Top 10 Gringo – Só as minas. Horsegirl, Japanese Breakfast e Courtney Barnett mandam na semana das músicas novas

Nesta semana a turma estrangeira entregou, viu. Que porrada de álbuns e singles legais que foram lançados. E meio que tem um pouco de tudo, do indie desleixado do Horsegirl ao R&B luxoso da Kelela. Até o Neil Young deu as caras, de forma indireta, mas seu nome surgiu duas vezes.  

Uma tendência notada semana a semana por aqui em 2025 são os discos e músicas que especulam sobre o mal-estar de um ano pesado politicamente. Mas a vida não é só isso. Indo na contramão da corrente, chega o trio americano feminino Horsegirl com um álbum docemente desajeitado e fora do seu tempo. É como se elas transportassem a gente direto para uma tarde ensolarada da nossa juventude, quando há tempo de visitar um amigo no meio da tarde só para ficar de bobeira – uma materialização da vibe de “Son of a Gun” dos Vaselines, banda escocesa cult que tem muito a ver com o jeitinho Horsegirl de ser. O trio formado por Nora Cheng, Penelope Lowenstein e Gigi Reece é assim: não leem resenhas sobre elas e ⅔ do trio ainda está na faculdade – fazem inglês na NYU. E em tempos de excesso optam por manter no segundo álbum, gravado no histórico loft do conterrâneo Wilco, a simplicidade do espírito de garagem da banda: duas guitarras e bateria e só. Ocasionalmente algum detalhezinho externo surge, um acompanhamento de corda, uma leve percussão, tudo o mais sutil possível. Aliás, o violino que surge ao longo do disco é tocado por Nora, que nunca estudou o instrumento. Essa abordagem iniciante e curiosa é um bom resumo do que há de bom no Horsegirl.  

Japanese Breakfast, projeto de uma mulher só tocado pela brilhante Michelle Zauner, deu mais um sinal de seu próximo álbum. “Mega Circuit”, uma conhecida dos fãs por já ter sido tocada ao vivo, mostra um retorno de Michelle ao tom mais soturno dos seus primeiros trabalhos. A letra é um comentário sarcástico sobre essa geração de homens que “na ausência de modelos positivos, encontrou refúgio na violência e na intolerância”, anota Michelle. “Ele vai me fazer sofrer do jeito que eu deveria”, canta em um dos versos, diante da possibilidade de não atender às expectativas de um desses homens frágeis. A ironia do verso machista é aumentada pela opção de fazer uma música meio country, gênero onde esse mesmo verso já circulou tantas vezes de maneira afirmativa. No fim da canção, ela dedica um verso “aos garotos desiludidos com o mundo que carregam em seu coração orações toscas de homens velhos”. É a perfeita descrição de um jovem que acredita, sei lá, no Elon Musk como liderança. Diante desse cenário terrível, a gente entende por que o próximo disco dela carrega o nome de “For Melancholy Brunettes (& Sad Women)”. Tá foda, homens. PQP. O álbum está previsto para março. Ele foi gravado no tradicional (e reaberto) Sound City Studios com produção de Blake Mills, que já trabalhou com Fiona Apple, Alabama Shakes, Laura Marling, entre outros artistas.

Você já deve ter visto alguma das apresentações acústicas de grandes músicos em prol do Bridge School, organização fundada por Pegi Young, mulher de Neil, após ela ter grande dificuldade em encontrar uma escola para seu filho com paralisia cerebral. O casal sempre lutou para arrecadar fundos para a Bridge School. Agora em 2025, uma coletânea chamada “Heart of Gold: A Tribute to Neil Young” também vai contribuir nesta missão. Entre os ajudantes estão Courtney Barnett, Eddie Vedder, Lumineers, Sharon Van Etten, Mumford and Sons, entre outros. E só de ouvir a Courtney encarando “Lotta Love”, mais conhecida na voz de Nicolette Larson, gostaríamos que ela gravasse tudo do velho Young.

Imagina como está a cabeça do Andy Bell por esses dias. Instantes antes de provavelmente se meter na grandiosa tour de volta do Oasis, o guitarrista do Ride vai jogando singles do seu próximo álbum solo como quem não quer nada. Tão nem aí que “apple green ufu” é uma brisa de oito minutos. Loucura tamanha que Andy tentou explicar a música juntando Led Zeppelin, Serge Gainsbourg e uma dose de absinto. Em tese, ele teria escrito ela como algo folk do Led e depois convertido para algo na vibe do compositor cult francês – é aí que entra o trago de absinto. Uma boa trilha sonora para  salas enfumaçadas. “Pinball Wanderer” será seu terceiro álbum solo.

Ano passado, Justin Vernon aka Bon Iver lançou um ótimo EPzinho chamado “SABLE”, um trabalho que marcou uma retomada de sua sonoridade mais folk, ainda que com muitos e muitos filtros. O que ele não contou na época é que o EP na real é o começo de “SABLE, fABLE”, seu próximo álbum. Para finalmente contar a novidade, ele entregou “Everything Is Peaceful Love”, uma espécie de lo-fi soul. O vídeo da música foi dirigido por John Wilson, da incrível série “How to with John Wilson”, disponível no Brasil pela Max. Para quem não está acostumado com o trabalho de John Wilson, o vídeo captura em edição primorosa uma certa beleza/terror da vida cotidiana em pequenos detalhes, um flagra nas pequenas (e quase sempre ignoradas) alegrias cotidianas. O melhor comentário sobre o material foi feito no Instagram por um fã: “Ainda existe amor e bondade neste mundo falido”. 

Em apresentação na Blue Note de Nova York, Kelela revistou de forma acústica músicas de seus quatro trabalhos até aqui (os álbuns “Take Me Apart” e “Raven”, o EP “Hallucinogen” e a mixtape “Cut 4 Me”). Tudo muito intimista e chique. Poderia ser um acústico MTV daqueles, ficou faltando só a logo da Music Television. Tanto que tem até o tradicional cover de luxo que uma apresentação dessas merece, uma versão maravilhosa para “Furry Sing The Blues” da Joni Mitchell. Não conhece? Vá ouvir a original, que tem participação de um certo Neil Young… Lindeza.

O fim da pequena tour dos ingleses do Ezra Collective pela América do Sul, incluindo uma belíssima passagem pelo Brasil com show no Cine Joia, ganha um brinde com o single “Body Language”, parceria com a cantora Sasha Keable, inglesa também, mas de raízes colombianas. A faixa esbanja uma pegada latina via Londres. Lembra uma ideia que o baterista Femi Koleoso deu em sua entrevista à Popload, ao dizer que quando toca samba quer soar como um londrino tocando samba, sem truques, sem camuflar a mistura e a origem. Dito e feito. 

Guitarra, baixo e bateria. Quem sempre está na busca de um bom trio básico e que forneça algumas porradas com muito grito e distorção vai encontrar tudo issono trio Abdomen, grupo muito bom dos Países Baixos. Eles ainda estão por ser descoberto por mais gente, outro trunfo para os caçadores de novidades. O som da banda holandesa lembra o grunge mais podre possível: a diferença é que eles ouviram menos metal e mais música psicodélica, talvez. Fora que a postura do vocalista/guitarrista remete a de um certo loirinho do grunge. “Damage Tool” termina aos berros e com todos os instrumentos demorando a parar de soar. Gostamos bem. “Yes, I Don’t Know”, segundo álbum deles, será lançado nesta semana.

Já contamos por aqui a história do Panchiko, banda dos anos 90 que não virou, mas foi ressuscitada quando a internet achou uma demo perdida deles e transformou o fracasso em fenômeno – um daqueles dias em que a internet faz algo bom, sabe? Eles preparam um novo disco e entregaram mais um single, o pop perfeitinho “Honeycomb”. Até tentam estragar o clima doce da música com uns efeitinhos bizarros, mas a vontade de soar meio Brian Wilson fala mais alto.

Apesar do nome, o duo formado por Eric C. Davies e Claudia Vulliamy não é de Oslo. Eles são de Bristol, Inglaterra, e estamos pesquisando certinho para ver se são gêmeos mesmo. Tudo indica que não, mas vai saber. O que dá para saber imediatamente: é bem interessante o dream pop carregado de sintetizador da banda. Uma sonoridade perfeita para o tema de “I Wake Up Slowly”, um som sobre aquela etapa do dia onde sonho e realidade estão ligeiramente entrelaçados. Eles ainda não têm disco, mas em março lançam seu segundo EP, “Tresor”. 

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* Na vinheta do Top 10, o trio americano Horsegirl.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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