Top 50 da CENA – Semana de muito amor neste ranking, graças a Gabriel Ventura, Dadá Joãozinho e Jovens Ateus. Tudo bem que nem sempre são amores tranquilos

Intensidade é a palavra que resume o Top 50 da semana. Gabriel Ventura vem falar de paixão que dá certo, enquanto os Jovens Ateus (sim, esse é o nome da banda) tratam de paixões que não dão tão certo assim. Nostalgia é outra tônica na lista e está presente nos timbres de dadá joãozinho e na canção de Cátia de França que Josyara chama a Pitty e recupera para si. Amor, lembrança, dor e saudade. Prepare seu coração. Bom, nesta semana temos o “Valentine’s Day”, de algum modo.

“Hoje eu vi fogos de artifício do quintal” é o abre misterioso de Gabriel Ventura em “Fogos”. Será o Ano Novo ou será um gol de um time? No Brasil, pode até ser gente comemorando a eleição de candidato fascista. Vai saber. Pode ser até anúncio de facção. Mas estamos indo longe na imaginação. Se a letra faz mistério, o som conta uma história mais reta (ou quase isso). Guitarrista habituado a investir na barulheira, Gabriel transpõe essa intenção de lugar. O ruído escapa do som e vai para o arranjo, que fica partido, solto, mas todo delicado. E é essa dança que faz “Fogos” soar viva. Hum, acho que entendemos, viu? Talvez os fogos que ele viu do quintal não seja algo tão literal assim. É o coração dando avisos. Ou não é nada disso também. Na dúvida, mais um play.

Um timbre nostálgico acolhe a gente em “Landa”, novo single de Dadá Joãozinho, parte de seu próximo EP, “1997”. Nesse carinho, uma música dedicada a sua bisa, Dadá compartilha fotos de sua infância, registros da família. Primos, tios e avós aparecem. As recordações são muitas, mas surgem embaçadas pelo tempo e pela memória. Afinal, fotografias envelhecem, vão se apagando. Fora que os registros antigos não estão nos melhores papéis. Encontrar uma recordação com foco, então, é uma luta. Nesse passeio pelas memórias, Dadá se dá conta que agora é responsa dele manter aquele amor ancestral vivo. “Pode ser delírio ou mania minha, mas acredito fazer o que está na minha mão pra abrir olhos e ouvidos dos filhos de Landa”, escreve o artista de Niterói. E, sim, há uma conexão aqui com o Bad Bunny. Talvez acidental. Engula esse zeitgeist!!

Por falar em fotos antigas e memórias, esse também parece ser o combustível da turma paranaense Jovens Ateus. Não na temática, mas no som. Se alguém descobrir que “Passos Lentos” foi, na verdade, registrada em 1986, nós acreditamos. A faixa, que estará em “Vol. 1”, estreia em disco cheio da banda, carrega aquela melancolia pesada. Afinal, estamos falando de uma música que começa com o seguinte verso: “Perco memória de contato humano e honestamente, estranho”. Precisa explicar mais? 

“AVIA” vem aí. Será o terceiro álbum de Josyara. E a primeira mostra do novo trabalho é uma versão para uma bela canção de Cátia De França, presente no sempre redescoberto “Vinte Palavras ao Redor do Sol”, de 1979. O disco de Cátia era a companhia certa de Josyara no período em que chegou a São Paulo, dez anos atrás. Eram aquelas músicas que reconectavam ela com a sua Juazeiro, Bahia. Agora “Ensacado” se torna um pouco sua, com o arranjo original reimaginado apenas com seu violão poderoso e o violoncelo de Federico Puppi. Outro reforço é a amiga Pitty na voz – elas já tinham feito juntas uma regravação de “Anacrônico”. A produção do álbum é de responsabilidade da própria Josyara e de Rafael Ramos. Além de “Ensacado”, vem aí mais nove sons inéditos, algumas composições em parceria com outros artistas da cena. Chega em abril.

 Arthus Fochi e a dupla Cajupitanga, de Vitória da Conquista, outros baianos bons, mostram mais um fruto da conexão de propostas artísticas tão diferentes entre si. Arthur com seu violão ao modo tradicional e cajupitanga investida no experimentalismo. Um jogo que anda dando bom nos singles lançados até aqui. Vira álbum em breve. Acompanhemos de perto! 

Se a ansiedade é a tônica dos nossos dias, o alagoano Nyron Higor quer inverter isso. Seu segundo álbum, que leva o nome do artista, joga o astral para a tranquilidade. Produção compartilhada com seus camaradas Bruno Berle e Batata Boy, as faixas são divididas entre temas instrumentais curtos e canções idem. Um dos baratos aqui é o material deixar os timbres falarem mais alto que as melodias, que não deixam de ser belas, mas vão jogar sabiamente recuadas, em função do time, para ficar na analogia com o futebol. Nyron parece ser virtuoso na calma, no menos. Mas longe de ser minimalista. Em resumo, discão. Diferente. 2025. 

Marcelo D2 não cansou da busca pela batida perfeita, mas renomeou a pesquisa. Desde “Iboru”, lançado em 2023, a procura é pelo tal do novo samba tradicional. Um nome que Marcelo arrumou ao trocar a ordem dos fatores na sua forma de compor. Não é mais rap com elementos de samba. Agora é samba com elementos do rap – samba com grave mais forte, deixa de ser sample e passa a usar sample. É mais ou menos por aí. Nessa pesquisa, o novo TCC de D2 é um resumo da ópera: “Manual Prático do Novo Samba Tradicional  usa a nova lógica para revistar clássicos do samba (“Maneiras”, “Delegado Chico Palha”, “Nascente da Paz”) e do seu próprio material (“A Maldição do Samba”, “Desabafo”). Exige bons fones para uma experiência completa. Se pá, o lance é ouvir no carro. Alguém dá uma carona aí? Tamo chegando com o disco novo do D2. 

A gente já falou um pouco de “Diamantes, Lágrimas e Rostos pra Esquecer” por aqui, mas é preciso falar mais. Como não pensar no álbum sem pensar no efeito Evinha? Dois samples da cantora aparecem no disco (em “Só Quero Ver” e “Cacos de Vidro”) e são de longe o material mais compartilhado da obra nas redes sociais. O fenômeno não é por acaso. Ao recortar a voz de Evinha do samba “Só Quero”, faixa do seu álbum “Cartão de Postal”, de 1971, e colar em uma base mais melancólica, mais grave e nostálgica, BK e Deepakz parecem ter encontrado um lugar perdido no coração de geral. Na música pop, não é preciso dar só espaço para festa ou dor de corno. Ainda cabe falar de dor de amor com elegância.

E, se cabe falar de partida com elegância, também cabe falar do encontro da mesma forma. E é assim que o Celacanto, banda formada por Eduardo Barco, Giovanni Lenti, Matheus Costa e Miguel Lian – sim, ele é irmão da Luiza -, se apresenta ao mundo. “Cedo” é o primeiro single deles, que já roda ao vivo pela CENA. É uma ode bonitinha aquele momento de “Mesmo com tudo diferente/ Veio meio de repente/ Uma vontade de se ver”. Brilha em especial a guitarra com som de sintetizador. Quem já ouviu o disco completo jura que está lindo. Olho neles. 

Ouvir Jamés Ventura é ter uma aula de rua, de saber como as coisas realmente são, de como o papo realmente anda. Fora que seus versos não são de graça: cada linha esconde mais um significado, um artigo raro em tempos tão literais. Por isso que no underground do rap brasileiro não tem mistério: ele é o cara. Um dos poucos que pode nomear um álbum como “Em Nome das Ruas” sem ser cobrado depois.

11 – Superafim – “Sorry” (6)
12 – Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro – “Nova Era” (8) 
13 – Heal Mura – “Wu Wei” (9)
14 – BK – “Só Eu Sei” com Djavan e Nansy Silvvz (10)
15 – Tátio – “Longe De Mim” com Zeca Baleiro (11) 
16 – Jéssica Linhares – “Samba do Sonhador” (11) 
17 – Julia Mestre – “Sou Fera” (12) 
18 – Rei Lacoste – “Sem Paz” (13) 
19 – Cícero – “Tempo de Pipa” (14)
20 – Menores Atos – “Pronto pra Sumir” (15)
21 – Panteras Venenosas – “Ai Que Saudade” (16) 
22 – Igor de Carvalho – “Pra Te Esquecer” (17) 
23 – Terraplana – “Charlie” (18)
24 – BaianaSystem – “A Laje” (19)
25 – Maré Tardia – “Já Sei Bem” (20)
26 – Bem Gil – “Sobe a Maré” (com Domênico Lancellotti) (22)
27 – Thiago França e Rodrigo Brandão – “Young Lion” com Sthe Araújo e Edgar (23)
28 – Tasha & Tracie, Emcee Lê – “Randandan” com Delli Beatz (24)
29 – B.art – “Nêgo/Correnteza” (25)
30 – João Gomes e Gilberto Gil – “Palco” (26)
31 – Vitor Milagres – “Um Barato” (27)
32 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (28)
33 – Negro Leo – “Me Ensina a Te Castigar” (29)
34 – Tássia Reis – “Sol Maior” (30)
35 – Maria Beraldo – “Colinho” (31)
36 – Thalin, VCR Slim e Cravinhos… – “Todo Tempo do Mundo” (32) 
37 – Supervão – “Androids” (33)
38 – Liniker – “Me Ajude a Salvar os Domingos” (34) 
39 – Paira – “O Fio” (35)
40 – Dora Morelenbaum – “Venha Comigo” (36) 
41 – Amaro Freitas – “Viva Naná” (37) 
42 – Hoovaranas – “Fuga” (38) 
43 –  Luiza Brina – “Oração 18 (Pra Viver Junto)” (39) 
44 – Exclusive Os Cabides – “AAAAAAAAA” (40) 
45 – Sofia Freire – “Autofagia” (41)
46 – Curumin – “Só para no Paraibuna” com Nellê (42)
47 – Jean Tassy e Don L – “Dias Melhores” (com Iuri Rio Branco) (43)
48 – Crizin da Z.O. – “Acelerado” (44)
49 – Papisa – “Melhor Assim” (45)
50 – Caxtrinho – “Cria de Bel” (46)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o cantor e músico fluminense Gabriel Ventura, sob foto de Raphael Barbanjo .
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro Vinícius Felix.

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