Top 50 da CENA – Rodrigo Campos e Romulo Fróes levam o amor ao primeiro lugar. Amiri traz seu limbo para segundo. Duda Beat esquenta o pódio, em terceiro

Mais uma semana quente. Inclusive na música brasileira. E uma semana de muita classe, viu? Em sambas, em raps, em um jazz abrasileirado, em canções que tocam na balada vazias prestes a lotarem. Que beleza a CENA!

No reflexo de uma poça d’água surge a dupla Rodrigo Campos e Romulo Fróes, parceiros de longa data em mil projetos, mil fitas, mas que finalmente lançam juntos um disco em dupla. Um disco preenchido por silêncios, graves, sombras, mas colorido pela conexão única de uma amizade traduzida em nove faixas – amizade tamanha que aparece bem nas participações especiais de Marcelo Cabral, Anna Vis e Thiago França. Discão. Musicaça.

Amiri é dos melhores rappers brasileiros. Se não está tão em evidência ou tem os números de outros nomes da CENA, azar da CENA. Ancorado na parceria com Dercky Cabrera, Amiri constrói em “Limbo” uma longa reflexão sobre a maturidade que lhe alcança com a idade. Percepções da infância revistas com o olhar do adulto, que agora entende sutilezas de violências sofridas. Tudo isso com uma caneta própria, sem lugar comum, sem ideia repetida. Amiri merece sua atenção. 

Após se meter direta ou indiretamente em duas polêmicas tortíssimas, a gente estava com saudade da Duda Beat em assuntos estritamente musicais, digamos. E ela voltou fervendo. Com uma pegada visual meio Madonna em “Vogue”, tudo em preto-e-branco chiquérrimo e uma sonoridade mais noturna. Gostamos bem. 

E por falar em sonoridade noturna, a metáfora cai como uma luva na nova canção do Apeles, uma parceria bonitaça com Gustavo Bertoni e YMA. Vale ler o texto (no insta do @_apeles) que o músico e produtor Hélio Flanders fez e que acompanhou o lançamento da música, sobre uma personagem que dança em uma festa sozinha. Coisa linda.  

Com paciência estratégica, a cantora Giovanna Moraes vem percorrendo um caminho de mudança profunda em seu som, desde que apareceu há alguns anos cantando em inglês uma quase-MPB. A a direção de sua sonoridade e de sua personalidade musical foi indo cada vez mais para o rock! Mas tanto, que às vezes parece caricato, de tão genuíno que é/está. Se nos shows a transformação já se mostra completa, nos lançamentos ela solta à conta-gotas as músicas dessa nova etapa, aliando cada novidade com vídeos que viralizam ao provocar amor e ódio. “As Mina No Poder” cutuca os reacionários do gênero – no vídeo oficial da música, a provocação ainda é ampliada ao pegar emprestado toda uma estética de coreografias pop para a faixa roqueira. 

O talentoso músico Nelson D, indígena amazonense europeu italiano paulistano, bota seus beats engenhosos em direção do protesto, mais uma vez. Botou sua voz para focar em palavras a ideia de que os indígenas são “‘defensores da floresta’ de uma forma muito equivocada, como se ser defensor da natureza fosse algo muito poético e romântico”. Basicamente, um technopunk amazonense com causa forte. Rave com “rage”? Nelson D é atração do Primavera Sound São Paulo semana que vem, em apresentação ao lado do rapper Edgar.

Bruno Berle começa a dar sequência a seu álbum “No Reino Dos Afetos”, lançado ano passado. Após um 2023 mais dedicado aos palcos e a levar sua música mais longe – tão longe que chegou aos ouvidos do cantor-ator V, do grupo coreano BTS. Ao lado de seu fiel escudeiro, o também brilhante Batata Boy, Bruno Berle vem em uma fase mais sincopado e com onomatopeias que lembram um tiquinho seu ascendente joão gilbertiano (pense em “Undiú”) – mas que também já aponta por mais e mais caminhos, do violão encorpado e brilhante em agudos até a voz que flui por um beat denso e moderno. Certeiro. Sai logo, disco novo.

O amadurecimento deixa suas marcas, não é mesmo? E é de olho nelas que o Dead Fish chega ao décimo álbum (!!!), descontando discos ao vivo e coletâneas, uma marca histórica. Tamanha experiência deixa a banda redondinha – soando melhor do que nunca em uma música que carrega doçura e amargor. 

A rapper carioca Ebony provocou o caos na cena de rap nacional ao provocar diversos nomes (e seus fãs) em uma faixa quentíssima. A diss (o ato frequentemente usado no hip hop para expor e insultar uma pessoa ou um grupo de cantores) rendeu discussões acaloradas no Twitter, ou X, e remexeu com egos. Aquela cutucada pontual na situação da cultura que muita gente leva sem razão para o lado pessoal. Vamos se alguém responde ou se vão deixar quieto.  Ebony lançou seu álbum “Terapia” agora em outubro. E esta “Espero Que Entendam”, que não está no disco recém-lançado, está só no Youtube, por enquanto.

Radicado na Itália, o duo Wolfgig, formado por Larissa de Almeida e Vitor Rangel, é brasileiríssimo e pode nos representar lá fora nessa ascensão do pop cabeçudo ligado em bossa nova. Um charme desse primeiro single do casal é o toque meio cabaret influenciado pelo Arctic Monkeys em sua fase adulta hoteleira, se é que me entende. Entre brincadeiras com o andamento e construção de harmonias intrincadas, é como se eles gritassem: “Make Classical Music Cool Again”.

11 – Jaloo – “Pra quê amor?” (5)
12 – DJ RaMeMes, DJ Pretinho de VR, DJ Ramom, DJ LC da VG – “Putaria em Volta Redonda” (6) 
13 – Viratempo – “Tropical 08” (7)
14 – Papisa – “Melhor Assim” (8)
15 – YOÙN e Carlos do Complexo – “Não Vou Dançar Sozinho” (9)
16 – Tuyo – “Eu Vejo o Futuro” (10)
17 – Ana Frango Elétrico – “Boy of Stranger Things” (13)
18 – E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante – “Ausente” (15)
19 – TUM – “Rainha da Sumaré” (18) 
20 – Fabiana Cozza e Leci Brandão – “Dia de Glória” (19)
21 – Monna Brutal – “Esse Puto” (20) 
22 – Gab Ferreira – “Hustle” (21) 
23 – MC Carol – “Só de Passagem” (22)
24 – Romulo Fróes e Rodrigo Campos – “Cidade Trovão” (23)
25 – Rodrigo Ogi – “Aleatoriamente” (24) 
26 – Assucena – “Reluzente” (25)
27 – MADRE – “CAOS” (26)
28 – Tangolo Mangos – “Poca” (27)
29 – My Magical Glowing Lens – “Sobrevoar” (28)
30 – Mãena – “Meditação” (30)
31 – Alaíde Costa – “Ata-me” (31)
32 – Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo – “Quem Vai Apagar a Luz” (com Negro Leo) (32)
33 – Alzira E + Corte – “Filha da Mãe” (33)
34 – Don L – “Lili” (com Terra Preta e AltNiss) (34)
35 – Varanda – “Vontade” (35)
36 – dadá Joãozinho – “Pai e Mãe” (36)
37 – Karen Francis – “Linha do Tempo” (37)
38 – Clarice Falcão – “Podre” (38)
39 – Xande de Pilares – “Diamante Verdadeiro” (39) 
40 – FBC – “O Que Te Faz Ir para Outro Planeta?” (40)
41 – Mateus Fazeno Rock – “Pode Ser Easy” (41) 
42 – Lirinha – “No Fim do Mundo” (42)
43 – Ava Rocha – “Disfarce” (43)
44 – Zudizilla – “Tempo Ruim” com Don L (44)
45 – Jadsa e YMA – “Mete Dance” (45)
46 – ÀIYÉ – “OXUMARÉ (Viridiana Remix)” (46)
47 – Rico Dalasam – “Espero Ainda” (47) 
48 – Troá! – “Que Pena” (48)
49 – Marcelo D2 – “Tempo de Opinião” (com Metá Metá) (49)
50 – Luisão Pereira – “Licença” (com Luíza Nery) (50)

***
*  Na vinheta do Top 50, o reflexo de Rodrigo Campos e Romulo Fróes.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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