Semana passada, só teve hômi nessa lista. A gente ficou se perguntando: onde foi que erramos? Talvez não fosse culpa nossa, era só que as minas estavam se preparando para amassar nesta semana. Singles novos de três artistas da CENA que amamos de paixão e que estão esquentando os motores para seus lançamentos. Vem.
Desde sua estreia com o brilhante “Olho de Vidro”, lá em 2021, Jadsa não saiu exatamente de férias. Fez coisas com YMA e também com seu projeto TAXIDERMIA. Mas este single “Big Bang” é sua retomada solo, anunciando um disco que vem por aí – o nome do álbum será “Big Buraco”. O single é caprichado: além da música em si ganhamos de uma vez uma faixa instrumental dele e também uma versão ao vivo. A produção é compartilhada entre Jadsa e Antônio Neves, que trouxe seu trombone para a música. A letra tem a ver com retorno. No caso, o retorno de Jadsa a São Paulo com o fim da pandemia. Ela ficou por Salvador durante o longo período de terror provocado pela covid-19 e na volta para o Sudeste ficou pensativa sobre o que queria da vida e do trabalho, mas sempre com fé na música, sua maior parceira. Apesar desse aspecto superpessoal, os desejos de Jadsa são os nossos também: “Indefinidamente viver bem, comer bem, dormir bem, falar legal”. Não é mole, mas vamo que vamo, juntos. E o caminho fica melhor cantando com ela: “Eu quero ser o que rolar pra mim/ Quero, de querer, de estar a fim/ Fazendo o certo independentemente/ Indefinidamente”.
Chico César, em entrevista para o “Toca UOL”, tentou definir Josyara como uma mistura de Baden, Gil, João Bosco e Djavan só que tudo melhorado. Faz sentido. O mix de Josyara é bem particular e poderoso. E o barato é que sua aventura artística começa a traçar novos caminhos sonoros, como vemos nos singles “Corredeiras” e “Sobre Nós”, onde seu violão passa a compartilhar mais o protagonismo, sem deixar de ter sua marca única. Nossa escolhida, “Sobre Nós”, é composição dela com Pitty, que também estará no álbum novo cantando junto na versão de “Ensacado”, de Cátia França. “Avia”, terceiro álbum de Josyara, chega no mês que vem. Que seja a ponte para mais e mais gente conhecer Josy.
Para quem não sabe ainda, Clara Bicho é a nossa poploader Clara Campos, que você deve ter visto nos posts da “CENA Viva”, nossa mais nova seção. Mas não é só por isso que ela está aqui, óbvio. É por conta da maravilha de suas músicas fofas e principalmente seu novo single superpop com participação da Sophia Chablau. As vozes da dupla se encaixam perfeitamente nesse pensamento alto sobre o início da vida adulta e seus misteriosos caminhos _ fase que Clara e Sophia compartilham. A música antecipa o EP que ela prepara ainda para este semestre. Um outro detalhe do som é a banda base da track: parte da Pluma (Diego Vargas, Lucas Teixeira e Guilherme Cunha) com os guitarristas Gabriel Campos, irmão de Clara, e Felipe Martins, do Grilo. Que moral da Clara!
Expandindo suas conexões com o pop brasileiro, Rael traz para o seu álbum “Onda” nomes como Ivete Sangalo, Ludmilla, Luedji Luna e Marina Sena. É um movimento que ele toma aos poucos, disco a disco. Ao levar sua bela voz para mais e mais pessoas, Rael não deixa de lado seu lado rapper (e mais crítico também) e homenageia Cassiano ao lado de Brown e Dom Filó na dançante “Onda”, citação que ao mesmo tempo homenageia os Racionais. Os gambés num guenta.
Rock espertíssimo, na linha do post-rock, de Fortaleza é o Leve Passos. A dupla formada por Ayla Lemos e Felipe Couto soltou em 2023 seu álbum de estreia, o bom “Jamais Visto”, e agora começa a preparar a sequência. O tom pop, bom de cantar junto, de “Ecos do Invisível”, se chocam com seus diferentes moods ao longo de oito minutos da canção. Em outras palavras, amamos.
O duo baiano Cajupitanga, de Vitória da Conquista, e Arthus Fochi, brasileiro que vive hoje Dinamarca, nunca se encontraram pessoalmente. E ainda assim lançam juntos o álbum “Próximo”. A colaboração se deu também de forma quebrada. Fochi enviava improvisos instrumentais para o duo retrabalhar. Daí dá-lhe colagens, recortes, sobreposições. A liberdade total para revirar o material explica a diferença entre as faixas, que vão do mais experimental e solto, tipo esta deliciosa “Flamengo”, ou mais canção propriamente dita, como o encerramento “Tiempos de Luz” – que não deixa de ser estranha a seu modo. Para quem reclama da mesmice na música brasileira, ta aí algo que não é lançado todo dia. Um raro encontro de gerações diferentes, Cajupitanga são novatos, Arthus tem uma década de estrada, onde ambos os artistas parecem estar olhando para frente. Mais que isso: para o que ainda não foi feito por ninguém. E, como toda boa ideia ou música, parecia que estava em nós o tempo todo.
Djonga nunca teve medo da peneira, hoje honra o nome no BID e não cogita virar SAF. Entre 2017 e 2021 lançou um disco todo 13 de março. A tradição só foi quebrada em 2022, quando o álbum saiu mais tarde. Aí ele resolveu tomar um ar – em 2023 chegou com uma mixtape e tirou “férias” em 2024. O fôlego ajudou ele a retomar o seu 13 de março em 2025 com “Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto!”. Aludindo a história de Exu, Djonga conta que segue com fome. E as novas conquistas de Djonga estão todas no álbum novo, passando pelo amadurecimento até reflexões sobre coisas que acabaram de acontecer – seu show na abertura da Libertadores ou suas impressões sobre “Ainda Estou Aqui”. Por escrever tanto, Djonga sempre caminhou na linha tênue entre registrar o urgente e o eterno. Talvez seja seu álbum com mais participações de artistas que não fazem rap – Samuel Rosa e Dora Morelenbaum chegam com suas vozes enquanto os Los Hermanos (Sim!) aparecem via sample. E aí tem Milton Nascimento, que gravou sua parte de mãos dadas com o rapper. Imagina aí o tamanho do sonho realizado, lembrando que a estreia de Djonga, “Heresia”, tem sua capa em homenagem à capa do Clube da Esquina. Com tudo isso ele garante que ainda tem fome. Se ele quer mais, nós queremos também. “Só quem não apanhou se sente bem quando agride”.
É um lugar comum falar que os paranaenses do Jovens Ateus soam retrô. A influência pós-punk dos anos 80 grita no som da banda. O legal é que eles legitimam essa ida na outra direção do tempo em outros métodos. Exemplo: quando o vício de todo mundo é acelerar suas músicas de olho no TikTok, eles lançam uma versão “Slowed Reverb”, que dá uma freada brusca na original e deixa “Mágoas” ainda mais soturna. Os caras são diferentes. Mês que vem teremos o álbum de estreia deles. “Vol. 1” vem aí. Queremos!
Ouvir a voz de Danilo Moralles e não pensar no timbre de Ney Matogrosso é impossível. Mas é importante pontuar uma coisa: Danilo lembra o mestre, não soa como cópia, até porque seria impossível. Outro trunfo é a nova proposta sônica nova de Danilo, que projeta em seu segundo álbum um eletrônico leve e fragmentado em forte combinação com a letra peito aberto, derretida. Danilo nu com sua música. Não é música de pista, talvez funcione melhor nos fones, em casa – antes ou depois da balada (ou do amor).
Por falar em pista de dança, é dançando que a esperta turma do Celacanto se livra da dores da alma em “Dançando Sozinho”, segundo single de sua jovem carreira. Para quem não sabe ainda, o Celacanto é um dos segredos (menos) guardados da CENA e está perto de soltar seu álbum de estreia. Como aponta essa novidade, megainspirada em “Weird Fishes/Arpeggi”, obra-prima do Radiohead, eles prometem muito. Ouvidos atentos.
11 – Arnaldo Antunes – “Pra Não Falar Mal” (com Ana Frango Elétrico)
12 – Ogoin & Linguini – “Vícios Que Eu Gosto” (1)
13 – Bufo Borealis – “Urca” (2)
14 – Terraplana – “Todo Dia” (3)
15 – Terno Rei – “Próxima Parada” (4)
16 – Áurea Semiseria e Deize Tigrona – “Isqueiro” (5)
17 – Charanga do França – “Charanga Pagodão” (6)
18 – Marina Melo – “Prometeu” (com Maurício Pereira) (7)
19 – Vera Fischer Era Clubber – “Fantasmas” (8)
20 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (9)
21 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (10)
22 – Nina Becker – “Praia, Cinema e Carnaval” (11)
23 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (12)
24 – Getúlio Abelha – “Toda Semana” (13)
25 – Siba – “Máquina de Fazer Festa” (com Ronaldo Souza) (14)
26 – Gabriel Ventura – “Fogos” (15)
27 – Nyron Higor – “São Só Palavras” (19)
28 – BK – “Só Quero Ver” (com Evinha) (21)
29 – Jamés Ventura – “Noites de SP” (23)
30 – Superafim – “Sorry” (24)
31 – Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro – “Nova Era” (25)
32 – Heal Mura – “Wu Wei” (26)
33 – BK – “Só Eu Sei” com Djavan e Nansy Silvvz (27)
34 – Julia Mestre – “Sou Fera” (30)
35 – Rei Lacoste – “Sem Paz” (31)
36 – Menores Atos – “Pronto pra Sumir” (32)
37 – Panteras Venenosas – “Ai Que Saudade” (33)
38 – Igor de Carvalho – “Pra Te Esquecer” (34)
39 – BaianaSystem – “A Laje” (35)
40 – Maré Tardia – “Já Sei Bem” (36)
41 – Bem Gil – “Sobe a Maré” (com Domênico Lancellotti) (37)
42 – Thiago França e Rodrigo Brandão – “Young Lion” com Sthe Araújo e Edgar (38)
43 – Vitor Milagres – “Um Barato” (39)
44 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (40)
45 – Negro Leo – “Me Ensina a Te Castigar” (41)
46 – Tássia Reis – “Sol Maior” (42)
47 – Maria Beraldo – “Colinho” (43)
48 – Thalin, VCR Slim e Cravinhos… – “Todo Tempo do Mundo” (44)
49 – Supervão – “Androids” (45)
50 – Liniker – “Me Ajude a Salvar os Domingos” (46)
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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a cantora e guitarrista baiana Jadsa, em foto de Alejandro Tafur Fernandéz
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.