Top 10 Gringo – OIha o Hot Chip nas cabeças. O “x” Oliver Sim brilha em segundo. E os punks Viagra Boys chapam em terceiro

Uma semana sem hits óbvios. E nenhum problema com isso. Quer dizer, tem até um hit do ano passado resgatado pelo Tik Tok e tal, mas na nossa caça achamos uma porção de músicas que merecem bombar de tão pegajosas – de um Hot Chip dançante até uma pedrada com sax e tudo dos suecos do Viagra Boys. Isso tudo em um top que tenta abraçar o mundo. E cuja playlistinha nossa que acompanha já carrega mais de 200 grandes músicas deste ano, que ainda está na metade.

“Down”, primeiro single de “Freakout/Release”, oitavo álbum do Hot Chip, já tinha empolgado. E agora é impossível não sorrir com a beleza que é “Eleanor”, segundo gostinho que a banda britânica dá do novo trabalho. É daquelas que você já sai dançando nos primeiros singles. Ou então já chega no falsete com Alexis Taylor: “Reunited with that child that has lost its/ Father standing there, by his side and”. Uma música motivacional, daquelas sobre segurar a onda quando tudo está contra ou distante de você. Parece até uma resposta da banda aos tempos sombrios do mundo – um som que não dá muita margem para outra resposta que não seja um leve sorriso, pelo menos. Até porque uma das saídas sempre possíveis neste momento é dançar.

1/3 da banda The XX, o baixista Oliver prepara seu primeiro álbum como protagonista, o já mais que incensado “Hideous Bastard”. Do disquinho que vem por aí já tivemos algumas belas amostras: “Romance with a Memory”, “Fruit” e “Hideous”. É solo, mas nem tanto assim: a produção é do parça de banda Jamie xx. A dupla no novo single foi atrás de samplear a jóia “Smile” do Brian Wilson enquanto curtiam uma viagem pela ensolarada Austrália, para escapar do inverno britânico. Pensa no privilégio. Dele e, agora, nosso.

Nossa banda de rock sueca favorita está de lançamento novo. O Viagra Boys acabou de soltar “Cave World”, o terceiro álbum – agora são três discos em quatro anos, haja fôlego. Liricamente, o grupo investe contra a piora geral que parece ter tomado conta do mundo nos tempos recentes. “Troglodyte” detona alguém obcecado por armas, antivacina e fã de fake news… Pelo visto, esse tipo não é exclusividade nossa. Saca os quatro primeiro versos, que são bons exemplo da tônica do trabalho todo: “Ele vai trabalhar em seu computador/ Ele pensa em sua arma em casa/ Um dia ele vai ser um atirador/ Ele vai trazer sua arma para o trabalho”.

Brent Faiyaz está por aí desde 2013, quando lançou seu primeiro EP. Mais: ele tem até uma nomeação ao Grammy em uma participação especial em um som do rapper GoldLink. Mas talvez seja agora seu momento de ser descoberto por todos. Ano passado ele já começou a bombar mais após participar do disco do Tyler, The Creator. Agora solta um disco que conta com a participação do próprio Tyler e outros peso pesados: Alicia Keys e Drake te dizem algo? E mais ainda: este som com o Tyler teve a conquista mais ambicionada do momento – hit viral no TikTok. 

Das pequenas consequências dos tempos pandêmicos. Uma música sobre o fim de um relacionamento que conta com um pequeno verso que pode bater grande no coração de muita gente por aí: “Um ano sem separação, pode ter nos quebrado, baby”. A música é uma parceria de Mikaela Strauss com Aaron Dessner, do National. Altas chances de “Hold on Baby”, que saí no final de julho, colocar nossa King Princess em outro patamar. Um abraço nos corações quebrados por aí com um mar pop.  

Tem uma história clássica do rock da vez em que o Bono perdeu um caderno cheio de ideias para um álbum do U2. Algo parecido ocorreu com os canadenses do Alvvays. Após hitarem com “Antisocialites”, os trabalhos do próximo disco emperraram em questões delicadas: roubo de HD e uma enchente, inclusos. Mas deu tudo certo no fim: power pop fino para quem gosta de melodias, barulhos e um solo de guitarra desajeitado.  

Momento falha nossa, porque fazia muito tempo que a gente não se ligava no barulhento duo norte-americano No Age, que inclusive protagonizou o primeiro evento de shows da Popload na história, lá em 2009. A dupla formanda por Randy Randall e Dean Allen Spunt, que deu uma sumida depois de 2013, fase em que trabalhavam com a lendária Sub Pop, até que anda bem ativa nestes anos mais recentes: lançou disco em 2018, 2020 e agora já preparam mais um: “People Helping People”, belo nome. A gente precisa escutar com atenção os álbuns que a gente deixou passar, mas pelo novo single aquele duo do barulho se aventura agora por frequências menos ruidosas. Dá até para chamar de experimental e tudo. 

Não é só a música brasileira que o selo Luaka Bop, de David Byrne, gosta de divulgar pelo mundo – com consequências no próprio Brasil. O nome da vez é o nigeriano Alhaji Waziri Oshomah. Devoto islâmico, Alhaji combina o texto religioso a uma original mistura de ritmos folclóricos locais, highlife e pop ocidental. Garantia de 12 minutos felizes. 

Após dar uma passo em uma direção mais produzida em seu álbum mais recente, “Little Oblivions” (2021), a cantora e multiinstrumentista americana Julien Baker volta um pouco aos seus momentos voz e violão/guitarra no lado B “Guthrie”, canção que ficou de fora do disco, ainda que ela argumente que seja uma querida sua. E é mesmo uma bela e delicada música, com diferentes cenas e momentos e uma forte ideia: “Queria tanto ser bom, mas não existe isso”. Não é difícil imaginar, o nome da música é uma dedicatória de Baker à lenda folk Woody Guthrie, herói assumido dela.

Tem quem gosta, tem quem não gosta. A gente tem nossas questões… Mas não dá para falar tão mal assim do esforço da turma do grupo inglês “marreintinho” 1975 em tentar crescer. Este primeiro single do novo álbum, “Being Funny in a Foreign Language”, chega com cordas, vídeo em preto e branco e até a participação de Michelle Zauner, a Japanese Breakfast, como piscadela para os indies mais atentos. Ok. 

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* Na vinheta do Top 10, a banda inglesa Hot Chip, em foto de  Pooneh Ghana.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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