Novas rotinas, novas tendências. Se você ainda não sabe, é de um garoto chamado Batata Boy que surge um disco que ilumina toda uma nova geração da música brasileira – feat. por feat. Geração que não tem medo de ser exatamente o que é: só reparar nas produções de outras aparições da nossa listinha, como Mundo Video e Meu Nome Não é Portuga. Aprenderam as lições de quem veio antes, como o sempre incrível Madrid, que está de volta na praça.
“MAGICLEOMIXTAPE (Quando Vê, Já Foi)” é o novo disco solo de Batata Boy, ou Leonardo Acioli – um dos produtores mais inventivos de sua geração! Solo, naquelas, o disco é um acúmulo de encontros do músico com uma turma que conversa com seu modo de pensar música: Bruno Berle, Ana Frango Elétrico, Vitor Milagres, Jadsa, Dadá Joãozinho, Alici e outros nomes. É quase um “quem é quem” da novíssima cena brasileira, uma resposta para quem acha que anda tudo muito parado na área. “(Quando Vê, Já Foi)” é o subtítulo perfeito porque é isso mesmo que rola na audição da mixtape. Tipo 29 minutos que passam voando através de canções curtas e de caráter hipnótico, pela velocidade dos beats, pelo movimento circular proposto nos versos. Sem querer comparar, mas para dar a dimensão do que tá rolando, se o Tom Jobim fizesse beat em vez de tocar piano ia ser mais ou menos assim, sabe?
O truque é velho, mas caímos feito patinhos. “COMO VOCÊ ME VÊ”, faixa que abre o álbum estreia do duo carioca Mundo Video, formado por Vitor Terra e Gael Sonkin, acaba de maneira tão inusitada que você fica procurando se o seu computador ou celular está com problema. Fosse na era do CD era o caso de voltar na loja e pedir para trocar. Essa brincadeira que tira o ouvinte do conforto acaba sendo uma boa tradução da dupla. Ela é pop, trabalha em um território conhecido, mas sempre tem alguma coisinha que parece fora do lugar e chama muito atenção – tem momentos que é o timbre da guitarra mais estridente, outra hora os backings vocals que parecem ter vindo de outro tempo/espaço. Funciona à beça.
Por falar em peças que parecem fora do lugar, o que dizer de Meu Nome Não É Portugas, a negativa que é nome artístico de Rubens Adati? A curiosidade que o nome puxa se espalha pelas deliciosas vibrações levemente nostálgicas puxadas pelo compositor. É mesmo como se o mundo fosse começar outra vez, como ele faz questão de avisar em um dos versos da boa “Céu e Mar”, um dos muitos pedaços bonitos de (atenção para o nome) “Perdi Minhas Pernas em Shangri-La”, seu segundo álbum.
Olha quem está de volta! A duplinha Adriano Cintra e Marina Gasolina em seu formato Madrid. “Eu Não Ligo, Eu Finjo” é toda docinha nos vocais e no arranjo básico que camuflam uma letra bem menos doce de alguém que pasou por muitas e já desistiu de algumas convenções e muitas outras coisas. Amadurecer é o nome disso, né?
Na capa do EP “Est…”, Kamau aparece sozinho em um quarto, só com o indispensável. Entre os poucos elementos, um colchão, toca-discos, uma MPC e um computador. Produzido todo por ele com apoio de poucos músicos, o EP transmite mesmo esse ar de feito em “Casa”, o lugar no mundo onde ele estiver. Da produção minimalista, salta as letras maximalistas características dele – cheias de elementos e segredos que capaz que levem anos para desvendar.
Sítio Rosa é o nome do projeto e do primeiro álbum da turma formada por Jennifer Souza, Bernardo Bauer, Julia Baumfeld e Laura Lao, uma produção mineiríssima (ou quase) que começou na pandemia no acolhedor sítio de Laura. E acolhimento é a palavra que ressoa por todas as calmas canções dessa estreia. É um ambiente tão solto, tão sítio por assim dizer, que os cachorros passam, se ouve o barulhinho do vento expresso nas plantas e as crianças às vezes dão uma canja enquanto correm para a próxima brincadeira. Um disco feito no mato e que leva o mato para qualquer lugar que você queira. É música capaz de amenizar um calor brutal e seco de São Paulo, saca? Em algum período do mesmo dia em que esteja frio.
O rap de Edgar sempre é particular. Sua preferência é por deslocar as ideias do lugar, deixando tudo torto, a ponto de a cena do rap até fazer cara feia de vez em quando. Mas se cara feia, para nós, é fome, desta vez Edgar vem com um som com uma pegada bem tradicional e uma letra que é tiração de onda total. “Não é para pensar, é para se jogar na pista”, ele diz. Bem dito!
Julia Zatt é uma jovem do Rio Grande do Sul que brinca em sua minibio que é uma “cantora e compositora com dificuldade em se colocar numa caixinha”. Seus singles lançados até aqui são mesmo muito diferentes entre si, perambulando às vezes entre um pop mais clean, outro mais denso, como nesta “Visceral”, que explora bastante “uma sexualidade feminina mais real e menos performática”, como descreve Julia, que agora está em São Paulo estudando Artes Cênicas. Artista para ficar de olho.
Das muitas encarnações da tradicionalíssima banda Forgotten Boys, praticamente uma instituição da música underground brasileira, nenhuma parece tão no lugar quanto a atual com Gustavo Riviera, Zé Mazzei, Dionísio Dazul e Chuck Hipolitho – especialmente por Chuck ir para a bateria, seu instrumento principal, ainda que seja um guitarrista tremendo também. E desse lugar de sossego interno, muito alimentado pela experiência da estrada, “Click Clak” soa despretensiosa e leve.
Fazendo um forte remelexo de rock, punk, música psicodélica e até MPB, o jovem grupo de rock Naimaculada, que tem na bateria um herdeiro do punk brasileiro, o jovem Pietro Benedan, filho de João Gordo, tem força para sacudir a cena. É tão doido que chega a lembrar um pouco de Lobão e Cazuza, mas passando longe de soar oitentista, por exemplo.
11 – Rodrigo Campos – “Amar à Distância” (6)
12 – Thalin, VCR Slim, Cravinhos, Pirlo, iloveyoulangelo – “Todo Tempo do Mundo” (7)
13 – Livia Nery – “Tempo de Mistério” (8)
14 – Momo. – “Rio” (9)
15 – Tuyo – “Dógui” (10)
16 – Rancore – “Quando Você Vem” (11)
17 – Giovani Cidreira – “Feira do Rolo” (com Vandal) (12)
18 – Rodrigo Amarante – “In Time” (13)
19 – Curumim – “Só Para no Paraibuna” (15)
20 – Jean Tassy – “Dias Melhores” (com Don L) (17)
21 – Jonathan Ferr – “Lugar ao Sol” (com Orquestra Ouro Preto) (18)
22 – Jards Macalé – “Olho de Lince” (com Waly Salomão) (20)
23 – Tássia Reis – “Só um Tempo” (com Criolo) (21)
24 – Papangu – “Rito de Coroação” (22)
25 – Zé Manoel – “Canção de Amor para Johnny Alf” (23)
26 – Ale Sater – “Final de Mim” (24)
27 – Liniker – “Me Ajude a Salvar os Domingos” (25)
28 – Swave – “Sirene” (26)
29 – Maria Beraldo – “Matagal” com Zélia Duncan (27)
30 – Caxtrinho – “Cria de Bel” (28)
31 – Bruna Mendez – “Temporal” (29)
32 – Thiago França – “Luango” (com Marcelo Cabral e Welington “Pimpa” Moreira) (30)
33 – Varanda – “Vida Pacata” (31)
34 – Vitor Milagres – “Um Barato” (32)
35 – Bebé, Rei Lacoste, Giovani Cidreira e Tangolo Mangos – “Sem Ódio na Pista” (34)
36 – Apeles – “Fragment” (35)
37 – DJ Anderson do Paraíso – “Madrugada Fria” (37)
38 – Alaíde Costa – “Foi Só Porque Você Não Quis” (38)
39 – Exclusive os Cabides – “Coisas Estranhas” (39)
40 – Chico Bernardes – “Até Que Enfim” (40)
41 – TRAGO – “Porvir” (41)
42 – Vivian Kuczynski – “Me Escapo a Cuba” (42)
43 – Papisa – “Vai Passar” (43)
44 – Antônio Neves – “Dinamite” (44)
45 – Mateus Fazeno Rock – “Madrugada” (45)
46 – Julia Branco – “Baby Blue” (46)
47 – Taxidermia – “Clarão Azul” (47)
48 – Mirela Hazin – “Delírio” (48)
49 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (49)
50 – Pabllo Vittar – “Pra Te Esquecer” (50)
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o incrível Batata Boy.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.