Top 50 da CENA – A semana é da Bebé. Um “tal” de Erasmo Esteves chega em segundo. Com uma ajudinha de Tim Bernardes

Nesta semana celebramos a jovem Bebé, saudamos Erasmo Carlos e até colocamos quase que frente a frente dois filhos de Mauricio Pereira: Tim e Chico. Ainda tem Julia Branco falando sobre transições e o Maglore sendo um pouco Nirvana, mas o Nirvana acústico – explicamos melhor tudo isso logo abaixo:

Supervoz e supercompositora, Bebé arrasou em sua estreia, um discão lançado em 2021 que leva seu nome, “Bebé”. Inventiva, dona de um som diferente do habitual na música brasileira, ela é uma jovem ligada a seu tempo com um acervo musical imenso na mente – ela sabe cantar todos os standards de jazz, por exemplo. Bk, Carlos do Complexo, Qinhones, Dadá Joãozinho – quem foi esperto convocou Bebé para dar um help. “Assome” é a primeira amostra de seu novo trabalho – ainda sem nome. Tem um astral quase minimalista, pouca guitarra, pouca percussão, algum sintetizador. Poucas notas e a voz usada como instrumento via sampler. No Twitter, Bebé deu três sugestões para você escutar “Assome”: 1 – com o som mais alto possível, sentindo o grave e dançando pelo espaço, 2- sonzinho ambiente trocando carinho com o/a baby, 3 – bem baixinho no repeat para mimir. Testa aí. Funciona.

Erasmo Esteves era o nome real de Erasmo Carlos aka O Tremendão aka Gigante Gentil. Seu nome de batismo é o nome do seu primeiro álbum póstumo. A partir de ideias prontas que ficaram pelo caminho e ideias que ainda estavam só no rascunho, diversos artistas completam o trabalho que Erasmo deixou visando o futuro – conceitualmente este disco seria uma continuação de seu último trabalho em vida, “O Futuro Pertence à Jovem Guarda”. Pode segurar o choro enquanto escuta o próprio Erasmo cantarolar “Minha Bonita”, ainda imaginando uma letra completa e algo da melodia, e depois ouvir Tim Bernardes dar sequência ao que o mestre não teve tempo de fechar. Fora a emoção, impressiona também ver como em uma simples fita de demonstração o Tremendão já deixava todas as ideias de arranjo transparecer, mesmo que só quando sutilmente sugeridas. Coisa de mestre.

E, por falar no Tim, que tal lembrar do irmão mais novo dele, o ótimo Chico Bernardes? “Assim” é seu novo single e prévia de “Outros Fios”, seu segundo disco, programado para este semestre ainda. Não vá ouvir esperando algo parecido com o Tim ou O Terno: é outra coisa. Parecido mesmo é a capacidade de jogar em todas as posições. Em “Assim”, Chico é o responsável por vocais, violões, percussão, baixo, synths e kalimba. Só não cuidou da bateria e do vibrafone, que ficaram nas mãos de Christopher Bear, batera do Grizzly Bear. 

Kurt Cobain abre o Acústico MTV do Nirvana avisando que vai tocar “About a Girl” e dá uma advertência ao público: “É uma música do nosso primeiro disco, a maioria aqui nem deve conhecer”. A piada mal humorada é a deixa para entregar uma música melodiosa e doce, algo que ninguém esperava muito do Nirvana. Em seu álbum acústico, que não é da MTV, o Maglore meio que repete o feito ao jogar de cara uma canção do primeiro álbum que talvez muita gente ainda não conheça – especialmente se tratando de uma banda que foi conquistando seus milhares de fãs com muitos anos de estrada, na dura luta que é a cena brasileira. Teago não faz a malcriação de alfinetar o público por qualquer ignorância, mas ao rememorar algo tão bonito do passado é como se avisasse a todos que o compositor talentoso e que hoje faz a cabeça de muitos nomes da MPB sempre esteve ali e já sabia fazer chorar. Que música bonita.

“Baby Blue” é o nome do segundo disco lançado por Julia Branco, cantora, compositora e atriz. Lançado no ano passado, o álbum produzido pela súper Ana Frango Elétrico ganhou um novo capítulo com um vídeo para sua faixa-título, “Baby Blue” – um trabalho que amplia os sentidos impressos na letra da música, uma composição sobre transição e novas fases da vida escrita antes e durante da gravidez da própria Júlia, que rolou no contexto da pandemia – outra carga e questão que deixa as emoções todas expostas.  

Don L sabe de algo que também sabemos, só não conseguimos ainda colocar em palavras. Mas, sorte a nossa, ele sabe. O rapper de Fortal tem a manha de bater a chapa de nossa fraturada e esquisita realidade. Só que isso não significa um texto direto e reto. Ele precisa ser mais e mais poético para alcançar o inalcançável – em contrapartida, exige de nós um tiquinho mais de atenção. O que soa incômodo no fim de cada dia nosso? Que ânsia é essa pelo futuro enquanto perdemos o presente – às vezes diante de tudo que sonhamos (ou sonharam para a gente?). É, Caetano, nós também não sabemos bem a razão, mas nos sentimos um pouco mais tristes do que antes. A boa night de Don L rende um insight – e ele puxa uma angústia, como já escreveu Fernando Sabino. Cabe a nós analisar ou não. E, tudo bem, tem dias que é melhor nem pensar. Para mais camadas: visite o vídeo da música que dialoga com cinema mudo e com a fotografia de Claudia Andujar. 

Lançar uma música é uma coisa trabalhosa. Envolve muita gente. Até um som chegar ao seu ouvido, acredite, dezenas de pessoas trabalharam naquilo diretamente ou indiretamente. Fora a música em si, depois de pronta é preciso press release, textos, posts, vish, muita coisa. Para um artista lançar na boa um som sem mais explicações e ainda assim alcançar seus ouvintes é necessário cruzar uma forte arrebentação. O mar é tão nervoso que às vezes até nomes muito populares não dão conta. É questão de momento. E Flora Matos está neste lugar hoje. Soltou “Inventei o Seu Jeito de Amar” sem dizer mais nada. Tudo está na música. Nesta semana, ela escreveu no seu Instagram que vem álbum novo aí – assim, ainda cheia de mistério.

Quando Anitta era jovem de tudo, seu mp3 player no colégio ficava entre o indie  – amava Strokes – e o emo – amava Fresno. Também tinha tempo para curtir o Bonde do Rolê e sua bagaceira funk bacanuda. Corta para 2024, quando ela tem a chance de pedir para o bonde do Gorky, uma das mentes por trás do Bonde, uma música que lembrasse sua antiga banda. O resultado é “Grip”, que tem a mistura que fez o grupo de Curitiba ficar famoso: funk + melodias bem humoradas + guitarras distorcidas bem podreiras. Só faltou uma letra mais sacana…

Céu não poderia encontrar um nome que representasse mais o Brasil do que “Novela”. Mas talvez a metáfora aí seja menos com o Brasil e mais com a textura e velocidade de produção proposta no álbum. Menos eletrônico que os anteriores – fora ser o primeiro trampo autoral após um disco acústico e um de releituras -, “Novela” representa um “back to basics”, gravado em esquema quase ao vivo com banda, sem muito espaço para elaboração – ritmo de gravação de uma novela televisiva, que pode  ser exibida e funciona até em baixa resolução, como a capa do disco. É Céu em discurso direto, sem rodeios.

Trago seria uma banda? Seria mais que isso? É que o Trago, projeto que reúne Tulipa Ruiz, Gustavo Ruiz, Rica Amabis e Alexandre Orion, trabalha música, artes visuais e realidade na mesma medida – o que pode ser chamado de projeto transmídia. O novo single da turma é um relato da rotina do trabalhador – e faz valer a tese do geógrafo Milton Santos: são as camadas mais pobres da sociedade que enxergam a realidade como de fato é. É o trabalhador que entende mesmo como o mundo (des)funciona – não é por acaso que virá dele a (re)solução.

11 – Luiza Brina – “Oração 2 (com Silvana Estrada)” (6)
12 – O Grilo – “Manual Prático do Tédio” (7)
13 – Duda Beat – “q prazer” (8)
14 – Cátia de França – “Fênix” (9)
15 – Rodrigo Mancusi – “Veneno” (10)
16 – Papisa – “Fronteira” (11)
17 – Varanda – “Vá e Não Volte” (12)
18 – Taxidermia – “Clarão Azul” (13)
19 – Mirela Hazin – “Delírio” (14)
20 – Inocentes – “São Paulo (Acústico)” (15)
21 – Bruno Berle – “Te Amar Eterno” (16)
22 – Fresno – “Quando o Pesadelo Acabar” (17)
23 – Pabllo Vittar – “Pra Te Esquecer” (18)
24 – Tuyo – “Devagar” (19)
25 – Irmãs de Pau – “Megatron” (20)
26 – FBC – “Atmosfera” – Ao Vivo (21)
27 – Tom Zé – “Jesus Floresta Amazônica” / ”Danilo Constelação” (25)
28 – Haroldo Bontempo – “Risada (com João Donato)” (27)
29 – Tássia Reis – “Mais Que Refrão (com Rashid)” (28)
30 – Jota Ghetto – “Michael B. Jordan na Fila do CAT” (29)
31 – Deize Tigrona – “25 de Abril (com Boogarins)” (30)
32 – Jujuliete –  “Dominatrix” (31)
33 – Apeles – “In God’s Hands” (32)
34 – Amaro Freitas – “Viva Naná” (34)
35 – Sofia Freire – “Autofagia” (35)
36 – Carne Doce – “Cererê” (36)
37 – Kamau – “Documentário” (37)
38 – Josyara – “Ralé/Mimar Você” (38)
39 – Maria Maud – “02.02” (39)
40 – Madre – “Sirenes” (40)
41 – Raidol – “Imensidão” (41)
42 – Rodrigo Campos – “Gamei” (42)
43 – Chinaina – “Roubaram Minha Jóia” (43)
44 – Dead Fish – “11 de Setembro” (44)
45 – Vandal – Violah (45)
46 – Clara Bicho – “Luzes da Cidade” (46)
47 – Parteum – “’12 6 10” (47)
48 – GRIYÖ – “Afropenobeat” (48)
49 – Rico Dalasam – “Jovinho” (49)
50 – Ogoin & Linguini – “Quando Tudo Começou” (50)

***
* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a cantora paulista Bebé, em foto de Wallace Domingues.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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