Top 50 da CENA – No ranking do textão, Rico Dalasam vai expresso ao primeiro lugar. Djonga traz o disco novo e o questionamento. Jadsa não para com as músicas incríveis. E muito mais

Top 50 da CENA – No ranking do textão, Rico Dalasam vai expresso ao primeiro lugar. Djonga traz o disco novo e o questionamento. Jadsa não para com as músicas incríveis. E muito mais Foto: divulgação

1 - cenatopo19

* Vamos sem enrolação ao Top 50 da CENA desta semana, porque, olha, escrevemos bastante desta vez. Nos empolgamos. Ao mesmo tempo que estamos muito sensíveis a tudo que nos acontece à volta. Tem textão para o primeiro lugar, além de outros bem maiores que os nossos tradicionais “recados” nas outras posições. É que os lançamentos da semana pediram. Várias músicas tocando em assuntos delicados em um passo de amadurecimento importante de muitos dos nossos artistas da CENA.

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1 – Rico Dalasam – “Expresso Sudamericah” (Estreia)
Dez anos atrás, artistas do universo LGBTQI+ sofriam muito mais com a invisibilidade do que ainda sofrem hoje. Rico Dalasam com certeza viu de perto parte da atitude de mudança no mercado. Nas TVs e festivais, de repente, todo o jogo estava mais receptivo a artistas antes ignorados. Talvez esse movimento tenha moldado positivamente muitas cabeças, derrubado muitos de nossos preconceitos, mas qual a efetividade dele no todo? Quantas empresas abraçaram essas mudanças de imagem sem abraçarem políticas efetivas de combate a nossa estrutura que marginaliza a população LGBTQI+, por exemplo? Por que passamos a comprar melhor, mas não passamos a votar melhor, para ficar em um só exemplo? Se no público a sensação desse processo já é nauseante – dada a óbvia falta de resultados práticos a partir de um mero “consumismo consciente” -, nos artistas LGBTQI+ a pancada é ainda maior: como pensar em arte nessa lógica que parece muito afeita a vender suas ideias, mas ao mesmo tempo pouco interessada nas consequências delas na transformação da sociedade e na defesa real de seus corpos? Ser artista ou um carreirista? Na briga com essa lógica, Rico, por exemplo, comprou tretas que com certeza não deixaram sua trajetória mais suave. Em 2019, escreveu com preocupação um texto na revista “Carta Capital” sobre algumas de suas aflições quanto a isso: “Nunca esteve tão próxima, e por que não dizer homogênea, a produção cultural que emancipa o povo da produção cultural comprometida em deter o povo”. Seu segundo álbum, esse “Dolores Dala Guardião do Alívio”, o primeiro em quase cinco anos, é um tanto sobre as consequências de passar por esse moedor de almas. Dá para sair mais forte na outra ponta da máquina? Em “Expresso Sudamericah”, por exemplo, Rico versa sobre ter quebrado “a régua que mede” seu talento, que soa como um recado a uma tentativa de moldá-lo em algo mais palatável para o grande consumo, e comenta sobre como seus sonhos gigantes vão muito além de ter hit. “Tô desenhando um coração/ Onde todo dia apagam um monte”, ele escreve antes de se jogar no belo refrão onde localiza sua luta não só no Brasil mas neste “Expresso Sudamericah”, o continente que muitas vezes esquecemos que é o nosso também. E, em um exercício de quebra da quarta parede, ainda no refrão, ele parece olhar para o ouvinte e dizer: “Alô, parceiro passageiro”. Estamos juntos, Rico.

2 – Jadsa – “Lian” (Estreia)
Parece que o disco mais importante da CENA brasileira no ano, aparentemente, está se formando aos poucos na nossa cara, para nossos ouvidos. Até o dia 26, quando “Olho de Vidro” finalmente sai. Dele, a cantora e guitarrista baiana Jadsa emplaca sua terceira música no nosso Top 50. “Lian”, o incrível novo single, tem a participação E É SOBRE Luiza Lian, cantora de SP, de um jeito que Jadsa dá uma espécie de continuação em seu projeto de fazer música boa e ao mesmo tempo referencial à música independente brasileira que já tínhamos observado em “Raio de Sol”, na sexta posição deste ranking.

3 – Djonga – “Eu” (Estreia)
Após ter feito um show durante a pandemia, Djonga teve que lidar com uma campanha de cancelamento brutal. Se por um lado dá para entender bem a decepção dos fãs, de outro é evidente que o revide que ele recebeu por seu erro é desproporcional em relação a sua luta. A perseguição intensa sofrida por Djonga parece casar mais com uma cobrança desnivelada causada em parte por nosso racismo estrutural, que obriga que a população negra precise ser dez, mil vezes melhor. Seu novo álbum, “Nu”, não versa só sobre esse assunto, mas é um tópico que parece estar pelas músicas todas e que foi mais bem resolvida em “Eu”, que tem no refrão o verso: “Humano demais pra ser tão bom pra você”. Como se o rapper mineiro quisesse dizer “Quem te fez tão bom assim?”, parafraseando Mano Brown numa certa música chamada “Negro Drama”.

4 – Lupe de Lupe – “Cabo Frio” (Estreia)
Segundo single da banda mineira, tirado do álbum “Trator”, previsto para sair em maio deste ano pela Balaclava, a faixa “Cabo Frio” não é tão polêmica quanto “Goiânia”, mas nem por isso é mais fácil ou simples. É um relato de dores complicadas de se encarar enquanto crescemos, aquela sensação de desconexão com o resto do mundo que todo mundo parece carregar um pouco em diferentes intensidades. Desta vez quem canta e ilustra a capa do single é Renan Benini.

5 – LEALL – “Pedro Bala” (1)
“Escupido a Machado” é o nome do primeiro álbum do rapper carioca LEALL, uma referência a uma fala do Mano Brown sobre sua história de vida, onde os ensinamentos constroem, mas os erros custam caro. “Pedro Bala”, segundo som do disco, é um pouco sobre isso, mas também sobre o cerco que se apresenta na vida dos jovens negros do Brasil. Um cerco material, mas também do imaginário – aspecto perverso do racismo estrutural brasileiro que consegue culpar suas vítimas na ida e na volta. Embora a referência do título seja do personagem criado por Jorge Amado em “Capitães de Areia”, a gente relembrou aqui do “Pedro Pedreiro” de Chico Buarque, outro personagem da música brasileira que sofre com as questões do imaginário.

6 – Jadsa – “Raio de Sol” (2)
O congraçamento da CENA brasileira em seu momento fértil dos últimos anos se dá à perfeição em “Raio de Sol”, o novo single da guitarrista baiana Jadsa com participações de Ana Frango Elétrico e Kiko Dinucci. Segunda música a ser apresentada de “Olho de Vidro”, o álbum a ser lançado, “Raio de Sol” é tão boa quanto o single anterior, a “A Ginga do Nego”, que você encontra mais abaixo, na sexta posição. E mais cheia de significados. A canção une a musicalidade da Bahia (Jadsa), Rio (Frango) e São Paulo (Kiko). Tem o samba, a MPB de vanguarda, o rock, psicodelia, “lá-lá-lás”, pausa, mudança de andamento. Vem disco do ano – sim, a gente trabalha nesse pique. Sai dia 26.

7 – BNegão – “Salve 2 (Ribuliço Riddim)” (Estreia)
Vem por aí o primeiro disco solo, solo mesmo, do BNegão. Aliás, discos solos. O primeiro deles, que chega no final do primeiro semestre, será um álbum que revisita músicas suas e de outras bandas, como Moleque de Rua, Guará e Ratos de Porão. No final do ano, vem um de inéditas. Marcando o inicio desta nova fase do rapper, sem o apoio dos Seletores de Frequência, ele lançou hoje o single “Salve 2 (Ribuliço Riddim)”, que registra seu mantra mais recente de abertura de shows e lives em um som – e que talvez você reconheça de outro lugar, no caso, “Salve”, que está no disco “O Futuro Não Demora”, do BaianaSystem.

8 – Vanessa Krongold – “Dois e Dois” (Estreia)
Além da bela música do álbum solo da Vanessa, que por quase 20 anos frequentou bandas indies paulistanas como Maybees e Ludov, vale ver o vídeo dela sobre empoderamento do desejo feminino. E que traz cenas de shibari em um olhar contemporâneo para a arte milenar japonesa sobre dominação e submissão em uma possível metáfora mais ampla sobre como lidamos com nossos relacionamentos. Como aqui o lance é mais música que vídeo, recomendamos bem também o som, puro e simples.

9 – Ale Sater – “Peu” (Estreia)
Parte do EP solo que Ale prepara para o dia 19 de março, “Peu” é uma balada levada por um violão delicado que cita oceanos e ilhas. Na música, ele recomenda a esse alguém chamado Peu, mais novo, que o certo a fazer, entre outras coisas, é “compreender a marcha e seguir o jogo”. Peu talvez seja um filho fictício recebendo conselhos de um tutor. Ou será uma conversa consigo mesmo?

10 – Jupiter Apple – “AJ1” (Estreia)
Gravado em 1999, “The Apartament Jazz” é um disco instrumental perdido de Flávio Basso, aka Júpiter Maçã, aka Júpiter Apple. Parte do material se tornou a trilha sonora de um pequeno filme de Júpiter que leva o mesmo nome. Aqui, nesta “AJ1”, ele demonstra sua competência e domínio completo de conceitos do jazz, música eletrônica e sua especialidade, a psicodelia.

11 – Apeles – “Eu Tenho Medo do Silêncio” (3)
12 – Lupe de Lupe – “Goiânia” (4)
13 – Rohmanelli – “Viúvo” (5)
14 – Boogarins -“Far and Safe” (6)
15 – Rincon Sapiência – “Som do Palmeiras” (7)
16 – Monna Brutal – “Neurose” (8)
17 – Luna França – “Terapia” (9)
18 – Yannick Hara – “Antidepressivos” (10)
19 – Ale Sater – “Nós” (11)
20 – Jadsa – “A Ginga do Nêgo” (12)
21 – Sessa – “Grandeza” (13)
22 – Artur Ribeiro – “Fragmentação” (14)
23 – A Espetacular Charanga do França – “Cadê Rennan?” (15)
24 – Garotas Suecas – “Tudo Bem” (16)
25 – Winter – “Violet Blue” (17)
26 – Pluma – “Mais do Que Eu Sei Falar” (18)
27 – Tagore – “Tatu” (19)
28 – Kill Moves – “Perfect Pitch” (20)
29 – DJ Grace Kelly – “PPK” (21)
30 – Jamés Ventura – “Ser Humano” (22)
31 – Jovem Dionísio – “Copacabana” (23)
32 – Píncaro – “Leito de Migalhas” (24)
33 – Atalhos – “A Tentação do Fracasso” (25)
34 – Edgar – “Prêmio Nobel” (26)
35 – Jup do Bairro – “O Corre” e “O Corre” (Bixurdia Remix) (27)
36 – BK – “Mudando o Jogo” (28)
37 – Antônio Neves e Ana Frango Elétrico – “Luz Negra” (29)
38 – BaianaSystem e BNegão – “Reza Forte” (30)
39 – Compositor Fantasma – “Pedestres Violentas” (31)
40 – Zé Manoel – “Saudade da Saudade” (32)
41 – Gustavo Bertoni e Apeles – “Ricochet” (33)
42 – Jair Naves – “Todo Meu Empenho” (34)
43 – Kamau – “Nada… De novo” (35)
44 – Letrux – “Dorme Com Essa (Delirei)” (36)
45 – MC Fioti – “Bum Bum Tam Tam” (37)
46 – Rincon Sapiência – “Tem Que Tá Veno” (Verso Livre) (38)
47 – MC Carol – “Levanta Mina” (39)
48 – Marabu – “Capítulo 5: Sereno” (40)
49 – Criolo – “Fellini” (41)
50 – Linn da Quebrada – “quem soul eu” (42)

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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o rapper Rico Dalasam.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix. Com uma pequena ajuda de nossos amigos, claro.

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