Top 50 da CENA – Do samba ao noise, passando pela nova cena alagoana. Semaninha boa

Para ninguém reclamar que não olhamos para o samba, tem muito tempo que o ritmo tem frequentado a nossa lista, cada vez mais atenta e ampla para tudo o que acontece no Brasil. Mas, para os roqueiros de plantão, também trazemos guitarras que encobrem o vocal a ponto de deixar a letra impossível de entender. Coisa linda.

Esta música é um samba de Toninho Geraes com Paulinho Rezende, que o primeiro gravou em 2017. Dois anos depois, a música foi gravada por Zeca Pagodinho e virou a faixa-título do disco de Zeca – ou seja, virou hit dos grandes. Agora é a vez de Fabiana Cozza se aventurar pela canção e promover nela o equivalente ao que uma expansão faz com um jogo de videogame. Na voz de Fabiana, “Mais Feliz” ganha várias caras, fica mais cadenciada, mais leve, depois cresce com harmonias vocais e se expande. Fabi brinca com a linha melódica, sambando, e a banda vai junto, se arriscando para valer sem deixar a bola cair. É uma seleção de 82, praticamente. Mas desta vez com troféu e tudo. Nossa taça ela já garantiu. 

Girlblogging é o novo projeto paralelo de Greg Maya, guitarrista do Terno Rei, que revela de onde vêm as referências emo nos sons da banda lançados até aqui. Nesta semana, ele lançou seu primeiro EP, “Entre Rosas”, uma mistura da barulheira do shoegaze com o emo do final dos anos 90 — aquele para quem não conseguia ter franja e já era velho demais para ler “Capricho” em 2008. O EP de quatro músicas tem toda a atmosfera de um show com 80 pessoas em um lugar que só comporta 50 e termina com esta excelente “Meio Bom”, um nome inadequado para uma música de um EP que é bom por completo. Por fim, se existe algo realmente parecido com um “revival emo” nos últimos tempos, este é, de fato, um disco que precisa ser ouvido para entender a cara do gênero na contemporaneidade. Um pouco mais Cap’n Jazz do que My Chemical Romance, em um trabalho que deixa qualquer fã da cena emo das últimas décadas com vontade de ouvir mais. Ótimo para colocar no fone de ouvido enquanto anda de skate à noite.

É só 1 minuto e 30 segundos. São poucas palavras. Mas é uma prévia e tanto “São Só Palavras”, primeiro single do próximo disco do alagoano Nyron Higor, mais um nome da fervida cena do estado. A faixa tem participação de Alici e Bruno Berle. Bruno também é um dos produtores, ao lado de Nyron e Batata Boy (claro). Daquelas músicas para passar o dia assobiando a melodia. 

E o bom de ouvir o Nyron foi também escutar o álbum de Alici, “Souvenir”, sua estreia, com uma coisa levando à outra. A mineira cresceu entre o Brasil e o exterior e hoje vive em Nova York. Seu disco reflete essa geografia com um pé no mundo gringo e outro na música brasileira – algumas músicas em português que carrega um sotaque quase estrangeiro. Daí que “Matar Saudade” pode ser uma canção de amor romântica ou pode ser só saudade da terra natal. Coisa bonita. 

Esta é uma entrada dupla, lista de gringos e lista nacional. A inusitada parceria entre a dupla Trent Reznor e Atticus Ross com Caetano Veloso está na trilha do novo filme de Luca Guadagnino, “Queer”. A obra é inspirada no livro de mesmo nome de William S. Burroughs e por isso Reznor e Atticus escreveram essa música com versos emprestados da última entrada do diário de Burroughs: “Como pode um homem que vê e ouve ser diferente de triste?”, é o verso repetido e repetido ao longo da música. 

Esta é a melhor resposta para aquele coach que quase emplacou na prefeitura de São Paulo. Uma cadeirada musical, digamos. “Quem sou?”, pergunta o mineiro-baiano Pusher 174 antes de entregar o refrão, “Sou uma mosca humana!”. “Cérebro Dormente”, o terceiro disco do Pusher174 em 2024 (!!!), carrega a energia meio punk nas letras e no som, que soa meio produção de garagem/meio produção eletrônica, já ele faz tudo em casa no computador e sabe esconder/sem esconder seus recortes. Soa meio emulação de punk e por isso mesmo mais punk que muito punk. Sacou? Para se ter uma ideia, ao vivo ele toca acompanhado por um baixo e por um disparador de samples. Para entender certinho, vale sentir o cheiro do espírito juvenil no minidoc produzido pela A Pó de Vidro Filmes e Crise Crise Crise sobre seu primeiro show em São Paulo. 

“YOPO” é o segundo álbum de Nego Galo, rapper que fez parte do Costa a Costa, grupo cearense que também revelou Don L. Com inspirações diversas, em especial o reggae, Galo mostra do mesmo modo que L o seu modo diverso de rimar. E, na moral, temos uma das love songs do ano por aqui: a balançada “Vidas Singulares”. Só os românticos vão entender a bonita descrição que Galo faz de um apaixonado indo ao encontro ao seu par. O álbum também toca em momentos difíceis da vida do rapper, como o sério acidente que sofreu em 2020, quando um dono de Mercedes lançou o carro contra sua moto e feriu seriamente Galo e sua esposa. É como ele mesmo anota: “Sem motivo para sorriso das hienas, eu tô forte!”

O conhecido quinteto curitibano Marrakesh andava quietinho. Mas era tudo para preparar uma transição importante: sonora, de postura e até de vida. A banda, agora toda em São Paulo, vai passar a cantar em português no próximo disco, a ser lançado no ano que vem pela Balaclava Records. A bandeira das mudanças foram fincadas quando lançaram nesta sexta o novo single, “Talvez”, em som e vídeo. A música em si já mostra uma pegada bem mais guitarras e bem menos synth, que antes marcavam o som da Marrakesh. Parece muito que vai dar jogo.

Também na estrutura de colagem, a união entre o duo Cajupitanga e Arthus Fochi rendeu o single “Flamengo”, uma junção doida e deliciosa de um violão superMPB com batidas brasileiríssimas de bateria de escola de samba. Outra conversa da reunião, que vai virar um álbum colaborativo, é o que envolve Bahia (Cajupitanga) e Rio de Janeiro (Arthus). “Seja pela paixão carioca ao futebol, seja pela imaginação no interior baiano com as rádios de fora, “Flamengo” apresenta um espaço emocional/imaginativo, bem maior que geográfico”, escreve a turma do Caju. 

Das lendas do rock gaúcho, Frank Jorge, que passou pelos Cascavelletes e Graforréia Xilarmônica, divide o tempo entre o Tenente Cascavel, supergrupo que reúne integrantes do TNT e Os Cascavelletes, sua vida de escritor e seu trabalho solo. “Tudo Não Passou” é seu single mais recente, uma pancada roqueira bubblegum total. Vivendo hoje em Buenos Aires, Frank lançou em março o álbum “Um Tipo Estranho”, disco que também saiu em espanhol com o nome de “Un Tipo Muy Raro”.  Frank Jorge representa! 

11 – Conde Favela Sexteto – “Mamão” (6)
12 – Boogarins – “Deixa” (7)
13 – Giovani Cidreira – “O Ouro e a Madeira” (8) 
14 – Negro Leo – “Me Ensina a Te Castigar” (9) 
15 – 5 a Seco – “Comédia de Enganos” (com Chico Buarque) (10)
16 – Karina Buhr – “Poeira da Luz” (11)
17 – Rico Dalasam – “Cartazes” (12)
18 – Supervão – “Querendo um Tempo” (com Papisa) (14)
19 – MADRE – “Transe” (16) 
20 – Pullovers – “Não Se Mate” (17) 
21 – Antiprisma – “Que Seja” (18)
22 – Danilo Penteado – “O Que, Então, Nos Faz Sonhar?” (19)
23 – Nina Maia – “Caricatura” (21) 
24 – Paira – “Preciso Ir” (22) 
25 – João Erbetta – “Pra Esquecer da Solidão” (23)
26 – Naïf – “Trópicos Úmidos” (24)
27 – Janine Mathias – “Barracão É Seu” (com Criolo) (26) 
28 – Maria Luiza Jobim e Mahmundi – “Insensatez” (28) 
29 – Dora Morelenbaum – “Venha Comigo” (29)
30 – Maria Beraldo – “Baleia” (30)
31 – Gio – “O Samba e Você” (com Céu) (31)
32 – Batata Boy – “Novas Rotinas” (com Vitor Milagres) (32)
33 – Mundo Video – “COMO VOCÊ ME VÊ” (33)
34 – Sítio Rosa – “Amarelo” (34) 
35 – Thalin, VCR Slim, Cravinhos, Pirlo, iloveyoulangelo – “Todo Tempo do Mundo” (35)
36 – Curumim – “Só Para no Paraibuna” (36)
37 – Jean Tassy – “Dias Melhores” (com Don L) (37)
38 – Tássia Reis – “Só um Tempo” (com Criolo) (38)
39 – Papangu – “Rito de Coroação” (39)
40 – Liniker – “Me Ajude a Salvar os Domingos” (40)
41 – Caxtrinho – “Cria de Bel” (41) 
42 – Bruna Mendez – “Temporal” (42) 
43 – Thiago França – “Luango” (com Marcelo Cabral e Welington “Pimpa” Moreira) (43) 
44 – Vitor Milagres – “Um Barato” (44)
45 – Apeles – “Fragment” (45)
46 – Alaíde Costa – “Foi Só Porque Você Não Quis” (46) 
47 – Exclusive os Cabides – “Coisas Estranhas” (47)
48 – TRAGO – “Porvir” (48)
49 – Vivian Kuczynski – “Me Escapo a Cuba” (49)
50 – Papisa – “Vai Passar” (50)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a cantora Fabiana Cozza, em foto de José de Holanda.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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