Top 50 da CENA – O top é da e pra Liana Padilha. O Haroldo Bontempo cava um pódio. A Tássia Reis chega com mais que um refrão em terceiro

Nesta semana o Top 50 obviamente é dedicado a Liana Padilha. Figura chave na CENA brasileira. Talentosa, atuante em todas as frentes, marcou gerações e influenciou geral, com sua banda ou além dela – seus artistas favoritos têm Liana como referência, pode apostar. Celebremos sua obra.

Perdemos a incrível Liana Padilha. Com o NoPorn, Liana foi presença constante neste Top 50 e em muitos e muitos posts por aqui durante muitos e muitos anos. Na pandemia, sentou com a gente para falar sobre sua aventuras. Da pequena revolução da noite paulistana chamada Xingu ao seu projeto-banda NoPorn, influenciou e fez a cabeça de nomes como o CSS e a Letrux. Para entender Liana, basta dar uma olhada no que escreveram artistas como a própria Letrux, Jup do Bairro, Filipe Catto e Marina Lima. Liana é daquelas raras pessoas que todo mundo amava sem restrição. E pela sua obra sabemos quanto amor ela oferecia. Esse amor segue. 

Haroldo Bontempo é um jovem músico mineiro que começou no rock com a banda Mineiros da Lua. E em carreira solo avançou para outros gêneros. É tão jovem de tudo que tem como o ídolo o superjovem Dinho, do Boogarins. Ah, esses garotos… Por falar em garotos, no EP novinho do Haroldo rola um feat. com o eterno João Donato, em uma faixa que se chama “Risada”. Curioso o título, afinal, tão inesquecível quanto o piano de Donato só a risada gostosa do mestre. Uma música para sorrir feliz da vida.

No rap, tem um lugar problemático onde as minas às vezes só são convidadas para fazerem o refrão de uma música. Versos e estrofes ficam com os caras. Tássia Reis avisa: “Eu posso ser mais que refrão, eu posso ser canção inteira”. O recado tem via dupla, é uma analogia para relacionamentos. E talvez você conheça esta música de outros carnavais: a faixa se chamava “No Seu Radinho”. Sua nova cara e nome fazem parte do EP “Bem Longe do Fim”, feito para celebrar os dez anos de carreira de Tássia.

Se as ruas de São Paulo têm algum profundo conhecedor, esse é Jota Ghetto. Mestrão da rima, o homem da voz grave mais marcante do rap nacional investiga no EP “Recolhimento” a masculinidade preta. Ele mesmo dá a senha para melhor compreensão da obra: “A premissa desse EP é deixar de lado a figura masculina preta que é estereotipada nas ruas, nos filmes, nos cargos de trabalho, nos relacionamentos, na literatura, na política”. “Michael B. Jordan na Fila do CAT”, com seu título que poderia ser uma manchete sensacionalista, aborda exatamente o assunto, com Jota perguntando a Alex o que é branquitude e depois o que é negritude – entre as duas perguntas, sua experiência de vida e das dores que passou.  

É dia de poliamor, avisa Deize Tigrona. O resto da letra alguns vão considerar impublicável – a gente “respeita” os puritanos, até porque o play vai ser muito mais saboroso do que nossa mera reprodução – e sabemos que até eles vão clicar. São Paulo é isso aí – e aqui vamos juntos com Deize em um longo dia pela cidade com complemento psicodélico dos Boogarins, deixando a música deliciosamente despedaçada.

E, por falar em chocar puritanos, eles também vão tremer com o novo single da multiartista e referência da cultura ballroom Jujuliete. Acompanhante de Badsista, Juju coloca em dosagem descontrolada de funk e house um pouco de sua liberdade e atitude – e com um sotaque interessante, meio brasileiros/meio global. Ela avisa: “É sobre vivência e realidade, contextos da minha própria realidade e da comunidade de onde venho”. E para quem manja pouco sobre ballroom saiba que Jujuliete está bem de boa em Paris neste momento, como parte de um júri com ícones do ballroom, no chiquérrimo Chaillot Théâtre National de la Danse. Foda.

Parte de seu próximo trabalho de estúdio, uma reunião de artistas do mundo todo, “In God’s Hands” é o novo single de Apeles, que vem acompanhado novamente por um supertexto de Hélio Flanders, diretor musical do novo projeto. “Toda busca é vã sem o objetivo, dizia o Eclesiastes. Toda busca é pecaminosa, dizia vó Glória. Toda busca é o grande objetivo, dizia seu coração”, escreve Flanders ao falar de uma procura descrita em vídeo e música por Apeles em parceria com a cantora portuguesa/britânica Bernardo. É noite, pista de dança, carro que acelera. Estamos perto de lá? “Evening looks the same to me/ The city looks the same to me”.

Fazia tempo que a gente não escutava uma música com uma historinha tão apaixonada e divertida. “Quem é Juão”, parte do novo álbum do talentoso Jota.pê, “Seu o Meu Peito Fosse o Mundo”, é uma verdadeira pequena comédia romântica sobre um compositor que sempre tenta levar a melhor com suas canções, mas as coisas não sabem bem como ele esperava. Daquelas músicas leves que pedem um repeat e botam um sorriso bobo no rosto. Um feito que não é para qualquer um.

“Delta Estácio Blues”, álbum solo de Juçara Marçal e um dos melhores lançamentos de 2021, segue rendendo. Após ganhar um EP com faixas que não couberam na obra, vem aí um disco de remixes que promete elevar a obra “do funk ao techno, do amapiano ao industrial, apresentando um panorama diverso, marcado por processos de reconstrução e reinvenção das faixas originais”. O primeiro gostinho dado é a reconstrução do DJ Ramemes para a faixa “Ladra”, canção que é de autoria de Tulipa Ruiz. A gravação original já carregava um tanto de remix, digamos, ao trazer Juçara, a partir da própria voz, criando sua própria Tulipa. Um processo de imaginação, já que a própria Tulipa ainda não gravou sua versão de “Ladra” e talvez nunca grave, mas Juçara foi Tulipa ali buscando o estilo vocal da cantora. Um processo para lá de interessante e que se amplifica em sentido com Ramemes picotando a gravação original dentro de uma batida densa de funk. Ramemes mexe com a voz de Juçara e também reescreve a letra de Tulipa com inserções, deixando a “Ladra” dentro de um baile do Ramemes. Achamos mídia, para ficar no bordão do DJ. Música só no Bandcamp dele, aqui.

O pianista Amaro Freitas, do grandioso “Sankofa” de 2021, chegou com “‘Y’Y’, trabalho que é fruto de  suas andanças por Manaus e de uma conexão sua com os Sateré-Mawé, comunidade daquela região. Tanto que é dessa ponte que vem o título. Y’Y no dialeto indígena Sateré Mawé significa “água ou rio”, explicou Amaro. Exímio contador de histórias, Amaro não traz do seu rolê novidades para o piano. Na verdade, ele leva o piano para dentro da floresta e carrega a gente junto – uma habilidade de transportar ao modos de Naná Vasconcelos, homenageado aqui. É como se o ouvinte estivesse na beira do rio, percebendo o cenário, vendo a rotina – mais que isso, o piano vira o próprio rio em determinado momento e mergulhamos como Amaro. Através da participação de músicos do mundo inteiro, como Jeff Parker, Aniel Someillan, Brandee Younger e Shabaka, Amaro reconfigura tudo – o centro do planeta terra e a chave para um possível futuro estão aqui. Brasil.

11 – Sofia Freire – “Autofagia” (7)
12 – Papisa – “Amor Delírio (com Luiza Lian)” (8)
13 – Carne Doce – “Cererê” (9)
14 – Bruno Berle – “Dizer Adeus” (10)
15 – Emicida – “Acabou, Mas Tem” (11)
16 – Caetano Veloso – “La Mer” (12)
17 – A Balsa – “Rede Social” (13)
18 – Tuyo – “Paisagem (com Luedji Luna)” (14)
19 – El Presidente – “Perigo no Sol (com Benke Ferraz)” (15)
20 – Kamau – “Documentário” (16)
21 – Sofia Freire – “Mormaço” (17)
22 – Josyara – “Ralé/Mimar Você” (18)
23 – Mahmundi – “Estácio, Holly Estácio” (19)
24 – BNegão – “Canto da Sereia” (20)
25 – Maria Maud – “02.02” (21)
26 – Pitty – “Femme Fatale” (Ao vivo) (22)
27 – Madre – “Sirenes” (23)
28 – Ayrton Montarroyos – “Peter Gast” (24)
29 – Guerra – “É Massa” (25)
30 – Céu – “Coração Âncora” (26)
31 – Raidol – “Imensidão” (27)
32 – Rodrigo Campos – “Gamei” (28)
33 – Thami – “Deixa Queimar” (29)
34 – Jup do Bairro – “Amor de Carnaval” (30)
35 – Jorge Aragão com Rappin Hood – “Mafuá” (31)
36 – Zarolcomzê – “Magnerwoura” (32)
37 – Luedji Luna e Xênia França – “Lua Soberana” (33)
38 – Chinaina – “Roubaram Minha Jóia” (34)
39 – Dead Fish – “11 de Setembro” (35)
40 – Pabllo Vittar – “Pede pra Eu Ficar (Listen to Your Heart)” (36)
41 – Jambu – “Lentamente” (37)
42 – Vandal – Violah (38)
43 – Clara Bicho – “Luzes da Cidade” (39)
44 – Parteum – “’12 6 10” (40)
45 – Psirico – “Música do Carnaval” (41)
46 – GRIYÖ – “Afropenobeat” (42)
47 – Rico Dalasam – “Jovinho” (43)
48 – Ogoin & Linguini – “Quando Tudo Começou” (44)
49 – Marabu – “Algo Me Diz” (45)
50 – Wado – “Dente D’ Ouro” (46)


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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a querida Liana Padilha.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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