É uma semana especial quando o seu primeiro lugar da semana é o Pulp. Mais uma banda que a gente nunca imaginou que ia poder listar por aqui, mas que ressurge das cinzas para ter a honra de aparecer em um Top 10 nosso num lugar bem apropriado. Sem clubismo indie, mas se Beatles e Rolling Stones já fizeram isso, Jarvis Cocker e companhia também iam querer.
Quando uma banda retorna de um longo hiato (mais de 20 anos neste caso) para um disco de inéditas, as expectativas precisam ser baixas. Mas, single a single, o Pulp foi deixando a gente confiante na volta da banda. E o recém-lançado “More” respeita a excelência do grupo. No trabalho dedicado ao baixista Steve Mackie, morto em 2023, Jarvis Cocker, Nick Banks, Mark Webber e Candida Doyle mostram que ainda têm muito a dizer. “Tina”, por exemplo, conta uma história curiosíssima. É sobre uma pessoa com quem Jarvis sempre cruzou pela vida, mas nunca teve a capacidade de puxar uma conversa com ela. O que será que ele perdeu simplesmente por não estabelecer contato? A pergunta serve para o Pulp. O que perdemos nesses 20 anos de silêncio deles?
O escritor Gaudêncio Torquato escreveu uma vez: “A flor de lótus é uma belíssima flor que nasce no meio da água lodosa, fétida”. É por isso que “Lotus” é o nome do novo álbum da nossa amiga rapper britânica Little Simz, que já nos visitou em um Popload Festival. A artista classudíssima sentia estar nesse pântano fétido (o da água lodosa, não o Popload Festival haha) quando encerrou sua parceria com o produtor Inflo e até cogitou abandonar a música. “Lotus” é sua carta de sobrevivência, a flor nascida no lixão. Em diversas músicas aqui, ela abre o jogo sobre suas dúvidas e sentimentos ruins sem largar mão de um certo bom humor. Britânicos.
O grupo americano Turnstile decidiu de repente ser a maior banda de rock do mundo. Não é por acaso que “Never Enough” foi gravado em Laurel Canyon, casa que abriu para os Chili Peppers na época do “Blood Sugar Sex Magik”. Aqui eles borram de vez qualquer divisão clara entre hardcore e dream pop sugerida no disco anterior, “Glow On”. Sem abrir mão de descer a mão, tipo em “Sole”, eles lembram muito a virada do Chili Peppers do funk para um rock mais radiofônico. “I Care” caberia fácil em “By the Way” de tão doce. Agora resta agendar uma turnê por estádios no mundo todo.
Não satisfeita em já ter um dos discos do ano , o assombroso “Perverts” – tão alternativo que não é contado como um álbum em sua discografia -, Ethel prepara outro, chamado “Willoughby Tucker, I’ ll Always Love You” para agosto. Apesar da sonoridade mais aconchegante, não deixa de experimentar. São oito minutos de canção e a retomada do personagem Tucker, uma representação do seu namorado de Ensino Médio. Em termos de história, o próximo álbum será baseado em eventos anteriores ao seu primeiro disco, “Preacher’s Daughter”.
De tempos em tempos, uns moleques de cabelo ensebado decidem refundar o rock de garagem. Asher Case, Kai Slater e Isaac Lowenstein, com seus mal completos 18 anos, são a bola da vez nesta missão. Apesar de parecerem saídos de uma versão lado B de “Stranger Things”, a bandinha indie de Chicago abdica de suavizar o gênero para uma nova geração. É pancada.
Por falar em som garageiro, nada mal o retorno da banda californiana Wavves. Aqui, inclusive, soam até mais refinados do que o costume em termos de produção. Dá para dizer que a turma liderada por Nathan Williams nunca esteve tão próxima do pop punk perfeitinho de gravadora. E das rádios. E da galera.
A excelente Michelle Zauner escreveu uma música para os créditos de “Materialists”, novo filme de Celine Song (“Vidas Passadas”), com Dakota Johnson, Chris Evans e Pedro Pascal. A baladinha açucarada ficaria perfeita na voz de um Roy Orbison da vida.
Na data em que completou 50 anos de seu primeiro show, o Talking Heads finalmente lançou um vídeo oficial para seu maior sucesso. Não tinha MTV nos 1970 para impulsionar o conceito de “videoclipe”. E também não tinha Mike Mills nem Saoirse Ronan. A paciência leva à perfeição.
Ao menor sinal de onda retrô, é lógico que David Byrne já se posicionou contra ela. Na semana que seu Talking Heads voltou a ser assunto, ele anunciou um novo álbum solo, “Who Is the Sky”. Previsto para setembro, o disco terá participações especiais de “nossa” St. Vincent e de Hayley Williams, do Paramore. A big band Ghost Town Orchestra colabora nos arranjos com muitos sopros. É para dançar.
Esta é daquelas que doem, mesmo esperadas. O já bastante combalido músico americano Brian Wilson, histórico por qualquer lado que se olhe na música, até porque é fundador dos Beach Boys, nos abandonou sozinhos neste planeta. O adorado cantor, compositor, produtor, pianista etc., destes perto de serem chamados de gênio, já vinha sofrendo há tempos uma condição cerebral que não condizia com essa genialidade. A nós só resta mandar “good vibrations” para o Brian.
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* Na vinheta do Top 10, Jarvis Cocker, da banda inglesa Pulp.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.