Top 50 da CENA – Crizin da Z.O. vem fatal e com o Edgar. Mahmundi e a trilha perfeita do asfalto ao mar. Yma nos leva a ouvir o cinema

Semana de diferentes conceitos sendo trabalhados pelos artistas da nossa cena. Uns resolveram lançar um pacote de expansão do seu disco, outros investiram em uma falsa coletânea de sucessos. Ao mesmo tempo, um famoso cantor dubla um ator que interpreta o próprio cantor enquanto uma compositora tira do acervo de um streaming os versos de sua canção. Tá?

Seria muito caído para uma banda como o Crizin da Z.O. lançar uma versão “deluxe” de um álbum. Leitores da realidade como poucos, eles sabem o que pega no mundão. Daí que o excelente “Acelero”, lançado ano passado, ganha um “pacote de expansão” em “ACLR+6”, pequena coleção de seis inéditas que “não ocupam um lugar de sobra, mas são uma extensão do universo já criado”, diz Cris Onofre, ⅓ do trio. No diagnóstico da crise, olhando para os que não se dobram a ela, versos como o de Edgar (“Eu gosto da Bjork/ Mas prefiro a Juçara”) ganham os corações de quem sabe onde está a resposta para tanto mal. 

Em mais um single de sua nova fase, voltando ao mundo independente, Mahmundi parece ter escrito uma música perfeita para ser trilha sonora entre o aeroporto de Salvador e o centro da cidade, do asfalto até o mar. Uma faixa tão leve e gostosa e rara quanto uma brisa capaz de mudar o humor do dia. Nosso privilégio é ela compartilhar seu feeling com a gente. Uma ação de marketing perfeita para o single seria vir junto uma passagem para Bahia. 

Paulistanos hoje podem relembrar os dias da locadora 2001 quando adentram o catálogo virtual do Mubi – o espacinho do cinema cult na era do streaming. É de lá que YMA retalha títulos e cola eles em uma disposição quase aleatória, “deixando o inconsciente conduzir”, mas permitindo múltiplas interpretações – David Lynch, devidamente citado com “Eraserhead”, aprovaria. O single “2001”, este aqui, é a primeira mostra do seu próximo álbum, “Sentimental Palace”, previsto para setembro. 

No filme “Homem com H”, uma das cenas mais emocionantes é quando a voz de Ney Matogrosso encanta o coral madrigal do qual faz parte, antecipando o que seria sua marcante presença. Nela, Jesuíta Barbosa, o ator que interpreta Ney, é dublado pelo próprio Ney. A música chega às plataformas de streaming através do EP “Homem com H”, que ainda traz outros três registros na produção caprichosa dos irmãos Amabis – Gui, Rica e Mariana.

A dupla mineira Ogoin e Linguini gosta de trabalhar em conceitos diferentões para seus trabalhos. Se a primeira mixtape, “Ogoin e Linguini: TV Show”, era uma sitcom, “Coletânea Good Times” é uma… coletânea. Mas de inéditas, ou seja, um falso greatest hits focado em canções de amor. De quebra, acaba sendo uma coletânea de verdade ao recuperar o maior hit deles, “Good Times”, sumida dos streamings por uns tempo por conta de questões de direitos autorais.

“Eu me mostrando mais fácil, mais a fim de dialogar”, comentou Rico Dalasam no lançamento do single “Dilema”, primeiro sinal de uma nova fase em sua carreira. Com produção dos requisitados Pedro Lucas e Pedro Owl, parceiro de Rico em sons como “Estrangeiro” e “Outros Finais”, a faixa tem mesmo um ar mais pop, conectado com o funk, e um papo reto na letra. Porém, isso vem sem abrir mão das complexidades líricas e filosóficas de Rico, uma mão especial para falar a real sobre dores do coração. “Dilema” abre a dúvida sobre amar e depender de alguém que não ama a si próprio. E as consequências disso. “Como vou entrar em você se você se odeia?/ Como eu vou sair de você se esse amor me mantém?”. Eis a questão. O resto é dança.   

Tim Maia já queria um sossego para si mesmo – e um quilo do bom. Mateus também quer sossego, mas lembra dos seus ao cantar seu “Melô do Sossego”. “Que vontade de lhe dar sossego”, é o mantra aqui. Uma lembrança a quem luta e se cansa das dificuldades, mas quer o melhor para a mãe, pai, irmãos, a turma da rua. Sossego aqui também não é só calmaria, é essa ciência de ter um norte quando tudo parece perdido ou sem sentido. Sossego é bússola. O novo álbum de Mateus chega em agosto. E pelo singles até aqui é preciso bater palmas para a produção acertada do próprio Mateus em companhia de Fernando Catatau e Rafael Ramos. Repara na bateria dessa música, por exemplo, que som foda eles tiraram. 

Lou Alves, a mente principal por trás de Walfredo em Busca da Simbiose, segue sua procura. Estamos perto do terceiro álbum da banda. À primeira vista, o single “Iridescência” parece uma junção de frases quase desconexas, mas guarda seu segredo na beleza do conjunto, uma ode a enxergar beleza no efêmero, a beleza das bolhas de sabão. Ah, a refração, essa paixão dos psicodélicos. Tantos caminhos e luzes que levam a um bordão solar e simples de entender: “Viver Sem Medo”. 

Quem ainda tem dúvidas sobre o rap nacional? Ouça Clara Lima. A rapper mineira entrega seu doutorado na arte de rimar em seu disco “As Ruas Sabem”, seu estudo mais complexo ao abrir diálogo com beatmakers de pegadas bem diferentes – Marabá, Coyote Beatz, Madre Beatz, Sartor, Teaga, entre outros. Tantas mentes em conjunto dão um ar plural ao álbum, o que oferece a Clara a chance de ser várias, do suave ao intenso, como pode ouvir na pancada de versos em “PHD”. 

“Não é possíve!l” Este é o único comentário possível para a nova da Juvi, parte da versão delux do metanostálgico álbum “Hits Eletrônicos de Verão”. Sem mais.

11 – Don L – “Iminência Parda” (6)
12 – Lupe de Lupe – “Vermelho (Seus Olhos Brilhanto Violentamente Sob os Meus)” (7)
13 – Tom Zé – “Síncope Jãobim” (8)
14 – Joyce Moreno – “Um Abraço no João” (com Jards Macalé) (9)
15 – Letrux e Nouvella – “Vira Essa Boca pra Cá” (10)
16 – Romulo Fróes – “Mulher do Fim do Mundo” (11)
17 – Bersote – “Desceu Amargo” (12)
18 – Luedji Luna – “Bonita” (com Alaíde Costa e Kato Change) (13)
19 – Lau e Eu – “Coivara do Sono…” (14)
20 – Marrakesh – “Cão” (15)
21 – Joaquim – “Emboscada” (16)
22 – Alberto Continentino – “Cerne” (17)
23 – Zé Ibarra – “Segredo” (18)
24 – Carol Cavesso e Otis Trio – “Astra” (19)
25 – Jadsa – “Samba pra Juçara” (20)
26 – eliminadorzinho – “A Cidade É uma Selva” (21)
27 – Gab Ferreira – “Ponta da Língua” (22)
28 – Mateus Aleluia – “No Amor Não Mando” (23)
29 – Alaíde Costa – “Bandeira Branca” (com Amaro Freitas) (24)
30 – Antropoceno – “Queda do Céu” (25)
31 – Nego Joca – “Nada Igual” (26)
32 – Eduardo Manso – “FRB 20220610A” (27)
33 – clara bicho – “Meu Quarto” (28)
34 – Stefanie – “Fugir Não Adianta” (com Mahmundi) (29)
35 – Maré Tardia – “Ian Curtis” (30)
36 – Vera Fischer Era Clubber – “Lololove U” (31)  
37 – Josyara – “Eu Gosto Assim” (33)
38 – Rachael Reis – “Jorge Ben” (35)
39 – Rael – “Onda (Citação A Onda) (com Mano Brown e Dom Filó) (36)
40 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (37)
41 – Djonga – “Demoro a Dormir” (com Milton Nascimento) (38)
42 – Jovens Ateus – “Mágoas – Dirty Mix + Slowed Reverb” (39)
43 – Bufo Borealis – “Urca” (42)
44 – Terraplana – “Todo Dia” (43)
45 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (45)
46 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (46)
47 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (47)
48 – Gabriel Ventura – “Fogos” (48)
49 – Nyron Higor – “São Só Palavras” (49)
50 – BK – “Só Quero Ver” (50)

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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o trio Crizin da Z.O.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro Vinícius Felix.

MDE 1 – horizontal miolo página
Terreno Estranho – horizontal fixo Mark Lanegan