Semana com textão para a novidade do Boogarins, que aparece em nosso primeiro lugar. Afinal, na movimentada cena brasileira, quando velhos amigos aparecem com boas novas, nosso coração fica quentinho e saudoso. Ainda mais quando se trata de uma música daquelas. O Boogarins, a gente acha, promete mudar de patamar com seu “Bacuri”, hein?
Desde sua estreia, o Boogarins enfileirou uma sequência de álbuns de inéditas e turnês intermináveis pelo mundo. Tivemos novidades em 2013, 2015, 2017, 2019, isso sem contar as coletâneas de sobras. Esse longo intervalo era o prenúncio de alguma mudança – o período em que a banda se expande, se reconfigura, deixa a massa descansar. Foi um tempo em que eles passaram, por exemplo, tocando por muitos lugares sua versão ao vivo do Clube da Esquina. Essa influência ia dar no quê? Começamos a ver o resultado em “Corpo Asa”, primeira canção apresentada de “Bacuri”, álbum previsto ainda para neste mês. Pelo que se ouve é o Boogarins que aprendemos a amar de sempre, mas algo está diferente. Será a idade? Será a naturalidade de gravar com a produção afiada da amiga Alejandra Luciani e não um produtor estrangeiro? Será que nós mudamos muito também como ouvintes deles? Um pouco de tudo isso, sem dúvida. “Um exercício de construir com melodia e palavras uma imagem mais ampla sobre como gostar e desejar viver junto de alguém (seja como amigo, familiar ou como grande amor da sua vida) pode ser transformador”, anota a banda. Sem dúvida, uma lição _ clubística _ que toma corpo _ corpo asa.
Não é de hoje que falamos da Nina Maia, a jovem compositora de 21 anos que já movimentava a cena em seus shows e singles. Agora Nina tem um disco para chamar de seu, o excelente “Inteira”. A estreia é marcante especialmente por mostrar de cara seu poder de fogo: na voz única repleta de camadas, na ousadia musical de não definir imediatamente a que gênero pertence. Além disso, tem outra característica importante de álbuns de estreia: reúne o melhor de Nina até aqui, ou seja, algumas composições feitas quando ela era mais jovem do que é hoje. Outro detalhe: mais um trabalho no Top 50 que tem na mix a mão da craque Alejandra Luciani – não pode ser coincidência a qualidade impressa em mais um registro, certo?
Drum’n’bass e guitarrinha chorosa é uma combinação e tanto nas mãos de Clara Borges e André Pádua, a dupla mineira que forma o Paira, uma das grandes revelações da CENA em 2024. Capaz que a turma do Dinosaur Jr., que divide com o palco com o Paira no Balaclava Fest no domingo, goste bastante desse lo-fi delícia. Porque tem o eletrônico bom. Mas tem também a barulheira boa.
Amigos e parceiros de composição há muito tempo, a dupla Zeca Baleiro e Wado juntou um monte de músicas no período pandêmico e o processo rendeu um disco inteiro em dupla. Com gravações que aconteceram entre Maceió e São Paulo apoiadas pela produção de Sérgio Fouad, “Coração Sangrento” reúne muita inspiração dos dias trancafiados em casa com letras que vagam entre o reflexivo e o esperançoso. “Me diga a verdade, onde anda você?”, perguntam em “Avatar”, uma boa descrição de como é difícil ler a realidade hoje em dia.
Músico internacional de muitos recursos e alcances, o brasileiro João Erbetta entrega lá de Portugal uma bossa nova. Para quem lá atrás foi um punk que tocava veloz e cantava propositadamente em portunhol na excelente Los Pirata, Erbetta agora, depois que o mundo deu algumas cambalhotas, se prepara para lançar um novo álbum, chamado “Love Songs”, de onde esta canção destacada é o segundo single. O primeiro, “Marbles & Diamonds”, cantada em inglês, talvez fosse mais bem colocada no Top 10 Gringo. João Erbetta é assim, inqualificável. Ou, melhor, um músico de várias qualificações.
De Belém do Pará, surge a turma do Naïf, grupo liderado por Tita Padilha, nome conhecido dos bastidores da cena local há muito tempo, mas que só agora assume o papel de frontwoman ao lado de Rodrigo Sardo, Lucas Padilha e Erik Lopes. Preparando o primeiro EP, o single “Trópicos Úmidos” apresenta seu gosto pelo ruidoso e pelo pop do jeito que gostamos. Meio garageiro e meio chiclete. Detalhe que Tita canta e também toca o pouco comum omnichord.
Ainda no campo do rock alternativo brasileiro, mas agora do ABC paulista, aparece o Submerso, uma banda que mixa universos que aparentemente não conversam entre si: uma mistura de Los Hermanos pelo tom menor e melancólico das músicas com bandas inglesas de rock com apreço pela sofisticação – uma coisa meio Travis, The Verve, talvez. É um tipo de som cativante que as rádios meio que pararam de tocar, mas bem capaz de criar uma base de fãs fiel e apaixonada. Em breve, tocam no querido Bar Alto.
Saudade de ouvir o Criolo rimando em velocidade cortante? É o Criolo que aparece no novo single de Janine Mathias, artista de Brasília que cresceu justamente entre o samba e o rap. E ela aqui também mostra seu lado versador nessa composição sua e de João da Gente, um samba de quem perde o lar, mas não perde a força e a fé – alguém lembrou também de “Saudosa Maloca”? A produção é do sempre certeiro Rodrigo Campos.
Em celebração aos 50 anos do hip hop, “A Mensagem” é uma coleta pensada por Kl Jay e Mari Paulino para homenagear alguns clássicos nacionais. A dupla escolheu dez sons e chamou a nova geração para reimaginar tudo. Tem Clara Lima e Ashira fazendo uma da Dina Di, Rael e Kayode com uma do 509-E, Akira Presidente com uma do Planet Hemp, entre outras coisas mais. Nesta festa, um dos melhores presentes fica com Amiri, que refaz “Rap Du Bom” de Rappin Hood, um rap clássico que homenageia justamente os clássicos do gênero. Formou.
Ao cantar o repertório de Gal Costa em “Beleza São Coisas Acesas por Dentro”, Filipe Catto precisou deixar algumas coisas de fora da seleção final do álbum, canções que só ganharam vida no palco. Para celebrar o primeiro aniversário do trabalho, um sete polegadas lançado em parceria com a Bolachão Discos, ela coloca “Chuva de Prata” e “Só Louco” no mundão. Será que não rola logo uma parte dois, não?
11 – Maria Luiza Jobim e Mahmundi – “Insensatez” (5)
12 – Fernanda Takai – “Como uma Onda (Zen Surfismo)” (6)
13 – Dora Morelenbaum – “Venha Comigo” (7)
14 – Maria Beraldo – “Baleia” (8)
15 – Juvi – “Novas Drogas Legais” (9)
16 – Gio – “O Samba e Você” (com Céu) (10)
17 – MOMO. – “Passo de Avarandar” (11)
18 – Batata Boy – “Novas Rotinas” (com Vitor Milagres) (13)
19 – Mundo Video – “COMO VOCÊ ME VÊ” (14)
20 – Meu Nome Não É Portugas – “Céu e Mar” (15)
21 – Sítio Rosa – “Amarelo” (18)
22 – Edgar – “Chave de Ouro” (19)
23 – Thalin, VCR Slim, Cravinhos, Pirlo, iloveyoulangelo – “Todo Tempo do Mundo” (21)
24 – Rancore – “Quando Você Vem” (24)
25 – Giovani Cidreira – “Feira do Rolo” (com Vandal) (25)
26 – Curumim – “Só Para no Paraibuna” (26)
27 – Jean Tassy – “Dias Melhores” (com Don L) (27)
28 – Tássia Reis – “Só um Tempo” (com Criolo) (28)
29 – Papangu – “Rito de Coroação” (29)
30 – Zé Manoel – “Canção de Amor para Johnny Alf” (30)
31 – Ale Sater – “Final de Mim” (31)
32 – Liniker – “Me Ajude a Salvar os Domingos” (32)
33 – Caxtrinho – “Cria de Bel” (33)
34 – Bruna Mendez – “Temporal” (34)
35 – Thiago França – “Luango” (com Marcelo Cabral e Welington “Pimpa” Moreira) (35)
36 – Vitor Milagres – “Um Barato” (36)
37 – Apeles – “Fragment” (37)
38 – DJ Anderson do Paraíso – “Madrugada Fria” (38)
39 – Alaíde Costa – “Foi Só Porque Você Não Quis” (39)
40 – Exclusive os Cabides – “Coisas Estranhas” (40)
41 – Chico Bernardes – “Até Que Enfim” (41)
42 – TRAGO – “Porvir” (42)
43 – Vivian Kuczynski – “Me Escapo a Cuba” (43)
44 – Papisa – “Vai Passar” (44)
45 – Antônio Neves – “Dinamite” (45)
46 – Mateus Fazeno Rock – “Madrugada” (46)
47 – Julia Branco – “Baby Blue” (47)
48 – Taxidermia – “Clarão Azul” (48)
49 – Mirela Hazin – “Delírio” (49)
50 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (50)
***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a banda Boogarins.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.