TOP 10 GRINGO -Que pódio é este? A house da Beyoncé, a calminha do Mars Volta, o hip hop do Drake (hein?)

Alguma dúvida de que a Beyoncé estaria no topo do Top 10? A nova faixa da Queen B dominou a internet nos últimos dias em discussões acaloradas que foram muito além do mero gostei/não gostei habitual. Mas falamos mais disso no textinho dedicado à música. A semana ainda teve muitas outras coisas interessantes: o retorno de algumas das nossas bandas favoritas (Dry Cleaning após um ano, Mars Volta após “só” dez anos), canções sinceras sobre as próprias autoras (King Princess, Soccer Mommy e Tove Lo) e um disco que começa a percorrer o longo caminho de talvez ser o melhor do ano? (Perfume Genius, que aqui aparece apenas no quinto lugar, enquanto a gente tentar entender o que aconteceu).

Tanto tem sido falado do novo single da Beyoncé, música impactante que dá a primeira pista de seu novo álbum, “Renaissance”, que é até difícil se apegar a uma ideia original. No Twitter, os fãs de pop só faltaram se estapear em um longo debate de quem influenciou quem em trazer um pouco de house para as paradas – um papo complicado que sempre acaba esquecendo os verdadeiros influenciadores das novas tendências, fora uma confusão que mistura disco, house e techno, como se fosse tudo igual. Teve até site de economia dos EUA teorizando sobre a música, pensa. É o caso de esperar a Beyoncé, sempre misteriosa em seus lançamentos, falar um pouco mais sobre suas referências e por que “house agora” (né, Drake?). Para a revista “Vogue”, ela adiantou que o novo álbum foi lentamente construído ao longo da pandemia. Quem ficou muito feliz com a nova música foi a Robin S, a cantora de “Show Me Love”, sampleada aqui pela Queen B. Ficou surpresa em ver seu nome voltar a bombar do dia para a noite e agradeceu pela homenagem. No pitaco que nos cabe, musicaça!!

O famoso duo fez um supermistério, deixaram a gente teorizando por horas. O que a banda estaria aprontando? E era, sim, uma inédita. Após dez anos sem dar as caras, Cedric Bixler-Zavala e Omar Rodriguez-Lopez retomaram o Mars Volta e com uma música lindíssima. “Blacklight Shine” é curta e suave para os padrões da dupla e acentua uma forte influência de sons latinos, que sempre correram no sangue do Mars Volta, mas nunca esteve tão na cara. Já falamos que está lindo? A ideia de um disco novo nesse tom já nos anima. E lógico que eles não deram pista alguma sobre isso. Esperando eles enviarem uma nova charada. 

Make house music great again. Outro ser humano iluminado a botar house em sua música, em seu ambicioso e surpreendente (porque ninguém sabia que ia sair) álbum, o canadense Drake emplaca aqui no pódio uma parceria pesada com o enorme 21 Savage SEM usar a house, veja bem. Acho que a parte da house a galera ainda não entendeu, então por enquanto a mais famosa do álbum é este hip hop mesmo. E tudo bem, tá, Drake?

Curtinho e pegajoso o novo single de uma das nossas bandas prediletas recentes, no caso o quarteto pós-punks inglês Dry Cleaning. Tem tudo aquilo que a gente se apegou na banda, uma canção quase falada o tempo todo, que chega a ficar mais lírica na hora do refrão, em que, veja você, a Florence Shaw até canta, no sentido de cantar mesmo. A letra é um papo sobre levar as coisas mais na boa, sem deixar o cérebro pressionando cada ação da sua rotina. O próximo álbum da banda, o segundo trabalho deles, vai carregar o nome de “Stumpwork”, que em um rápido Google descobrimos que é aquele estilo de bordado em alto-relevo – o que deixa a capa do disco, que a gente adiantou por aqui há alguns dias em post, mais engraçada.  

Pense que a Pitchfork tascou um 8,6 neste disco. Pense que eles também citaram “Kid A”, do Radiohead, e “Low”, do David Bowie, na resenha. E, olha, estamos com eles desta vez. Perfume Genius chegou ousado em “Ugly Season”, seu novo álbum. Talvez o disco da maturidade de um artista que sempre chegou muito forte, mas que agora se apresenta sem medo de arriscar ser mais experimental e abstrato, como já indica a capa do trabalho. Daqueles para absorver lentamente, lentamente. Até morar nele por um tempo. 

Ao se aliar ao experimental produtor Oneohtrix Point Never, aka Daniel Lopatin, a norte-americana Sophie Regina Allison, aka Soccer Mommy, entrega seu disco mais diverso musicalmente até aqui _ lembrando que ela soma já três álbuns mais oficiais, digamos, e lançamentos anteriores quando seu bedroom pop era literalmente um pop feito… enfim… no quarto. Aqui ela alterna bem entre canções levadas muito pela companhia agradável de sua voz e outras pela guitarra, mas se arrisca como nunca em momentos mais soltos, como este em “Unholy Affliction”, com seu vocal mais denso levado por um forte baixo e ruídos eletrônicos – fora a letra tensa sobre um inatingível perfeccionismo. 

A incrível Mikaela Strauss está pronta para seu segundo álbum. Vem aí “Hold on Baby”, no final de julho. Em um papo sobre o novo trabalho, ela aponta que pela primeira vez deve falar mais sobre si mesma. Em suas palavras, um pouco mais fortes, “finalmente chegou a um ponto em que tive que virar o cano contra mim mesma. Eu não queria mais ter medo de falar sobre essas coisas. A infinita dicotomia de tudo o que me compõe. Eu não sou uma menina, nem um menino, uma lésbica, mas também gay, pois o dia é longo”. Não por acaso, os dois novos singles são em diferentes medidas sobre dores do amor e ficaram bem reunidas em um vídeo que mixa as duas músicas. Fora que “Too Bad” tem a maior cara de um hit pop rock com jeitão de anos 2000. Quem sabe emplaca nesse revival do período. 

Quanta emoção. Quem tá acostumado com a versão da Tove Lo mais festeira pode se surpreender com a moça se entregando forte no vocal de “True Romance”, daquelas músicas que vão crescendo, crescendo, com Tove levando o vocal do falsete até quase arranhar a garganta – tudo sem desafinar. E emoção é a palavra que parece representar bem o que ela pretende com seu novo álbum, “Dirt Femme. “São todos os meus sentimentos, pensamentos e perguntas reunidos em menos de 50 minutos sem respostas”, ela falou a respeito.  

Esta é para animar as melhores pistinhas indie, hein? Os ingleses do Foals voltaram muito em forma, como já indicavam os singles que anteciparam “Life Is Yours”, sétimo álbum da banda. Nem tem ganhado resenhas muito entusiasmadas lá fora, mas aqui a gente curtiu bem. Interessante, já que é um disco de renovação para o Foals, que se vê pela primeira vez apenas como um trio, formado por Yannis Philippakis, Jack Bevan e Jimmy Smith. Vale escutar tudinho na ordem, vibe muito boa em contraste forte com o álbum anterior da banda, mais sombrio. “Life Is Yours” parece recomendável para dias de sol no inverno brasileiro.  

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* Na vinheta do Top 10, a diva Beyoncé.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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