U2 reimagina mal suas músicas no superlançamento “Songs of Surrender”. Os enormes Bono e The Edge se apresentam no minúsculo Tiny Desk

Saiu hoje o disco de releituras do U2, “Songs of Surrender”, contendo 40 “reimaginações” novas de músicas clássicas (e não-tão-clássicas) da colossal banda irlandesa, com quase três horas de duração.

Basicamente, é uma coletânea em que todas as músicas foram regravadas, do zero, com uma instrumentação nova e ocasionais mudanças nos arranjos. Todas as fases da discografia estão representadas ali, desde as faixas mais conhecidas (“Sunday Bloody Sunday”, “One” etc.), até aqueles títulos mais recentes que você bate o olho e pergunta, “‘Lights of Home’ é música do U2? Em que disco isso apareceu?”

Se você esperava ver releituras interessantes e modernas, sentimos muito, mas são apenas versões acústicas. Algum fã chato do U2 pode querer argumentar que há instrumentos elétricos no disco, mas a essência de “Songs of Surrender” é de um disco acústico, com apenas os elementos mais básicos de cada faixa representados. Vocal, violão, piano, quem sabe um baixo. Percussão? Quase nada. Aliás, é ironicamente apropriado que Larry Mullen Jr. está sumido neste disco, porque também estará sumido na próxima turnê do U2. 

Afinal de contas, essas músicas reduzidas apenas ao seu formato mais básico ficaram boas? Em sua maior parte, não. Ficaram chatas, sem empolgação, sem a emoção que normalmente carrega o som do U2. É uma pena, pois a banda aprendeu a utilizar o estúdio e a produção com tanta excelência no decorrer de sua carreira, mas aqui entrega um som seco, cru, sem sal, entediante. São versões novas, mas não trazem inovação alguma.

É até interessante ouvir “The Fly” desconstruída, ou “Bad” com menos efeitos de guitarra, mas todas as músicas em “Songs of Surrender” perdem para as originais, além de não acrescentarem nada de muito valor às composições.

Não trazem uma perspectiva nova, não realçam algo que estava anteriormente oculto no som – são só versões básicas. Pode-se dizer que trabalhos mais recentes do U2 (os esquecíveis “Songs of Innocence” e “Songs of Experience”) seriam os mais merecedores de releituras, quem sabe a fim de melhorar algumas de suas músicas com potencial, mas todas as representações deles em “Songs of Surrender” são tão entediantes quanto, ou até mais, que as originais.

Também pode-se dizer que o disco “Pop” (1997) merecia uma segunda chance para algumas de suas músicas, mas só é representado por “If God Will Send His Angels”, e também perde para a versão de mais de 20 anos atrás – que já não era uma das mais interessantes do disco.

Se você realmente tem interesse em ouvir U2 com uma perspectiva diferente, experimente o disco “AHK-toong BAY-bi Covered”, de 2011, com artistas diferentes interpretando todas as faixas do clássico “Achtung Baby” (1991). Tem Nine Inch Nails, Patti Smith, Garbage, Depeche Mode e The Killers, e você geralmente não encontra nos serviços de streaming. Se gosta de U2 e ainda não ouviu, agora é a hora. Melhor que passar quase três horas com “Songs of Surrender”.

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* A maior banda do mundo no menor lugar do mundo para se apresentar. Daqui a pouquinho Bono e The Edge vão se apresentar no famoso programa americano virtual Tiny Desk Concert. Dá para assistir daqui a pouco aqui embaixo, quando entrar no ar.


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