Enquanto esperamos o nosso verão por aqui, os gringos olham para o final do deles. Final decretado por ninguém menos que o senhor Tame Impala. Mas mesmo na entressafra muita coisa boa segue saindo. Da quente (e de inspirações brasileiras) Amaarae até o mais brasileiro dos gringo, nosso amigo Devendra Banhart.
Falou-se tanto sobre de quem seria o verão seguinte ao reinado de Charlie XCX em 2024, que Kevin Parker não só tomou a coroa para si como também chegou decretando o fim da festa. Caramba, sr. Tame Impala. O fim do verão nas mão dos australiano vem em ritmo de verão do amor em uma rave de sete minutos, uma indicação forte de que o futuro do Tame Impala pode ser por caminhos mais eletrônicos do que seu roqueiro ínicio. Estamos prontos para a viagem, Kevin.
A cantora americana Ammarae aproveitou bem sua passagem pelo Brasil no ano passado. No que ela descreve como uma noite mágica em terras brasileiras, começou o rascunho do seu single “Girlie Pop!”, som delicinha onde ela queria nos dar a sensação de ganhar um beijo da nossa pessoa favorita no mundo. De fato, a faixa é sexy nesse grau. O triste é que um beijo curtinho. Inesquecível, mas curto demais. “Black Star”, seu novo álbum previsto para agosto, tem uma capa lindíssima onde a artista aparece em frente à bandeira de Gana, país de seus pais e onde chegou a viver por uns tempos.
Foi Tim Bernardes e Rodrigo Amarante que de certa forma nos apresentaram a mexicana Silvana Estrada. É que colamos no som dessa artista mexicana depois de ela compartilhar uma turnê com os nossos brasileiros. E que timing. Em pouco tempo, ela lançou alguns singles e agora anuncia seu novo álbum, “Vendrán Suaves Lluvias” (“Virão Suaves Chuvas”, em tradução livre). Em suas palavras, um trabalho escrito na sua busca por si mesmo e também como resposta a tanto ódio no mundo. “Tentando transformar o desconforto em esperança”, escreveu Silvana. Como primeiro gostinho do álbum, ela soltou a dolorida “Dime”, de versos como “Ao menos me deixe ir embora/ Porque eu te amo e quero te esquecer”. Doeu aqui.
Com um visual de desktop do Windows mais antigão possível, Hayley Williams soltou 17 músicas inéditas em seu site, praticamente um álbum solo sem grande alarde ou explicações. O visual do site é antigo, o modelo de lançamento é meio antiquado, mas o material é fresco, aparentemente. Amamos a simpática e minimalista “Love Me Different”. Parece ter sido feita no quarto da própria artista com recursos mínimos. Interessante demais. Fora que uma das inéditas apareceu antes na rádio pública de Nashville para ajudar a estação em sua campanha de financiamento após os cortes do governo Trump, um movimento que pode acabar com toda a forte rede de rádios públicas dos EUA.
Indigo de Souza arranca de si tudo que tinha guardado de Stevie Nicks na pérola “Heartbreaker”, talvez até pedacinho de Dolly Parton. A faixa é um dos pontos altos do seu novo álbum, “Precipice”, trabalho de muitas facetas. Se “Heartbreaker” é quase um country, a faixa seguinte, “Pass It by”, já joga na gente um dreampop, enquanto a seguinte, a homônima “Precipice”, caberia até em um disco do Justin Bieber. E isso é elogio, ok?
O Automatic se firma como uma das nossas mais novas obsessões. Oferecendo pós-punk munidas de baixo, bateria, sintetizadores e nadinha de guitarra, Izzy Glaudini, Halle Saxon e Lola Dompé seguem escrevendo música para combater o cinismo deste mundo em franco declínio. “Mercury” é mais uma dessa depois da ótima “Is It Now?”. “Don’t sleep your life away”, cravam em um dos versos.
Oba! Depois do Oasis soltar “Slide Away” ao vivo em Cardiff, temos “Cigarettes & Alcohol” ao vivo em Manchester, indicando de vez que será padrão durante a turnê de reunião uma gravação oficial a cada série de shows. Pelo menos é o esperado. Essa versão arrepiante tem direito a Liam e seu “fucking biblical” e dá para “enxergar” a galera “fazendo o Poznan”.
Por falar em Oasis, Noel é um dos convidados de luxo em “Find El Dorado”, novo álbum do modfather, como gosta de dizer o pessoal da revista “Mojo”, Paul Weller. É um disco de covers, Weller selecionou canções pouco óbvias de diversos artistas que ama – Richie Havens. The Kinks, The Flying Burritto Brothers, entre outros. A escolha mais surpreendente e ao mesmo tempo a mais conhecida é uma do Bee Gees, a clássica “I Started a Joke”, aquela que o Faith No More fazia piada.
Tom Skinner é o nome menos conhecido do The Smile, trio que mantém com os radioheads Thom Yorke e Jonny Greenwood. Menos conhecido, sim, menos inventivo, não, como comprova seu material solo. Para se ter ideia, seu álbum solo mais recente, “Voices of Bishara”, teve um método de gravação pouco usual. Foi gravado em uma sessão de um dia com todos os cinco músicos em uma salinha e depois Skinner passou um tempão editando, criando loops e reconfigurando o material. Um processo de improviso e trabalho coletivo semelhantes percorrem seu novo trabalho, “Kaleidoscopic Visions”.
Foi na época de seu álbum “Cripple Crow”, lançado em 2005, que Devendra Banhart conquistou a atenção brasileira tamanho era seu gosto pela gente, firmando uma amizade com Rodrigo Amarante e até encontrando seu ídolo Caetano Veloso. Lá se vão 20 anos, uau! Agora Devendra relança o álbum remasterizado e repleto de lados B, faixas ao vivo e versões demos das canções. A doce “I Feel Just Like a Child” soa ainda mais simpática em seu registro tosquinho.
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* Na vinheta do Top 10, Kevin Parker, o dono do Tame Impala.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.