Dadá Joãozinho assume o primeiro lugar do Top 50 após o segundo lugar da semana passada. É que estamos de cara com o discaço “1997”, seu novo e multidiverso EP. Também entram no radar mais um single do próximo álbum da Terraplana, um pouquinho do novo do Getúlio Abelha e novidades de Siba e também do Ritchie – que tirou o Caetano Veloso das férias radicais! A CENA se move linda.
1997 é o ano de nascimento de Dadá Joãozinho. Agora também é o nome do novo EP do cantor, produtor musical e multiinstrumentista de Niterói. Em “1997”, Dadá amplia as várias facetas já apresentadas no excelente “Tds Bem Global” (2023). Reaparecem seu gosto por recortes e edição intensa, mas também tem espaço para o primeiro take, o violão – uma abordagem quase lo-fi. “De Qualquer Forma É Grande (Subindo em Árvore)”, por exemplo, se aproxima de um fluxo de consciência amalucado. Já em “Olha para Mim”, parceria com a banda Raça, ele soa rádio-rock como nunca antes. Todos os caminhos são possíveis para Dadá. “As Coisas”, que traz a voz da carioca Jadidi, é uma proposta do que pode ser uma MPB radiofônica sem precisar ser óbvia.
Em “Ainda Estou Aqui”, um dos momentos mais emocionantes, sem dúvida, é se deparar com Eunice Paiva interpretada por Fernanda Montenegro. A atriz representa Eunice já mais velha e com Alzheimer. As memórias de uma vida tão intensa se foram, e o que sobra? Essa pergunta que o Terraplana faz na bilíngue “Hear a Whisper”. “Dentro da alma/ Lembra quem sou eu?” diz um dos versos da parceria da banda curitibana com a cantora Winter, também curitibana, mas radicada em Nova York. Tem uma conexão estranha/legal desta música nova com Joy Division e a cena de música nova do Rio que não sei se sabemos explicar. Ainda. Parece que a banda do Paraná está olhando para outros sons, não só para o “shoe”. Talvez essa compreensão da bem-vinda expansão sonora da Terraplana fique um pouco mais para a frente. O segundo álbum deles leva o nome de “Natural” e está previsto para ser lançado em 11 de março.
O riff de guitarra é quase emo, poderia ser também de uma música tristinha do Charlie Brown, mas o resto é puro Wesley Safadão. Essa é a mistura proposta por Getúlio Abelha no forró maluco e bem-humorado de “Toda Semana”, uma ficção daquelas imaginadas alta noite no banheiro de um botequinho sujo. “O forró mais cruel que eu fui foi hoje”, diz o artista piauiense/cearense em um dos versos da música. Se tocasse forró no mundo de “Blade Runner”, seria mais ou menos assim como Getúlio o desenha.
Siba conta que “Máquina de Fazer Festa” é a música que marca de certa forma a volta do Fuloresta, seu grupo que fez história – Ronaldo Sousa, Mestre Nico Ganzá Rafael dos Santos, Galego do Trombone, João Minuto, Deyvid Fagner, Leandro Gervázio e Antônio Loureiro. Isso porque, de acordo com o próprio Siba, o grupo “nunca foi nem tá voltando para canto nenhum”. Outro lance que rolou para Siba foi uma espécie de fé renovada na ciranda ao ver surgirem novos jovens mestres na área. Resistência cultural.
Pouco depois de estourar com “Menina Veneno”, Ritchie estrelou um dueto com o sempre antenado Caetano em “Shy Moon”, lançada no roqueiro “Velô”, álbum de 1984. O inglês mais brasileiro do mundo completa 50 anos de carreira em 2025 e resolveu regravar a música em seu arranjo de palco – uma valsa! E aí conseguiu tirar Caetano de mais uma de suas fracassadas tentativas de férias radicais. A gente achou que ficou meio metal melódico essa nova gravação. Caberia em um disco do Angra? Alguém confirma nosso delírio?
“Hoje eu vi fogos de artifício do quintal” é o abre misterioso de Gabriel Ventura em “Fogos”. Será o Ano Novo ou será um gol de um time? No Brasil, pode até ser gente comemorando a eleição de candidato fascista. Vai saber. Pode ser até anúncio de facção. Mas estamos indo longe na imaginação. Se a letra faz mistério, o som conta uma história mais reta (ou quase isso). Guitarrista habituado a investir na barulheira, Gabriel transpõe essa intenção de lugar. O ruído escapa do som e vai para o arranjo, que fica partido, solto, mas todo delicado. E é essa dança que faz “Fogos” soar viva. Hum, acho que entendemos, viu? Talvez os fogos que ele viu do quintal não seja algo tão literal assim. É o coração dando avisos. Ou não é nada disso também. Na dúvida, mais um play.
Um timbre nostálgico acolhe a gente em “Landa”, novo single de Dadá Joãozinho, parte de seu próximo EP, “1997”. Nesse carinho, uma música dedicada a sua bisa, Dadá compartilha fotos de sua infância, registros da família. Primos, tios e avós aparecem. As recordações são muitas, mas surgem embaçadas pelo tempo e pela memória. Afinal, fotografias envelhecem, vão se apagando. Fora que os registros antigos não estão nos melhores papéis. Encontrar uma recordação com foco, então, é uma luta. Nesse passeio pelas memórias, Dadá se dá conta que agora é responsa dele manter aquele amor ancestral vivo. “Pode ser delírio ou mania minha, mas acredito fazer o que está na minha mão pra abrir olhos e ouvidos dos filhos de Landa”, escreve o artista de Niterói. E, sim, há uma conexão aqui com o Bad Bunny. Talvez acidental. Engula esse zeitgeist!!
Por falar em fotos antigas e memórias, esse também parece ser o combustível da turma paranaense Jovens Ateus. Não na temática, mas no som. Se alguém descobrir que “Passos Lentos” foi, na verdade, registrada em 1986, nós acreditamos. A faixa, que estará em “Vol. 1”, estreia em disco cheio da banda, carrega aquela melancolia pesada. Afinal, estamos falando de uma música que começa com o seguinte verso: “Perco memória de contato humano e honestamente, estranho”. Precisa explicar mais?
“AVIA” vem aí. Será o terceiro álbum de Josyara. E a primeira mostra do novo trabalho é uma versão para uma bela canção de Cátia De França, presente no sempre redescoberto “Vinte Palavras ao Redor do Sol”, de 1979. O disco de Cátia era a companhia certa de Josyara no período em que chegou a São Paulo, dez anos atrás. Eram aquelas músicas que reconectavam ela com a sua Juazeiro, Bahia. Agora “Ensacado” se torna um pouco sua, com o arranjo original reimaginado apenas com seu violão poderoso e o violoncelo de Federico Puppi. Outro reforço é a amiga Pitty na voz – elas já tinham feito juntas uma regravação de “Anacrônico”. A produção do álbum é de responsabilidade da própria Josyara e de Rafael Ramos. Além de “Ensacado”, vem aí mais nove sons inéditos, algumas composições em parceria com outros artistas da cena. Chega em abril.
Arthus Fochi e a dupla Cajupitanga, de Vitória da Conquista, outros baianos bons, mostram mais um fruto da conexão de propostas artísticas tão diferentes entre si. Arthur com seu violão ao modo tradicional e cajupitanga investida no experimentalismo. Um jogo que anda dando bom nos singles lançados até aqui. Vira álbum em breve. Acompanhemos de perto!
11 – Nyron Higor – “São Só Palavras” (6)
12 – Marcelo D2 – “A Maldição do Samba” (7)
13 – BK – “Só Quero Ver” (com Evinha) (8)
14 – Celacanto – “Cedo” (9)
15 – Jamés Ventura – “Noites de SP” (10)
16 – Superafim – “Sorry” (11)
17 – Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro – “Nova Era” (12)
18 – Heal Mura – “Wu Wei” (13)
19 – BK – “Só Eu Sei” com Djavan e Nansy Silvvz (14)
20 – Tátio – “Longe De Mim” com Zeca Baleiro (15)
21 – Jéssica Linhares – “Samba do Sonhador” (16)
22 – Julia Mestre – “Sou Fera” (17)
23 – Rei Lacoste – “Sem Paz” (18)
24 – Cícero – “Tempo de Pipa” (19)
25 – Menores Atos – “Pronto pra Sumir” (20)
26 – Panteras Venenosas – “Ai Que Saudade” (21)
27 – Igor de Carvalho – “Pra Te Esquecer” (22)
28 – Terraplana – “Charlie” (23)
29 – BaianaSystem – “A Laje” (24)
30 – Maré Tardia – “Já Sei Bem” (25)
31 – Bem Gil – “Sobe a Maré” (com Domênico Lancellotti) (26)
32 – Thiago França e Rodrigo Brandão – “Young Lion” com Sthe Araújo e Edgar (27)
33 – Tasha & Tracie, Emcee Lê – “Randandan” com Delli Beatz (28)
34 – B.art – “Nêgo/Correnteza” (29)
35 – João Gomes e Gilberto Gil – “Palco” (30)
36 – Vitor Milagres – “Um Barato” (31)
37 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (32)
38 – Negro Leo – “Me Ensina a Te Castigar” (33)
39 – Tássia Reis – “Sol Maior” (34)
40 – Maria Beraldo – “Colinho” (35)
41 – Thalin, VCR Slim e Cravinhos… – “Todo Tempo do Mundo” (36)
42 – Supervão – “Androids” (37)
43 – Liniker – “Me Ajude a Salvar os Domingos” (38)
44 – Paira – “O Fio” (39)
45 – Dora Morelenbaum – “Venha Comigo” (40)
46 – Amaro Freitas – “Viva Naná” (41)
47 – Hoovaranas – “Fuga” (42)
48 – Luiza Brina – “Oração 18 (Pra Viver Junto)” (43)
49 – Exclusive Os Cabides – “AAAAAAAAA” (44)
50 – Sofia Freire – “Autofagia” (45)
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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, o rapper e cantor fluminense Dadá Joãozinho.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.