Top 50 da CENA – O menino Jards Macalé traz Bethânia ao topo. Marina Sena emplaca o segundão. Mateus Fazendo Rock fazendo rock fecha a conta

A nossa Cena é/está de tirar o fôlego. OK, a gente fala isso aqui toda semana. Mas é que estes últimos sete dias vieram com discaços dos mais diversos: um artistas oitentão com fôlego de menino, uma menina fenômeno com a esperteza de uma velha sábia e um jovem que resolveu inventar um movimento interessado em refundar o rock no Brasil. Oi?

O novo disco de Jards Macalé é sobre o amor. Amor enquanto ato político. Não confunda com a política rasteira praticada nas assembleias do país. A palavra política aí é no sentido do conjunto de práticas que modulam nosso dia a dia. Logo, na filosofia de Jards, ação constante para viver é amar. Assim pensa Jards, assim temos que pensar. E é sempre muito bom ouvir ele e sua voz por “Coração Bifurcado”, mas o que acontece no nosso coração com a chegada de Maria Bethânia no álbum solando em “Mistérios do Nosso Amor” é de outro mundo. A canção de Jards com Ronaldo Bastos, parceirinho novo de Macalé, derruba qualquer um. Daquelas canções que parecem que sempre existiram.  

Marina Sena não deitou no próprio sucesso. Arregaçou as mangas e foi atrás de trabalhar para fazer valer o sucessor de sua impactante estreia, “De Primeira”. Em vez de repetir a bem-sucedida fórmula do primeiro álbum, que pensou uma MPB a partir de uma produção muito influenciada pela música eletrônica; Marina foi investigar trap, reggaeton, drill, triphop e outras tendências eletrônicas na raíz. Em “Vício Inerente”, a música eletrônica não é um dos veículos que comporta a canção: é sua base. Em outras palavras, é um álbum menos pensando ao violão e mais feito 100% com a cara fritando numa telinha de notebook. Essa mudança de sonoridade combina com a mudança estética proposta; menos vermelho, mais azul, menos praia e campo, mais cidade e seu cinza. Mas os assuntos da música não mudaram tanto assim. O padrão de vida melhorou, mas as tretas são as mesmas. A maioria do papo ao longo de “Vício Inerente” é pegação, obsessão e idas e vindas amorosas. Lógico que tem alguns pés na bunda – tomados ou dados – mais dados, parece. Até por isso brisamos em “Meu Paraíso Sou Eu”, uma canção curtinha que pode ser lida de duas maneiras interessantes – a mais óbvia seria Marina se livrando de um relacionamento tóxico e se priorizando, outra leitura mais viajada é que essa pausa no álbum representaria um momentinho de prazer a sós consigo mesma, sabe. Viagem nossa? 

“Rock de favela”, anuncia Mateus logo na abertura de seu novo álbum, “Jesus Ñ Voltará”. Não é só um bordão, “rock de favela” é uma ação de Mateus. Se o rock no Brasil sempre foi muito branco e burguês, Mateus pega o gênero para contar outras histórias, mais plural. Mais próximo do que o rock foi na sua origem, calcula o artista. No novo álbum, ele busca revelar “como são os desafios que a gente conta para estar vivo, continuar vivo, querer continuar vivo e gostar de estar vivo”, conforme escreve. Nesta “Indigno Love”, por exemplo, Mateus subverte a concepção de lovesong de guitarras limpas para construir uma crítica certeira na discrepância social que permeia tanto as relações de afeto mais profundas até minúcias da cena artística.

A dupla Tim Bernardes e Rodrigo Amarante nos parece tão óbvia que soa maluquice a gente não ter visto ela em ação antes. Começou a circular nesta semana um vídeo em que Tim e Rodrigo tocam juntos “Leve”, que Tim lançou em seu álbum “Mil Coisas Invísiveis” e ainda não tem no streaming pra gente playlistar. Não é um encontro profissa, é mais os dois batendo um papo ao violão na sala de casa – com Rodrigo meio que aprendendo a canção de Tim alli enquanto tocam. É bonito. Um fã encontrando o ídolo e descobrindo que o ídolo é seu mais novo fã.

“Radio, what’s new?”, já perguntaram por aí. E Lirinha responde essa pergunta com uma rádio toda sua, uma rádio cósmica, sua rádio cabeça, talvez, para puxar a ideia de outro poeta. Essa é a viagem de “MÊIKE RÁS FÂN”, o mais novo álbum solo do compositor, seu terceiro disco solo e o primeiro em oito anos. Um disco que pesquisa rádio, palavras e corpo – “o campo é o corpo” foi a sacada que motivou esta canção feita para uma causa para lá de nobre: inaugurar o campo Dr. Sócrates dentro da Escola Florestan Fernandes, espaço do MST em Guararema, no estado de São Paulo. De se imaginar que o próprio doutor Sócrates, filósofo que só, concordaria com a sacada e seus múltiplos significado, já que campo pode se referir a agricultura ou ao campo de futebol e por aí vaí. Bom demais.

A turma do “Rap, falando” causa no rap nacional. Um verdadeiro “hub de entretenimento”, sua produção se desdobra entre a criação de memes, podcast e vídeos no YouTube. Agora essa turma se arrisca a colocar alguns raps na rua ao armar uma coletânea com um nome bem instigante, digamos: “Músicas para Sair na Mão”. Para vender a ideia da coleta, o primeiro single junta Tasha & Tracie com Mc Luanna em uma produça do 808 Luke. Linhas de soco, literalmente. 

A arte visual maluca distópica do artista Eduardo Mauss, @ashtararte_w3irdtrip, dá o tom da parceria relâmpago de Edgar e Nelson D. Envoltos pelas pirações visuais com inteligência artificial, a dupla precisa de 1 minuto e 40 segundos para dar seu recado em versos que são um “f*da-se” gigantesco que abraçam uma curtição. “Eu não sei você mas eu/ Eu já to cansado/ Só tenho três palavras/ Aperta o baseado”.

“SRAMBA”. Sim, é nessa grafia torta que o multiinstrumentista Domenico Lancelotti chega para mais um álbum solo. “Até o sol se levantar vamos cantar”, entoam Domenico e a portuguesa Marcia. A letra escrita em parceria com o irmão Alvinho é daquelas que bota na força de um samba a esperança de dias melhores. A solução está no sramba. 

Aqui na Popload já cobrimos várias fases da cantora e multiinstrumentista Giovanna Moraes, ultimamente mais cantora e performer. Sua fase gringa, sua fase meio indie-jazz, a onda nova-MPB… Ultimamente ela anda muito roqueira e vem fazendo um barulhinho bom. Foi encontrando seu caminho mesmo depois que a pandemia acabou e foi marcando show atrás de show. Seu novo single deu uma viralizada no TikTok com pequenos vídeos dela se chacoalhando pelas ruas sem medo de ser feliz. É uma porrada daquelas. Chapamos nesse verso: “E tudo aquilo que você pensa que me deu/ Oh honey baby quem pega sou eu”. Muito bom. Estamos aqui na espera pelo álbum, que vai se chamar ““Fama de Chata”.

“TRANSES” é o segundo álbum da ÀIYÉ, projeto solo da não-mais-só-baterista Larissa Conforto. É um disco de encruzilhada, como ela afirma. Mas a encruzilhada aqui não é de dúvida, é de conexão – Larissa faz caber em um disco estilos e gêneros que muitos acreditam que não podem andar juntos. Mas aqui Clara Nunes pode dar as mãos para Rosalía em uma belo passeio. “Amar é mudança” e “que os venenos sejam mel”, indicam “OXUMARÉ”, um date consigo mesma, como afirma Larissa. Combina com o álbum que canta sobre abrir os olhos e os sentidos para tudo o que o mundo permite. Menos restrição, corda, área VIP. A estrada não é de mão única, muito menos uma só.  

11 – Julia Mestre – “do do u”  (6)
12 – Aláfia – “Cadê Meu Pai?” (7)
13 – Os Tincoãs – “Oiá Pepê Oia Bá”  (8)
14 – Burnier e Cartier – “Minha Mãe Não Sabe de Mim” (9)
15 – João Gilberto – “Rei sem Coroa” (versão ao vivo no Sesc Vila Mariana, 1998) (10)
16 – Iara Rennó – “Iemanjá” (11)
17 – Juliano Gauche – “Ondas Que Acordam” (12)
18 – Pato Fu – “Fique Onde Eu Possa Te Ver” (13)
19 – YMA e Jadsa – “Meredith Monk” (14)
20 – Emicida e Chico Buarque – “Senzala e Favela” (15)
21 – Rei Lacoste – “Pareando” (com Dunna) (16)
22 – Gio – “Dois Lados” (com Russo Passapusso e Melly) (17)
23 – Ludmilla – “5 contra 1” (18)
24 – Sant – “SSA” (com Luedji Luna e VANDAL) (19)
25 – Bike – “Filha do Vento” (20)
26 – Selvagens à Procura de Lei – “O Verão Passou, Mas o Sol Continua Aqui” (22)
27 – Gab Ferreira – “Forbidden Fruit” (23)
28 – Jambu – “Caso Sério” (24)
29 – Alice Caymmi – “Desfruta” (25) 
30 – Getúlio Abelha – “Voguebike” (26) 
31 – Terraplana – “Me Encontrar” (27)
32 – Mahmundi – “Sem Necessidade” (28) 
33 – Cícero – “Longe” (29)
34 – Kamau – “Classe” (30)
35 – César Lacerda – “Nítido Cristal Puro” (31) 
36 – Carolina Maria de Jesus – “O Pobre e o Rico” (com Nega Duda) (32)
37 – Rodrigo Campos – “Atraco” (com Mari Tavares) (34) 
38 – Rubel – “Lua de Garrafa” (com Milton Nascimento) (35)
39 – Assucena – “Nu” (36)
40 – Sessa – Vento a Favor” (37) 
41 – MC Tha – “Coisas Bonitas” (com Mahal Pita) (39)
42 – Bin Laden e Gorillaz – “Controllah” (40)
43 – Pabllo Vittar – AMEIANOITE (com Glória Groove) (41) 
44 – Tagua Tagua – “Pra Trás” (43)
45 – Nina Maia & Chica Barreto – “Gosto Meio Doce” (44) 
46 – Chico César – “Ligue o Foda-se” (45)
47 – Maria Beraldo – “Truco” (47)
48 – Jonathan Ferr – “Preterida” (48) 
49 – Mu540 – “Jatada Nostálgica Automotiva” (49) 
50 – Sara Não Tem Nome – “Agora” (50)

* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, Jards Macalé, em foto de Leo Aversa.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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