Top 50 da CENA – Curumin só para em primeiro lugar. O incrível Batata Boy quer tudo pra agora. E Jean Tassy traz dias melhores. É esse nosso pódio da semana

Selva de pedra? Melhor ser pedra de selva. E é assim, invertendo a lógica corrente, que chega ao primeiro lugar do nosso ranking Curumin, em seu quinto álbum de estúdio. Em uma proposta que combina com os dias melhores desejados por Jean Tassy e Don L, com o lugar ao sol de Jonathan Ferr. Afinal, é tudo pra agora, diz Batata Boy.  

É, amigo, você também se sente perdido e sem sentido? A vida madura é dura, como canta Curumin. É preciso se reconectar consigo mesmo, se plantar, como está na letra de “Só Para no Paraibuna”. A proposta está por todo o novo trabalho do baterista. “Pedra de Selva”, seu quinto trabalho solo, tem esse deslocamento, proposto já no título, ao escapar da selva de pedra. Afinal, se tudo vai mal, não seria a hora de chacoalhar a ordem? O antropólogo David Graeber resumiu quando disse que o grande segredo do mundo é que ele é feito por nós e poderia facilmente ser feito de outra forma. Façamos isso, então. E com algum swing.   

Batata Boy é o produtor brilhante parceiro de Bruno Berle, seu parça, ambos alagoanos. Quem já viu o cara ao vivo saca sua aura de jovem maestro eletrônico. E ele vem de trabalho solo neste ano, o sucessor de “Entre Cidade”, sua estreia de 2022 que levou prêmio da música brasileira e tudo. No novo trampo, aparecem Ana Frango Elétrico, Dadá Joãozinho e, é lógico, Bruno Berle. “Tudo pra Agora” lembra um tanto “Idioteque” do Radiohead, porém como se toda a neve de “Kid A” já tivesse dissipadol,. 

E, por falar na transformação profunda do mundo, pensemos em Don L, que propõe e reflete muito sobre isso em toda sua obra e coloca a teoria em ação prática. O rapper dá a senha no novo single de Jean Tassy, artista brasiliense de um refinado neosoul apresentado em sua estreia, o álbum “Amanhã”, produzido por Iuri Rio Branco, que também dá as cartas por aqui na produção. Com um refrão solar e otimista cantado por Jean, Don amanhece com ironia: “O dia nasceu ríspido/ E nada fez sentido/ Olhando pra tudo tipo: ‘Pra onde esses carros correm?’/ Ouvindo mentiras no rádio/ Jovens com ideias velhas”. Quente. 

Em “Lugar ao Sol”, Chorão, tido por muitos como um cara grosseiro, conclui que descobriu “que é azul a cor da parede da casa de Deus” – um jeito poético à beça para dizer que encontrou paz aqui na Terra – a casa de paredes azuis – através do amor. Jonathan Ferr encontra essa sensibilidade ao reler a faixa reforçando a harmonia pacífica da canção na acentuação de jazz, acompanhado pela Orquestra Ouro Preto e de seu próprio vocal, distorcido com apoio de um vocoder – aquele sintetizador que deixa a voz meio Daft Punk.

Na música brasileira, ninguém é mais habilidoso que Rappin’ Hood para se conectar com os mestres do nosso som. Sua memória afiada já provocou pontes com Jair Rodrigues, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Agora, indo mais longe, conseguiu se conectar com outro gigante surgido nos anos 60, o recluso e político Geraldo Vandré. A regravação da sempre forte “Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores” tem participação discreta do autor, mas ele está lá. A música foi lançada justamente no dia 7 de setembro, marcando posição contra o bolsonarismo, pauta ainda tão urgente. 

Em 2005, Jards Macalé lançou “Real Grandeza”, álbum que reunia sua parceria com o poeta Waly Salomão – encontro que rendeu a música mais conhecida de ambos, “Vapor Barato”. O disquinho que traz duas inéditas finalmente apareceu agora nos serviços de streaming. Imperdível. 

“Topo da Minha Cabeça”, novo álbum de Tássia Reis, reúne os dois universos formadores da cantora/rapper: o samba e o hip hop. Samba que veio da família, rap que veio de sua formação na caminhada artística. E aí é que está o segredo do trabalho. Não se trate de uma mera mistura de gêneros, algo até batido já. O que acontece aqui é um mix das diversas trajetórias de Tássia – e isso torna o trabalho único e quente. Temos exemplos: ela passou um tempo cantando o repertório de Alcione e traz muito da primeira fase da sambista para o álbum. Repare em “Sol Maior”, que faz referência direta ao soul e samba da Marrom em músicas como “Acorda Que Eu Quero Ver”. Outra batalha de Tássia, que está refletida no álbum, é seu trabalho de tirar a mulher do papel apenas de cantora de refrões no rap nacional. Em “Só um Tempo”, quem versa é ela, enquanto Criolo cuida do refrão. Sacou? “Topo da Minha Cabeça” é o tipo de disco que leva uma vida para se fazer e por isso mesmo vai durar por muitas e muitas vidas – porque sua música é viva.  

“Lampião Rei” é o segundo disco da turma paraibana do Papangu. Em forte contraste com seu primeiro trabalho, o grupo expande suas fronteiras sonoras por aqui e traz o rock pesado, psicodélico para conversar com forró, baião e jazz-rock. Chico Buarque encontra Sepultura, Gonzação encontra pedal duplo e vocais guturais. E obviamente ficou lindo. A ousadia do sexteto ainda está impressa em pequenos detalhes como a mixagem, que é ligeiramente mais baixa do que a normal hoje na indústria. Isso obriga o ouvinte a aumentar o volume para compensar, mas deixa o som gravado mais vivo, já que os pequenos detalhes não são sacrificados em um mar de compressão. 

Zé Manoel é um dos grandes pianistas de uma geração brasileira e tanto no instrumento – pense aí em Jonathan Ferr e Amaro Freitas, que extravasam o erudito/clássico/experimental em direção ao pop. Na batalha há algum tempo (sua estreia é de 2012), Zé fez um dos melhores álbuns do pesado 2020, o denso “Do Meu Coração Nu”, um disco fundamentado no conceito passado por Letieres Leite de que toda música brasileira é preta. “Coral”, seu novo álbum, parece dar continuidade a essa pesquisa adicionada a nova etapa de vida do compositor, que assina todas as faixas, seja sozinho ou com parceiros como Bruno Morais, produtor do disco, Alessandra Leão, Liniker e Bruno Capinan. Essa confluência de pesquisa e emoção pode ser sentida em “Canção de Amor para Johnny Alf”, que une biografia com declaração de amor.  

O primeiro álbum solo de Ale Sater, baixista e vocalista do Terno Rei, reflete alguma satisfação. A começar pelo título, “Tudo Tão Certo”, e pela maneira que Ale avalia o trabalho: “Gosto de cada uma das músicas de uma maneira diferente e especial”. O que não deixa o disco sem seus momentos acinzentados e nostálgicos, ao modo que os fãs apreciam e que são tão característicos dele em sua banda. Só ver os acordes bêbados de “Final de Mim”, entre noias e desabafos. 

11 – Davi Kneip e Caetano Veloso – “Mtg Você É Linda” (5)
12 – Felipe Cordeiro – “Amazon Money” (6)  
13 – Liniker – “Me Ajude a Salvar os Domingos” (7)
14 – Sugar Kane – “Agora” (com Jup do Bairro) (8)
15 – Swave – “Sirene” (9) 
16 – Raça – “Que Besteira” (10)
17 – Gab Ferreira – “Terrified” (11)
18 – Maria Beraldo – “Matagal” com Zélia Duncan (12) 
19 – Caxtrinho – “Cria de Bel” (13) 
20 – Bruna Mendez – “Temporal” (14) 
21 – Sítio Rosa – “Lua” (com Fernanda Takai) (16)
22 – Thiago França – “Luango” (com Marcelo Cabral e Welington “6impa” Moreira) (18) 
23 – Varanda – “Vida Pacata” (20)
24 – Rashid – “Um Tom de Azul” com Péricles (21) 
25 – Vitor Milagres – “Um Barato” (22)
26 – Dora Morelenbaum – “Caco” (23) 
27 – Bebé, Rei Lacoste, Giovani Cidreira e Tangolo Mangos – “Sem Ódio na Pista” (24)
28 – Apeles – “Fragment” (25)
29 – Siba – “Vaivem” (26) 
30 – Jota Ghetto e Jamés Ventura – “Downtown” (com KL Jay) (27)
31 – Febem – “Abaixo do Radar” (com CESRV e Smile) (28)
32 – DJ Anderson do Paraíso – “Madrugada Fria” (29) 
33 – Alaíde Costa – “Foi Só Porque Você Não Quis” (30) 
34 – PLUMA – “Se Você Quiser” (31) 
35 – Hoovaranas – “Fuga” (32) 
36 – Exclusive os Cabides – “Coisas Estranhas” (33)
37 – Chico Bernardes – “Até Que Enfim” (34)
38 – TRAGO – “Porvir” (35)
39 – Tontom – “Tontom Perigosa” (37)
40 – Vivian Kuczynski – “Me Escapo a Cuba” (38)
41 – Quartabê – “Eu Cheguei Lá” (39)
42 – Papisa – “Vai Passar” (40)
43 – Antônio Neves – “Dinamite” (42)
44 – Mateus Fazeno Rock – “Madrugada” (44)
45 – Julia Branco – “Baby Blue” (45)
46 – Taxidermia – “Clarão Azul” (46)
47 – Mirela Hazin – “Delírio” (47)
48 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (48)
49 – Pabllo Vittar – “Pra Te Esquecer” (49)
50 – Tuyo – “Devagar” (50)

* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o cantor paulistano Curumin.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

MDE 1 – horizontal miolo página
TERRENO ESTRANHO: black month [horizontal interna fixo]