Faltamos semana passada, mas nesta não deixamos a bola cair, o que explica um Top 10 recheadíssimo já que temos muito para falar de discos que gostamos nas duas semanas recentes. Certo, Josh?
Seria mais um disco do Queens of the Stone Age, não fosse os contornos pessoais que invadiram o novo álbum da banda. Josh Homme, líder do grupo, revelou ter passado pela barra pesadíssima de um câncer, fora a briga pela guarda dos filhos após sua tumultuada separação com a cantora Brody Dalle. Perda, traição e frustração correm pelas linhas de “In Times New Roman…”, com a banda se arriscando até por ares mais pós-punk. “Paper Machete”, uma das exceções, investe no som que consagrou a banda – bem mais rocker, mas nem tão stoner assim – o solo vai agradar fãs de “Little Sister”, pois lembra bastante. “Paper Machete” significa machete de papel e faz um trocadilho com papel machê. Ao falar de uma arma falsa, mas cortante, Homme deixa a letra em aberto para justamente indicar traição.
Consegue pensar em algo mais chique que emplacar um feat da Madonna no seu álbum? A rainha do pop surge por três vezes ao longo do conceitual álbum “Paranoïa, Angels, True Love”, que é dividido em três atos, complementando o lançamento de Chris neste mesmo ano, “Redcar les Adorables Étoiles”, que funcionou como prólogo. É um trabalho maduro, bem acabado e com essa complexidade textual que deve render muito ainda. A co-produção de Mike Dean, que já trabalhou com nomes como Jay Z, Ye e Kid Cudi, se faz notar. Chris não desperdiça uma linha ou som. Para degustar com calma.
“Michael” é o novo álbum solo do rapper Killer Mike, que também pode ser encontrado em seu bombado projeto Run The Jewels ou tentando mudar o mundo em sua série no Netflix. O Killer Mike é bacana, tem muitos méritos, mas o que chamou a atenção de muita gente é que Mike conseguiu colocar Andre 3000, que anda sumidaço, para fazer um superfeat. Até num papo, Mike adiantou que o ex-Outkast prepara também seu disco solo – e a entrevista repercutiu tanto quanto a faixa. E esta música aqui pinçada também deve dividir os brasileiros, já que no texto Mike faz um comentário sobre “vir ao Brasil para relaxar” que pode irritar alguns.
Gostou do suave “Changes”, um dos muitos álbuns que os australianos do King Gizzard & the Lizard Wizard lançaram em 2022? Pois esqueça. Em “PetroDragonic Apocalypse; or, Dawn of Eternal Night: An Annihilation of Planet Earth and the Beginning of Merciless Damnation” (sim, esse é o nome do álbum), a banda vai em direção ao metal, mudando completamente os ares de sua produção. A primeira faixa do disco já chega com 8 minutos de duração. Saca? Mas talvez você já esteja ligado que essa é a pira do King Gizzard, sempre causando. A gente gostou. Vale notar que no próximo álbum eles igualaram a marca de discos de estúdios do poderoso Rolling Stone – a diferença é que os ingleses anciões estão nessa desde o começo dos anos 1960. O King Gizzard é de 2011!
E esse pós-punk do Devendra, hein? O norte-americano que sempre investiu num som mais solar ou psicodélico aparece noturno em “Twin”, single que antecipa seu próximo álbum, “Flying Wig”, previsto para setembro. Com produça de Cate Le Bon, Devendra já adiantou que a missão que a dupla assume neste trabalho é dar um ar mais humano aos sintetizadores. Estamos falando que o homem está pós-punk…
“The Death of Randy Fitzsimmons”, que será lançado em agosto, marca a volta dos suecos do Hives em quase dez anos de silêncio desde o lançamento de “Lex Hives”, em 2012. A fórmula da banda segue intacta, porradaria certeira e letras e postura bem-humorada. O alvo de “Countdown to Shutdown” é, veja só (!!!), as conversas fiadas que envolvem o mercado financeiro. É Hives against the Machine, pô.
Os norte-americanos do Fleet Foxes fizeram uma turnê pelos Estados Unidos com a cantora nigeriana Uwade. Nos bastidores, descobriram uma paixão em comum: Strokes. Por isso, em uma noite, eles se reuniram no palco para fazer uma versão doce da sentimental “Under Control”, que ao ganhar um ar folk soa ainda mais romântica. A versão ao vivo foi lançada no Bandcamp, vale dar aquela escapada dos streamings mais tradicionais para achar a joia.
A banda inglesa liderada por Katherine Parlour vem causando na ilha. Capa do “NME”, elogios de Courtney Love… Começou aquele bafafá envolvendo um quarteto de rock que só tem por enquanto uma música lançada. “Norwegian Wood” é inspirada no romance do importante escritor japonês Haruki Murakami, que por sua vez buscou inspiração na clássica faixa dos Beatles em “Rubber Soul”. Acreditamos no hype?
Mês que vem tem EPzinho novo do sempre interessante Bloc Party – que anda numa boa desde que retomou as atividades com álbum novo ano passado, o bom “Alpha Games”. “High Life” é o single que dá nome ao novo EP, é uma canção toda animada que faz uma pergunta interessante: você tá pronto para uma vida bacana? É meio que um chamado na linha “sacode a poeira e dá a volta por cima” – coisa que o Bloc Party soube fazer depois de um período em baixa.
Respeitem nossa empolgação. The Cure no Primavera Sound é uma senhora notícia. Ter a oportunidade de assistir Robert Smith e companhia é sempre um presente, especialmente pela boa relação que a banda sempre teve com nossa terra – procure por The Cure em Minas Gerais no Google. Nos vemos em Interlagos.
Na vinheta do Top 10, Josh Homme, do Queens of the Stone Age.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.