Top 50 da CENA – Ranking mata a saudade de Karina Buhr, o single mais ou menos novo de Rico Dalasam e a dança do patinho do BNegão

Entre cartazes, saudades e guitarras companheiras, os singles da semana brasileira falam de passado, presente e futuro com músicas inéditas e/ou refeitas. Nosso bálsamo semanal. 

Karina prepara a sucessão de “Desmanche”, seu álbum do distante 2019. Saudades de novis dela? O primeiro single da jornada de agora é justamente sobre saudade, a saudade boa de rever uma velha conhecida, que mudou um pouco, mas não mudou nada. Um sentimento que todo mundo que ama alguém ou um lugar sabe bem que bate depois de um tempo distante. Coisas da vida em trânsito. Ou como explica a cantora: “Eu sempre estive em trânsito, de mudança, de um canto a outro, me sentindo completamente em casa em muitos lugares e também uma sensação de estar sempre indo e quase nunca voltando pra casa”. “Poeira de Luz” tem letra e música de Karina, e arranjo compartilhado por ela, Ubiratan Marques (Orquestra Afrosinfônica) e João Meirelles (BaianaSystem). Tudo feito na beleza de Salvador.

“Cartazes” é uma música que Rico Dalasam já vinha antecipando em seus shows. Agora virou single. Um single sobre “o desejo de sumir dentro do imaginário social”, pontua o rapper. Nessa reflexão sobre encontros e partidas, ficamos pensando também em “catarses”, algo que Rico promove em seus espetáculos. Será que cabe essa interpretação?

Entre a volta do Planet Hemp e mil projetos, BNegão deixou de canto sua jornada solo com Os Seletores de Frequência, parceria que rendeu três discos. Agora em 2024 ele lança seu mítico primeiro álbum solo. “Metamorfoses, Riddims e Afins” estava previsto para 2021… Bom, tudo em seu tempo. Com dez faixas, o material traz músicas inéditas, mas também revisita bons momentos dos tempos de Seletores. Um deles é a icônica “A Verdadeira Dança do Patinho”, que surge atualizada na letra (que fala de milicos, Fiesp e outras tretas) e com a presença do BaianaSystem, que tirou a velocidade da original e aumentou o peso. 

Voltamos ao Supervão e seu disco novo, porque fomos obrigados. Disco de uma música grudenta atrás da outra, o novo álbum da banda gaúcha Supervão segue nos fazendo escolher uma faixa preferida a cada escutada. A da vez é esta maneiríssima balada com participação especial da Papisa, de SP, que compôs a letra junta com os rapazes do Sul que comandam a Supervão. Seria perfeita para ser o tema romântico do casal da novela das 9, se o mundo fosse justo.

A morte de Tom Jobim completou 30 anos em 2024. Nesta marca, Arthur Nestrovski e Paula Morelenbaum produziram juntos seis videoaulas para a revista “Piauí” onde investigam nuances da obra do maestro. O projeto ganha um desdobramento com “Jobim Canção”, álbum que de alguma forma compacta a experiência. É dez canções de Tom, indo da produção dos anos 1950 (“Cala, Meu Amor”, “Caminhos Cruzados” e “Eu Não Existo sem Você”) até os anos 1990 (“Piano na Mangueira). Resultado: uma aula extra e tanto. Um verdadeiro guia nos moldes de “para gostar de Tom Jobim”.

Luiza Pereira, ex-INKY, comprou uma guitarra durante a pandemia e fez do instrumento novo sua parceira, compondo um mar de novas canções. O produto desse período virou sua primeira manifestação solo como MADRE. O primeiro disco da nova fase, o bem bom “VAZIO OBSCENO, também funciona ainda como uma manifesto contra a predação do streaming. O álbum ficara disponível nas plataformas por apenas seis meses, depois só na edição física. 

Em um verdadeiro estudo sobre a nostalgia, o Supervão fez agora o disco que o Strokes falhou em fazer lá em 2013 – quando tudo começou a dar errado e a banda e sua geração entraram num beco sem saída. Parece exagerado, mas é uma tese legal para “Amores e Vícios da Geração Nostalgia”. A banda gaúcha, que já teve muitas caras, tem na jornada atual do Mário Arruda, Leonardo Serafini, Olimpio Machado e Rafaela Both um time que decididamente neste novo disco decidiu encarar a questão central de sua geração: vivemos fora do nosso tempo? Por que o passado e a repetição são tão atraentes? As perguntas que surgem nas letras também se formam no som. O humor da banda se traduz na tirada proposta em “Noia York”, feita todinha de diferentes pedaços de Arctic Monkeys – no riff, na estrutura, nos versos. Não são jovens copiando o passado, é uma banda ativamente pensando sobre as razões de o novo não ter nascido ainda. Filosófico demais? Gostamos demais. 

Ter banda é coisa de jovenzinho? Que nada. O Pullovers é a prova. O grupo paulistano, que desapareceu pouco depois do primeiro álbum em 2009, em um momento em que seus integrantes se viram adultos e sem muita grana por conta de uma cena independente muito menor que a atual, decidiu voltar agora. Todos com carreiras estabelecidas fora da música, famílias formadas e uma relativa paz. Luiz Venâncio, guitarrista, vocalista e principal compositor, por exemplo, hoje é professor. Como as coisas são, né? Hoje ele lida em sala de aula com uma geração que descobre o Pullovers lá de 2009, através do hit tardio de Tik Tok “Tudo Que Eu Sempre Sonhei”. Dá para dizer que esse choque acaba sendo um dos motores da filosofia por trás de “Vida Vale a Pena”, o primeiro trabalho da banda em 15 anos. O álbum o tempo todo entra em questões adultas seríssimas que acabam por dialogar com as dores existenciais que todos têm muito jovenzinhos. “Não Se Mate”, inspirada em Camus, é o recado de que a vida sempre vale ser vivida – recado que se volta para a banda em si. Valeu esperar 15 anos, deixar a vida correr e voltar a ser um grupo capaz de fazer um novo disco. Daqueles casos em que o professor ensina o que ele mesmo pratica.  

Voltando de um hiato um pouquinho menor, mas também sabendo reler seus passos, o duo paulistano Antiprisma está de volta com seu terceiro álbum, “Coisas de Verdade”. “Eu não tenho pressa”, cantam Elisa Moos e Victor José, que definem o disco como uma coleção de canções que são o que deveriam ser. Eles não quiseram abrir qualquer margem para modismos ou fórmulas “que dão certo”. E o discurso é sério, tanto que no disco tem uma música de oito minutos. 

Ao modo de uma samba-enredo que poderia ser de Gonzaguinha pelo que tem de crítico e de esperançoso, a letra de Danilo Penteado em parceria com César Lacerda é um dos pontos altos de “DaPé”, segundo álbum solo de Danilo. De forma quase conceitual, o disco passeia por outras variações do samba e traz entre os presentes uma parceria inusitada de Danilo com Gilberto Gil. Inusitada porque a composição é fruto da pesquisa de Danilo na obra do baiano, que encontrou uma letra perdida sem música e terminou o trabalho, devidamente chancelado por Gil. Aliás, vale caçar o perfil de YouTube de Danilo, onde ele compartilha mais seus estudos avançados na obra gilbertiana.   

11 – BADBADNOTGOOD, Tim Bernardes e Arthur Verocai – “Poeira Cósmica” (4)
12 – IZA – “Cry Me a River” (6)
13 – Thanya Canela – “Desembola” (7)
14– Boogarins – “Corpo Asa” (8)
15 – Nina Maia – “Caricatura” (9) 
16 – Paira – “Preciso Ir” (10) 
17 – Zeca Baleiro e Wado – “Avatar” (11)
18 – João Erbetta – “Pra Esquecer da Solidão” (12)
19 – Naïf – “Trópicos Úmidos” (13)
20 – Submerso – “Estrago Que Me Faz” (14)
21 – Janine Mathias – “Barracão É Seu” (com Criolo) (15) 
22 – Amiri – “Rap Du Bom” (com DJ Will e O Adotado) (16) 
23 – Maria Luiza Jobim e Mahmundi – “Insensatez” (18) 
24 – Dora Morelenbaum – “Venha Comigo” (19)
25 – Maria Beraldo – “Baleia” (20)
26 – Gio – “O Samba e Você” (com Céu) (22)
27 – Batata Boy – “Novas Rotinas” (com Vitor Milagres) (23)
28 – Mundo Video – “COMO VOCÊ ME VÊ” (24)
29 – Sítio Rosa – “Amarelo” (25) 
30 – Thalin, VCR Slim, Cravinhos, Pirlo, iloveyoulangelo – “Todo Tempo do Mundo” (27)
31 – Curumim – “Só Para no Paraibuna” (28)
32 – Jean Tassy – “Dias Melhores” (com Don L) (29)
33 – Tássia Reis – “Só um Tempo” (com Criolo) (30)
34 – Papangu – “Rito de Coroação” (31)
35 – Liniker – “Me Ajude a Salvar os Domingos” (34)
36 – Caxtrinho – “Cria de Bel” (35) 
37 – Bruna Mendez – “Temporal” (36) 
38 – Thiago França – “Luango” (com Marcelo Cabral e Welington “Pimpa” Moreira) (37) 
39 – Vitor Milagres – “Um Barato” (38)
40 – Apeles – “Fragment” (39)
41 – Alaíde Costa – “Foi Só Porque Você Não Quis” (40) 
42 – Exclusive os Cabides – “Coisas Estranhas” (41)
43 – TRAGO – “Porvir” (42)
44 – Vivian Kuczynski – “Me Escapo a Cuba” (43)
45 – Papisa – “Vai Passar” (44)
46 – Antônio Neves – “Dinamite” (45)
47 – Mateus Fazeno Rock – “Madrugada” (46)
48 – Julia Branco – “Baby Blue” (47)
49 – Taxidermia – “Clarão Azul” (48)
50 – Mirela Hazin – “Delírio” (49)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a cantora Karina Buhr.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.


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