Depois de na semana passada destacarmos o balanço da Marina Sena e seus cenários paradisíacos em “Coisas Naturais”, resolvemos nos enfurnar no quarto e ouvir um pouco de emo. Emo caipira, diga-se. Vocês vão entender melhor lendo o pódio deste Top 50. Mas, para manter a vitamina D em dia, saímos para o parque com Gab Ferreira; e, para manter a alma noturna bem, decidimos ir dançar com Enme. Uma vida equilibrada.
Agora que está feito parece óbvio, mas como soa bem uma versão midwest emo para “Metade”, de Adriana Calcanhotto. Aliás, midwest emo que nada, será que estamos falando do emo caipira? O Metade de Mim é uma banda de Jundiaí, já conta? Fica a pergunta. “Metade” é o terceiro single deles. Renan Sales, Felipe Angelim, Matheus Caccere, Fernando Oska e Danilo Tanaka trabalham no primeiro álbum. Em breve, teremos mais notícias.
Aliás, por falar em emo caipira, descemos dia destes no Hangar e vimos um showzão do Bella e o Olmo da Bruxa, banda do Rio Grande de Sul. Sim, a banda não é paulista, mas se encaixa perfeitamente na cena que inclui nomes como Chococorn and the Sugarcanes, Chão de Taco, Viúva Fantasma, Mães Católicas e Jonabug. “A Melhor Música do Mundo” é um single do ano passado, mas está ganhando uma sobrevida por agora, talvez na hora certa. Uma canção confessional bonita sobre o medo de errar, dores do começo da vida adulta. É para os jovens, mas vai ressoar em todos que ainda têm coração.
E ainda no clima baixo-astral gostosinho, o Terno Rei lançou outro single de sua série, certamente o mais melancólico do seu novo álbum, a faixa-título “Nenhuma Estrela”, canção que captura angústia de alguém em um relacionamento bem tóxico. “Não quero mais um trauma/ Não, não/ Cansei de insistir”, canta Ale Sater, como quem finalmente consegue dar voz ao sentimento difícil de querer escapar. Agora estamos pertinho do lançamento do álbum, 15 de abril.
Mais legal que ouvir Gab Ferreira cantando em inglês é ouvi-la em bom português. “Sabe amor/ A gente se esquece de olhar pro céu”, não é só um baita verso, é também grudento à beça. Combina perfeitamente com sua mudança sutil na sonoridade, mais soltinha, mais indie, mais psicodélica. É um convite. Ainda que cantar em inglês tenha colaborado para que seu público fosse muito além do Brasil, é falando direto aos brasileiros que ela pode estabelecer uma base bem legal por aqui. Vamos ver como vem seu primeiro álbum, que também se chamará “Carrossel”.
A cantora maranhense Enme traz do Nordeste um bom respiro ao rap nacional. Com seu flow veloz e explorando uma mistura de afrobeat, amapiano e reggae, chega sem medo a um som perfeito para pistas de dança. Os refrões, então, são pop e deliciosos. O mineiro FBC é o feat. perfeito para esta música, ele também um explorador da mesma vertente meio disco. Somzão. Hit.
O boom de Marina Sena com sua estreia, “De Primeira”, foi imenso. O tratamento eletrônico e pop de olho na tradição da MPB ganhou as pessoas e Marina foi de independente ao mainstream rapidamente, um processo sempre violento com o artista. Para dar um exemplo, o global “Fantástico” fez uma matéria com ela de olho no bullying da internet com sua voz tão particular. Quando o “Fantástico” precisa explicar algo é porque todo mundo está na febre. De trilha sonora da pandemia até a volta dos shows ao vivo, Marina foi ganhando fãs e haters na mesma proporção e via qualquer fala sua virar uma polêmica, em especial qualquer coisa envolvendo sexo. Seu segundo disco, “Vício Inerente”, capturava esse segundo momento, agora com grana e vivendo em SP. Deu certo, mas tinha algo de estranho no ar _ Marina parecia menos à vontade. Pouco tempo depois, romperia com Iuri Rio Branco, seu parceiro de vida e arte até ali. O que viria a seguir? “Coisas Naturais” é a melhor resposta possível. “Descalça numa ilha”, Marina parece se reencontrar com o que ama e dá um passo adiante no que “De Primeira” fez de melhor: recompor o que se entende como MPB sem não dar as costas para nossa latinidade e para os gêneros brasileiros e populares estigmatizados por serem periféricos: do arrocha ao funk. “Anjo”, nossa favorita até aqui, leva sua voz para lugares inéditos e conecta bossa nova com Mutantes. “CARNAVAL” é uma sacada e tanto – curtinha, safada, frenética e com bateria de escola sampleada (oi, Rosalía!). Gal Costa, sua referência maior e personagem presente na capa do novo álbum, ficaria orgulhosa. Essa proposta faz mais sentido que seu confuso show cantando o repertório da Gal. Aliás, será que os festivais vão finalmente dar um fim ao “canta e convida”? Para artistas respirarem fundo e livres como Marina faz aqui, seria fundamental o mercado andar junto com tal atitude. O mesmo vale para o público, parte dele parece mais engajado em chamar ela de subcelebridade por namorar um influenciador – homens não costumam receber essa cobrança, né? O artista não melhora sozinho. Mas Marina não se espanta com isso. Quando a jornalista e apresentadora Roberta Martinelli perguntou a ela o que é “Cultura Livre”, sua resposta não virou meme, mas foi reveladora: “Visão”. Enxergar a real é para poucos, de fato. E Marina Sena parece estar bem segura neste grupo.
Cada novo movimento de Mahmundi expressa sua curiosidade infinita. “Irreversível”, sua primeira inédita desde o álbum “Amor Fati”, lançado em 2023, mostra sua conexão com um novo parceiro musical, Adieu – produtor que também aparece em dois sons do novo da Marina Sena. Dos velhos amigos, Marcelinha traz Castello Branco, parceria de dez anos já. Tem quem vai ver na faixa um restabelecimento de Mahmundi com seu período mais eletrônico do começo de carreira – aliás, por onde anda seu EP “Efeito das Cores”? O álbum não está nos streamings. Daqui soou mais como um passo novo, adiante. A faixa também marca outra mudança na carreira da artista carioca. Após uma fase numa major, Mahmundi trabalha agora com a distribuidora estadunidense UnitedMasters, empresa norte-americana que se expande no Brasil com a promessa de colaborar com o mundo independente. Acompanhemos.
Até agora há pouco, o duo Superafim era praticamente um segredinho que corria na CENA. A parceria dos ex-CSS Adriano Cintra e Clara Lima tinha soltado algumas coisinhas, mas agora é para valer. O EP “MOUTH” reúne cinco composições, tudo na linha que ficou consagrada no Cansei – indie rock/eletro do bom. O material é todo em inglês, o que talvez dificulte uma conexão imediata. Mas o bom humor característico da dupla e a incrível de construir canções pegajosas estão todos no disco.
Adaptando uma salsa pouco conhecida de Rey Reyes, Julia Mestre mostra em mais um single do seu próximo álbum que pesquisa bem mais que a música brasileira dos anos 70. “Vampira” se conecta com a música gringa dos anos 80, em especial o Michael Jackson de “Thriller”, e também abraça a latinidade. “Sempre tive um fascínio por canções que transitam entre o português e o espanhol, até porque minha mãe é espanhola, e essa mistura sempre esteve presente na minha vida.” Estamos vendo.
O humor peculiar da Fresno está em ação na edição deluxe de “Eu Nunca Fui Embora”. Com versões ao vivo de algumas músicas e versões alternativas, as que ganharam roupagem acústica ficaram nomeadas como “sabor churrasco” – uma homenagem à figura responsável pelo violão nos churrascos, tão injustiçada por sempre tocar mal ou sempre tocar as mesmas músicas. O erro da Fresno, talvez, foi apenas não deixar essas versões realmente toscas ou churrasquentas, digamos. Na real, na real, ficou um acústico beeeeem do chique.
11 – Jadsa – “Big Bang” (6)
12 – Josyara – “Sobre Nós” (7)
13 – Clara Bicho – “Cores da TV” (8)
14 – Rael – “Onda (Citaçaõ A Onda) (com Mano Brown e Dom Filó) (9)
15 – Leves Passos – “Ecos do Invisível” (10)
16 – Cajupitanga e Arthus Fochi – “Flamengo” (11)
17 – Djonga – “Demoro a Dormir” (com Milton Nascimento) (12)
18 – Jovens Ateus – “Mágoas – Dirty Mix + Slowed Reverb” (13)
19 – Danilo Moralles – “Fervo de Amor” (14)
20 – Celacanto – “Dançando Sozinho” (15)
21 – Arnaldo Antunes – “Pra Não Falar Mal” (com Ana Frango Elétrico) (16)
22 – Ogoin & Linguini – “Vícios Que Eu Gosto” (17)
23 – Bufo Borealis – “Urca” (18)
24 – Terraplana – “Todo Dia” (19)
25 – Áurea Semiseria e Deize Tigrona – “Isqueiro” (20)
26 – Charanga do França – “Charanga Pagodão” (21)
27 – Marina Melo – “Prometeu” (com Maurício Pereira) (22)
28 – Vera Fischer Era Clubber – “Fantasmas” (23)
29 – Apeles – “Mandrião (Vida e Obra)” (24)
30 – ÀIYÉ e Juan De Vitrola – “De Nuevo Saudade” (25)
31 – Nina Becker – “Praia, Cinema e Carnaval” (26)
32 – Dadá Joãozinho – “As Coisas” (com Jadidi) (27)
33 – Getúlio Abelha – “Toda Semana” (28)
34 – Siba – “Máquina de Fazer Festa” (com Ronaldo Souza) (29)
35 – Gabriel Ventura – “Fogos” (30)
36 – Nyron Higor – “São Só Palavras” (31)
37 – BK – “Só Quero Ver” (com Evinha) (32)
38 – Jamés Ventura – “Noites de SP” (33)
39 – Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro – “Nova Era” (34)
40 – Heal Mura – “Wu Wei” (35)
41 – BK – “Só Eu Sei” com Djavan e Nansy Silvvz (36)
42 – Rei Lacoste – “Sem Paz” (37)
43 – Menores Atos – “Pronto pra Sumir” (38)
44 – Panteras Venenosas – “Ai Que Saudade” (39)
45 – Igor de Carvalho – “Pra Te Esquecer” (40)
46 – BaianaSystem – “A Laje” (41)
47 – Maré Tardia – “Já Sei Bem” (42)
48 – Bem Gil – “Sobe a Maré” (com Domênico Lancellotti) (43)
49 – Thiago França e Rodrigo Brandão – “Young Lion” com Sthe Araújo e Egar (44)
50 – Vitor Milagres – “Um Barato” (45)
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* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a banda paulista Metade de Mim.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.