Top 50 da CENA – Felipe Cordeiro pega o topo. Liniker volta grande ao pódio. E o Sugar Kane chama a Jup para o hardcore

Semana difícil de definir. Não tem um assunto só, um gênero só ou artistas que pareçam estabelecer um diálogo entre si. O que pensando bem é só um retrato legal também do tamanho da nossa música, ô, país gigante – e isso é muito bom. 

“Aqui encantamento e caos cabem no mesmo som, são assuntos comuns”, canta Felipe Cordeiro em “Amazon Money”, canção que conta passado, presente e futuro do Brasil através da Amazônia, centro nervoso do fim do mundo, seja para sua efetivação ou contenção. Em pouco mais de dois minutos vemos o garimpo que dá as mãos para cidades florestais, Lula e Macron ante a Queda do Céu e Belo Monte – fora o duplo sentido em trazer a Amazônia vertida para o inglês, coincidindo com a predadora Amazon de Jeff Bezos. É o fim dos tempos numa música meio melancólica-meio propositiva, que te convida a rebolar. Muita informação? O turbilhão proposto por Felipe está dito no título do álbum, o singelo “Close Drama Revolução & Putaria”, que ele próprio define como obra de viés disruptivo. Quente. Tipo onda de calor forte.  

A música de semanas atrás, que já foi primeiro lugar e depois deu uma caída, volta a lugar de destaque no topo do pódio. Também, pudera. Ela volta a nos encantar por causa de uma entrevista recente de sua autora. Não é que “Me Ajude A Salvar os Domingo”, nossa favorita do álbum “Caju”, tem sete minutos. Ela poderia ser muito maior. Liniker contou que o fim repentino da música é culpa de um detalhe técnico: a fita de gravação acabou. Ela e os produtores entenderam o recado como um presente do mundo analógico, até porque mesmo a antiga fita permite remendos. Decidiram ficar com a aura original do que rolou em estúdio. Talvez isso explique um pouco do poder da faixa. E por falar em poder… Muito se discute hoje a distância entre os número do auê online e do quanto isso se traduz em bilhete vendido no mundo fora das telas. Liniker provou nesta semana que seu barulho é bem real: quatro datas esgotadas no enorme Espaço Unimed, com potencial de abrir muito mais datas para os interessados. Uau.

No processo de composição do novo álbum, a banda de hardcore Sugar Kane começou a revistar composições antigas que ficaram pelo caminho. Encontraram “Agora”, feita em 2009, mas cuja letra se encaixa perfeitamente na criação fictícia de realidades promovidas pelas redes sociais. “Agora esqueça quem é você”, diz um dos versos. Para dar um gás na faixa, eles chamaram uma fãs das antigas da banda, Jup do Bairro. O convite veio depois de eles descobrirem que Jup ia novinha aos shows acompanhada do pai. Juntar essa relação histórica com a admiração deles pela artista foi o combo perfeito. “Agora” soa urgente e mostra que Sugar Kane, já com quase 25 anos de história, tem muita lenha para queimar. 

Aproveitando que falamos do Sugar Kane, vamos falar do Swave, que tem André Dea na bateria, um dos homens com mais bandas no Brasil – ele toca com o Sugar Kane, Violet Soda e Supercombo e agora está em mais uma banda, que junta integrantes do Violet Soda e do Far From Alaska com a vocalista Aline Mendes, que solo se apresenta como Alinbloom. Juntos eles fazem rock em bom português explorando a simplicidade do gênero, como se agissem sem a preocupação envolta dos projetos originais de cada um. Fica divertido e isso está estampado até no nome do primeiro EP deles, “Por Enquanto É Isso”.  

Popoto Martins conta que a pandemia aproximou ele mais de músicas e menos do rolê de banda. Esse interesse em focar mais na canção e menos no que dá corpo a ela esteticamente é um dos motes que forma “27”, quarto álbum do Raça em dez anos de banda. “Que Besteira”, por exemplo, poderia ser um samba ou um hardcore dos primeiro dias, embora aqui seja apresentada como um rock indie com toque de sintetizador. O que importa é passar uma mensagem clara e que fique na cabeça do ouvinte. E fica mesmo, Popoto. 

Gab Ferreira dedica o EP “Forbidden Fruits” às “Gabrielas que já existiram dentro de mim e que, através da música, sempre acharam um refúgio”. Feito de canções anteriores ao seu álbum “Visions”, de 2022, “Forbidden Fruits” consegue em suas confortáveis melodias abrigar mais que Gabrielas, mas qualquer pessoa que queira sair um minutinho da pressão e se deixar levar por alguma música. 

A turma do festival Coala lançou um disco ao vivo com os melhores momentos do festival no ano passado – um lance que todo festival deveria fazer. Antigamente rolava muito isso e depois desapareceu. É uma chance para quem ainda não teve a oportunidade de ver artistas da CENA ao vivo e entender como eles funcionam no palco. Bruno Berle, por exemplo, mostra o quanto expande suas canções ao vivo. “Quero Dizer” em estúdio lembra uma reflexão. Ao vivo é mais festeira. 

Dia 29 de agosto. Dia da Visibilidade Lésbica. Dia de “Matagal”, novo single de Maria Beraldo para o seu “Colinho”, disco cheio que ela lança logo mais. Diferente da caótica “I Can’t Stand My Father Anymore”, “Matagal” é mais quieta, embora não seja menos torta nas melodias. O central da faixa é o grave, seja do baixo, seja da voz de Zélia Duncan, que faz o acompanhamento perfeito para a letra que fala da sorte de um amor tranquilo, sabor de fruta mordida, livre no meio do mato, tomando sol no rio. Como conta Maria, a faixa é sua canetada solar estando finalmente bem resolvida com sua sexualidade, após conflitos que renderam canções mais tensas. Oferece um calor, um abraço, enquanto o mundo segue lidando mal demais com diferentes formas de amar. 

Atenção em Paulo Vitor Castro, o cria de Bel, Belford Roxo. Em “Queda Livre”, seu álbum de estreia, somos tomados de cara pela força do seu samba que abraça uma psicodelia roqueira sem medo. Caxtrinho cria uma nova fluência para sacudir qualquer pasmaceira na música brasileira. Olho no seu violão, que aqui é acompanhado por Eduardo Manso, João Lourenço, Phill Fernandes e Vovô Bebê – fora participações especiais de Ana Frango Elétrico, Negro Leo, Tori e uma lista imensa de amigos. Vale também atenção para sua lírica, que talvez fique de canto no caos sonoro, mas revela cristalina na leitura das letras – descreve cenários, personagens do seu dia a dia, faz a crítica que quase ninguém faz. Gostamos da explicação da jornalista Thaís Regina, que define Caxtrinho como cronista de nosso acelerado tempo que apresenta em álbum “com humor rasgado (…) a experiência vivida do negro no Brasil hoje”. “Cria de Bel” é um resumo bom dessa explicação, de tirar o fôlego e escutar repetidas vezes para entender o quadro pintado. Fino. 

E, por falar em amor, Bruna Mendez também retrata uma paixão quente com metáforas de natureza para dar sustança e corpo ao sentimento. A deliciosa track, capaz de deixar Frank Ocean com inveja, tem produção da Bruna com Lucs Romero, que já despejou seu talento em produças da Fresno e da Tuyo. “Temporal”, que os fãs conhecem de 2022 quando Bruna apareceu no A COLORS SHOW, precede “Nem Tudo É Amor”, que será o terceiro álbum da artista goiana. Pode chegar feito temporal, Bruna. 

11 – Monstro Bom – “Verde Limão” (4) 
12 – Sítio Rosa – “Lua” (com Fernanda Takai) (5)
13 – Afonso Antunes – “Porto Alegre 12:30” (6) 
14 – Ale Sater – “Quero Estar” (8)
15 – Tássia Reis – “Asfalto Selvagem” (9) 
16 – Thiago França – “Luango” (com Marcelo Cabral e Welington “6impa” Moreira) (10) 
17 – Milton Nascimento e Esperanza Spalding – “Cais” (11)
18 – Varanda – “Vida Pacata” (12)
19 – Curumin – “Paixão Faixa Preta” (13) 
20 – Rashid – “Um Tom de Azul” com Péricles (14) 
21 – Papangu – “Maracutaia” (15) 
22 – Vitor Milagres – “Um Barato” (16)
23 – Dora Morelenbaum – “Caco” (17) 
24 – Bebé, Rei Lacoste, Giovani Cidreira e Tangolo Mangos – “Sem Ódio na Pista” (18)
25 – Apeles – “Fragment” (19)
26 – Siba – “Vaivem” (20) 
27 – Jota Ghetto e Jamés Ventura – “Downtown” (com KL Jay) (21)
28 – Febem – “Abaixo do Radar” (com CESRV e Smile) (22)
29 – DJ Anderson do Paraíso – “Madrugada Fria” (23) 
30 – Alaíde Costa – “Foi Só Porque Você Não Quis” (24) 
31 – PLUMA – “Se Você Quiser” (25) 
32 – Hoovaranas – “Fuga” (26) 
33 – Exclusive os Cabides – “Coisas Estranhas” (27)
34 – Chico Bernardes – “Até Que Enfim” (28)
35 – TRAGO – “Porvir” (29)
36 – Samuel Rosa – “Não Tenha Dó” (30)
37 – Tontom – “Tontom Perigosa” (31)
38 – Vivian Kuczynski – “Me Escapo a Cuba” (32)
39 – Quartabê – “Eu Cheguei Lá” (33)
40 – Papisa – “Vai Passar” (36)
41 – Carlos do Complexo – “Sextos Sentidos” com Menor do Engenho e Marlon do Engenho (37)
42 – Antônio Neves – “Dinamite” (38)
43 – Hermeto Pascoal – “Passeando pelo Jardim” (39)
44 – Mateus Fazeno Rock – “Madrugada” (40)
45 – Julia Branco – “Baby Blue” (41)
46 – Taxidermia – “Clarão Azul” (42)
47 – Mirela Hazin – “Delírio” (43)
48 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (44)
49 – Pabllo Vittar – “Pra Te Esquecer” (45)
50 – Tuyo – “Devagar” (46)

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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o músico Felipe Cordeiro, em foto de José de Holanda.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.


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