Top 10 Gringo: o country, claro. Com Adrianne Lenker (de novo), Waxahatchee e Julia Holter

Mais uma semana quase country por aqui. Beyoncé avisou que 2024 seria assim, né? Entre o folk e o country dos melhores lançamentos recentes ainda sobra um espaço para um raivoso Pearl Jam, a volta iluminada do Gossip e a guitarra mais espetacular do mundo hoje, a de Mdou Moctar. No primeiro lugar, DE NOVO, adivinha: Adrianne Lenker. Não tivemos como!

Em “Bright Future”, novo disco de Adrianne Lenker, a dona do Big Thief, é possível ouvir os espaços vazios, sua respiração, sua menor hesitação diante do microfone. Contagens, erros, sua voz mais forte ou mais fraca. Não tem truque, são os momentos captados pela gravação. E as canções passam essa mesma sinceridade em suas confissões mais pessoais. Puro risco. Ela contou ao “New York Times”: “Há tantas oportunidades para ficar entorpecida e entrar no piloto automático – e esse entorpecimento, para mim, é o inimigo da composição”. Se tudo hoje te soa artificial, invista seu tempo em Lenker. Ela não mente jamais – e, se por acaso mentir, é ao modo dylanesco de ser artista.

E no ano mais country da música pop, a Waxahatchee, codinome da norte-americana Katie Crutchfield, também lançou um senhor disco para se ouvir de chapéu de cowboy. “Tigers Blood”, seu novo trabalho, é sobre maturidade. Em um perfil do jornal inglês “The Guardian”, Katie contou sobre se sentir confortável com a chegada dos seus 30 anos e por ter feitos seus melhores trabalhos com essa faixa de idade – “Saint Cloud”, o disco anterior e já aos 30, era sobre sua sobriedade. “Tigers Blood” é uma confirmação disso. Só ver o relaxamento presente em “Right Back to It”

Em algum intervalo secreto entre os campos do jazz, do folk e da música experimental, a americana Julia Holter encontra sua música. Em alguns momentos, seu novo álbum, “Something in the Room She Moves”, parece até uma pintura abstrata – uma sugestão de pausa e contemplação diferentes do habitual na música pop.  

Dá para dizer que o Pearl Jam costuma girar em duas fases. Uma é mais épica e até reverente ao classic rock, com solos e refrões para estádios cantarem. A outra é mais alternativa, mais punk e raivosa, seca, curta e grossa e experimental. “Running”, segundo single revelado de “Dark Matter”, é bem essa segunda cara do Pearl Jam. Gostamos. 

Quem viu o Crumb no Balaclava de 2022 lembra com carinho da tímida e querida banda psicodélica de Boston. Na época, eles estavam na turnê de seu segundo álbum, o excelente “Ice Melt”. Agora prepara o seu sucessor. E esta “AMAMA” é uma das faixas adiantadas até aqui. Delicinha de música, a faixa carrega uma história superpessoal da vocalista e guitarrista Lila Ramani, que dedica o som a sua avó. A voz da avó cantando inspirou a melodia e aparece sampleada ao longo da track. Fofo.

Dar o play no novo álbum do Gossip, o primeiro desde 2012, é voltar diretamente para o meio dos anos 2000, quando Beth Ditto e sua turma davam as ordens em discaços como “Standing in the Way of Control” e “Music for Men”. “Real Power” mantém quase intacto tudo que caracterizou a banda – a mistura intrincada de pós-punk e dance music, os ganchos e refrões viciantes e a voz carismática e linda da Beth Ditto. Podem reclamar que eles pararam no tempo – não vai ser a gente que vai falar disso desta vez, pois o álbum não soa nostálgico. Na real, soa fiel à essência do grupo. 

Outro retorno dos bons: The Jesus & Mary Chain. A banda escocesa estava menos parada que o Gossip, diga-se, afinal lançaram “Damage and Joy” em 2017. Mas “Glasgow Eyes”, a novidade dos irmãos Reid, soa mais empoeiradinho, digamos, mas não deixa de ser consistente. É a dupla fiel à fase mais oitentista da banda. O que faz sentido se a gente pensar que o grupo retomou o modelo de produção daquela década, que se resumia em ir ao estúdio sem ideias prévias e ver no que dava. 

Quando o Elbow começou, seu líder Guy Garvey tinha seus 16 anos. Agora com 50 nas costas ele e sua trupe soltam o décimo álbum de estúdio com fôlego de garotos: Estamos falando do potente “Audio Vertigo”. Não acredita? Mergulhe no groove da contagiante “Balu” ou na densa “Very Heaven”, com suas quebras no ritmo e guitarra e baixo para lá de marcante em uma letra que rememora justamente o final da adolescência de Garvey. É um olhar para o passado com algum bondade consigo mesmo. Envelhecer assim é para poucos. 

Vai levar um minuto e pouco. Tenha calma. “Imouhar”, novo single do Mdou Moctar, banda do guitarrista Mahamadou Souleymane, começa devagar, até o volume é um pouco baixo demais. De repente, boom. A guitarra mais interessante no mundo hoje dá as caras de forma explosiva. “Funeral For Justice”, novo álbum da banda, será lançado em maio.  

Impossível não ficar impactado com a notícia que a inglesinha Charlie XCX volta de sopetão ao Brasil. E mais: em esquema de DJ Set ou “Partgirl”, como ele gosta de chamar. Vai ser no estúdio-boatchi Zig, no Pacaembu, dia 22 de junho. Vem aí uma noite histórica em São Paulo. E tome “Von Dutch” de novo.


* Na vinheta do Top 50, a incrível Adrianne Lenker, em foto de Germaine Dunes.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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