Get Up and Fight”, que parece um cover infeliz de 30 Seconds to Mars. Em todo disco da banda também há aquelas faixas praticamente indistinguíveis: você, fã de Muse, consegue lembrar algum trecho de “Explorers”? Ou do refrão de “MK Ultra”? Ou de qualquer coisa de “Aftermath”? É bem provável que você também não lembrará de “Blockades” e “The Void” daqui a algum tempo. É o foda-se, em ação, criando músicas que você quer pular.

Mas, ao mesmo tempo, o Muse não ligou o foda-se, porque se deu ao trabalho de incluir no disco versões alternativas para nove de suas 11 faixas. Enquanto algumas são meras releituras acústicas, destacam-se as versões “Alternate Reality” para “Algorithm” e “The Dark Side”, que sugerem a interessante hipótese de um Muse que continuasse fazendo o som épico da era “Absolution” (2003).

Já “Dig Down (Acoustic Gospel Version)” é genial, e surpreende ao exibir um Muse com tamanho bom gosto e auto-controle – chega a superar a versão normal do disco. Com a facilidade absoluta de criar playlists nos aplicativos de streaming, qualquer um pode fazer um mix do álbum como quiser, inserindo as versões que bem entender, e removendo “Get Up and Fight” da face da Terra.

A liberdade artística do Muse pode ter seu custo em músicas ruins, mas, no fim, é uma delícia. “Simulation Theory” é o disco mais divertido da banda nesta década, causando as reações mais extremas: há as músicas muito boas, as muito ruins, e as muito ridículas. Pode não ser o melhor trabalho da banda, mas, para um oitavo álbum, é melhor que algo seguro e medíocre. Finalmente, um saldo acima da média.

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Postado por Lucio Ribeiro   dia 12/11/2018
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