Semaninha agitada e emocionada na CENA, hein? Já tem gente pedindo disco do ano – e sim, BK aparece como forte concorrente com um senhor disco. E a gente super entende quem se apressa, mas pede calma do lado de cá. Vamos ouvir com generosidade todo mundo – não é esse o barato de ser fã de música? Vamos entender melhor essa estreia do Superafim? Vamos sacar legal o que é essa parceria da Sophia Chablau com o Felipe Vaqueiro? Vamos que vamos.
No ranking passado, também em alto posto, trouxemos aqui uma música da nova banda Superafim, nada mais é que a junção em dupla de dois ex-CSS, Adriano Cintra e Clara Lima, usando como batismo o nome de uma canção famosa de seu antigo grupo. A música, “Dallas Winston”, foi um lado B achado no Youtube do single “Sorry”, lançado oficialmente hoje como, agora assim, o pontapé inicial do projeto. E que estreia. Se as rádios brasileiras mostrassem mais decência com a música nova, “Sorry” tocaria nos melhores horários, como um verdadeiro hit que é. Com toda essa concepção pop, levada por uma guitarrinha indie contínua maravilhosa e toda a engenharia sonora certeira de Adriano, um pedido de desculpas desses saído da boca de Clara é algo para perdoá-la seja lá qual for o crime que ela cometeu.
O Brasil tem uma nova dupla para chamar de sua. Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro se trombaram numa turnê que reuniu suas bandas, Tangolo Mangos e Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo (SP), e dali saiu uma boa amizade. Agora, juntos com uma supercozinha formada por Marcelo Cabral (baixo) e Biel Basile (bateria), vemos os primeiros frutos musicais da parceria em um single duplo “Nova Era/Ohayo Saravá”. As duas são ótimas, mas nos pegou de jeito estan“Nova Era”, que é de Sophia e tem uma letra muito boa reunindo todas as frases clichês de término de relacionamento. Seria óbvio, se não fosse Sophia. Ao juntar tantos lugares comuns, todos os becos sem saída do amor, chegamos numa canção superoriginal, um hino de término daqueles – será que alguma dupla sertaneja ousaria regravar esta? Ou seriam Sophia e Felipe a própria dupla caipira que precisamos? Questões. Ah, antes que os fãs de assustem, eles se apressam em avisar que os projetos principais seguem normal.
Ex-orquestrador sonoro da incrível e hoje extinta Aldo, The Band, Murilo Faria, o Mura, ou Heal Mura como se auto-batizou, achou em projeto solo uma cura sonora para alguns de seus problemas. E, talvez, para alguns problemas da música em si. Mura lançou nesta sexta-feira seu primeiro álbum sozinho, o “The Limited Repetition of Pleasure”, que de uma certa forma o coloca de novo no caminho musical de onde ele nunca deveria ter saído ao mesmo tempo que traz de volta uma certa inteligência há alguns anos na rota da música eletrônica com cara de indie (ou o contrário). Um exímio pesquisador de sons, com “The Limited Repetition of Pleasure” o Heal Mura botou em disco suas experiências psicodélicas, suas incursões pela Ásia e seu processo pessoal com um curandeiro brasilero. Em resumo, uma viagem absurda para ele. E, agora com o disco lançado, para nós também.
Em “Vida Loka, Pt.2”. Mano Brown pergunta: “Que cê quer? Viver pouco como um rei ou muito como um zé?”. Em “Só Eu Sei”, BK devolve: “Viver muito como um rei, essa é minha resposta”. “Diamantes, Lágrimas, Rostos Para Esquecer”, novo álbum do rapper, carrega os dois lados dessa escolha. É o primeiro álbum de Abebe Bikila Costa Santos após conquistas gigantes – a turnê anterior terminou com um show imenso na Apoteose. Chegar tão longe tem seus benefícios, é raro um artista conseguir a liberação de tantos samples nacionais: Evinha, Trio Mocotó, Luciana Mello, Fat Family, Milton Nascimento e Djavan autorizaram o uso de suas músicas e alguns até aparecem como feat. onde foram sampleados. O lado negativo do trono é a solidão, é se tornar alvo de inveja, é ver companheiros de luta se voltarem contra você. “Ninguém sabe quando o inverno chega/ O topo é areia movediça, que eu nunca me esqueça”. E isso é só uma das camadas desse disco., que ainda vamos dessecar mais e mais.
Músicas que marcam o fim de um relacionamento costumam ser furiosas, a doçura é reservada para o encantamento. Mas o mineiro Tátio, artista gestado no Carnaval de BH, inverte a lógica em “Longe de Mim”, faixa presente em seu novo álbum, “Contrabandeado”. Acompanhado do violão, de cordas e da voz de Zeca Baleiro, a letra com toda calma do mundo deseja que a outra parte fique livre para um novo amor. Um “fique longe de mim” todo carinhoso. Produção do craque Chico Neves.
Jéssica Linhares conta que o trajeto casa/escola/trabalho no transporte público sempre foi seu espaço de criação. Daí que não é estranho que sua estreia leve o nome de “Metrô Pra Outro Mundo”. E são as pessoas em movimento, atrás do sonho pela cidade, que transbordam já no primeiro vagão do álbum, a balançada “Samba do Sonhador”. Lembra um pouquinho as coisas e a abordagem do Maurício Pereira, outro observador da rotina. Se gosta dele, ouça ela.
Julia Mestre segue na sua busca pelo pop radiofônico perfeito – aos moldes desenhados por gigantes como Rita Lee e Marina Lima. Linha de baixo envolvente, climas sugeridos nas guitarras e teclados e letra provocante e afirmativa. Foi assim que elas ensinaram e Julia vai procurando os caminhos de reinventar essa forma em 2025. Sempre acompanhada de filtros retrôs e seu Fiat vermelho. “Modernizar o passado é uma evolução musical”, já cantou Chico Science.
Das mentes mais criativas que rodam na bela Salvador, Rei Lacoste, agora doutor em Artes Visuais pela UFBA, chega com tudo em sua nova mixtape: “O Que Você Ouve/ O Que Houve Com Você”. Com produção dividida entre o próprio Rei e Zepeto, este é seu trabalho mais ambicioso até aqui. Seja pela proposta artística de encarar diversos gêneros (reggaeton, afrobeats, drill japonês, trap experimental, future bass, MPB) ou o peso dos feats. presentes: Dunna, Giovani Cidreira, Bebé, Tangolomangos, Juçara Marçal, Cajupitanga, Davzera, Vênus Não É um Planeta, Clara FSX, Volúpia e Clarisse Lyra. Como destaca o próprio artista, para ser ouvido sendo independente é preciso caprichar. “Competindo com artistas que derramam centenas de milhões de dinheiros de impulsionamento – a gente tem que contar com ouvintes reais e pessoas realmente interessadas. O trabalho tem que ser no mínimo tecnicamente bom. A partir daí podemos pirar na estética”, escreve Rei Lacoste. Olha, esse cuidado funcionou. “Sem Paz” é forte, estrala no ouvido e emociona. Que Bad Bunny o quê, rapaz. Aqui é Rei Lacoste, pô.
A experiência faz bem demais. E é com esse horizonte que o carioca Cícero resolve reinterpretar o melhor de seu repertório em “Concerto 1”, versão de estúdio para o conceito apresentando em shows – voz, violão, sopros, cordas e nada mais. Com mais tempo e espaço, belezinhas como “Tempo de Pipa”, lançada pelo músico em seu primeiro álbum, soam mais relaxadas, abertas e emocionantes.
Dá para entender essa volta ao disco do trio Menores Atos depois de seis ou sete anos, pelo seu título: “Fim do Mundo”. Uma gangorra de sentimentos alimentada por um hardcore mais tentacular, menos “puro”. Isso não é necessariamente ruim. A começar por uma ideia única de disco, contando uma história, indo de “Vazio”, a primeira faixa-vinheta, e terminando com a apoteótica “Fim do Mundo”. É possível ler o turbilhão sonoro atual do trio pela semiótica da escrita do disco, dos nomes da banda e das músicas, algumas no maiúsculo, outras (as vinhetas) tudo em minúsculo, uma hora gritando e chamando atenção, outras meio que ficando na deles, pedindo sossego para pensar. O terceiro disco demonstra que os Menores Atos (tudo em minúsculo) são hoje caras de atos maiores.
11 – Panteras Venenosas – “Ai Que Saudade” (4)
12 – Igor de Carvalho – “Pra Te Esquecer” (6)
13 – Terraplana – “Charlie” (7)
14 – BaianaSystem – “A Laje” (8)
15 – Maré Tardia – “Já Sei Bem” (9)
16 – Dadá Joãozinho – “100 anos” (10)
17 – Bem Gil – “Sobe a Maré” (com Domênico Lancellotti) (11)
18 – Thiago França e Rodrigo Brandão – “Young Lion” com Sthe Araújo e Edgar (12)
19 – Tasha & Tracie, Emcee Lê – “Randandan” com Delli Beatz (13)
20 – B.art – “Nêgo/Correnteza” (14)
21 – João Gomes e Gilberto Gil – “Palco” (16)
22 – Vitor Milagres – “Um Barato” (17)
23 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (18)
24 – Negro Leo – “Me Ensina a Te Castigar” (19)
25 – Tássia Reis – “Sol Maior” (20)
26 – Maria Beraldo – “Colinho” (21)
27 – Thalin, VCR Slim e Cravinhos… – “Todo Tempo do Mundo” (22)
28 – Supervão – “Androids” (23)
29 – Liniker – “Me Ajude a Salvar os Domingos” (24)
30 – Paira – “O Fio” (25)
31 – Dora Morelenbaum – “Venha Comigo” (26)
32 – Amaro Freitas – “Viva Naná” (27)
33 – Hoovaranas – “Fuga” (28)
34 – Luiza Brina – “Oração 18 (Pra Viver Junto)” (29)
35 – Exclusive Os Cabides – “AAAAAAAAA” (30)
36 – Sofia Freire – “Autofagia” (31)
37 – Curumin – “Só para no Paraibuna” com Nellê (32)
38 – Jean Tassy e Don L – “Dias Melhores” (com Iuri Rio Branco) (33)
39 – Crizin da Z.O. – “Acelerado” (34)
40 – Papisa – “Melhor Assim” (35)
41 – Caxtrinho – “Cria de Bel” (36)
42 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (37)
43 – Tuyo – “Devagar” (38)
44 – Rodrigo Campos – “Amar à Distância” (39)
45 – Varanda – “Vida Pacata” (40)
46 – Boogarins – “Corpo Asa” (41)
47 – Batata Boy – “Novas Rotinas” (com Vitor Milagres) (42)
48 – Mu540 – “DZ7” (com Garimpos) (43)
49 – Slipmami – “Eles são Fracos” (44)
50 – Mundo Video – “Perto da Praia” (47)
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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o duo Superafim, Clara e Adriano, ex-CSS, em foto de Laura Taylor, ex-Bonde do Rolê.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.