Top 10 Gringo – O “brasileiro” Geordie Greep segura a ponta. Os olhos e as bocas do Smile garantem o segundão. E uma boa hora para botar a deusa Kim Deal também no pódio. Essas são as principais músicas da semana

Semana interessante por aqui. Algumas músicas nem precisaram se esforçar para chamar nossa atenção, caso do primeiro lugar, novidade solo de Geordie Greep, ex-Black Midi, banda “nova” inglesa bem frequente por aqui nos últimos tempos. Outros sons a gente lutou para encontrar algo para dizer, casos dos de Coldplay (sério, fomos ouvir de coração aberto) e do irmãozinho da Billie Eilish. Pode reclamar da gente, mas não vale falar que somos preguiçosos!   

Geordie Greep conta que escreveu as músicas do seu primeiro álbum “The New Sound” indo beber e conversar com desconhecidos. Um método curioso, no mínimo. Também vale dizer que é um álbum quase brasileiro, com quatro faixas gravadas em São Paulo com a ajudinha do Fernando Dotta, nosso amigo da Balaclava, e músicos brasileiros. “Terra” tem pandeiro, tem brasilidade e termina com os músicos dando risada. Pelo que disse em entrevista ao site “The Quietus”, Geordie se encantou com a camaradagem que encontrou por aqui, ao passo que comenta que o Black Midi, sua ex-banda, mal conversava entre si longe das turnês. Um álbum com essa vibe não poderia dar errado: ele sacou o Brasil como lugar de paz de espírito, tanto que ficou maluco por Naná Vasconcelos. Tem horas que esbarra no “pra gringo ver”? Natural. Ele está na busca por paz na “Terra”, isso que vale. 

Nesse ritmo, o The Smile vai virar o principal projeto de Thom Yorke e Jonny Greenwood. É o segundo álbum do ano dessa empreitada dos caras com o baterista Tom Skinner! Igual o Radiohead fez na dobradinha “Kid A”/”Amnesiac”, discos feitos ao mesmo tempo, “Cutouts” é o irmão de “Wall of Eye”. Diferente da dobradinha do Radiohead, “Cutouts” tem mais gostinho de sobra – as músicas são OK, mas nenhuma te pega de jeito.  

Se os primeiros singles de “Nobody Loves You More”, primeiro álbum solo da Kim Deal (ex-Pixies, Breeders) eram intensos e mostravam o quanto ela é a força criativa de suas bandas, “A Good Time Pushed” é um som mais tranquilo, mais básico e direto ao ponto. Um direito dela. Tudo certo. Seguimos ansiosos por essa “estreia”. 

Como quem não quer nada, o Jungle um single perfeito para trilhar fins de tarde. “Let’s Go Back” também é a primeira música da nova formação da banda – o duo formado por Josh Lloyd-Watson e Tom McFarland agora é um trio com a chegada de Lydia Kitto, que já era uma forte colaboradora da banda há pelo menos dois álbuns. Extra: procurem no Youtube a versão super-relax que eles fizeram na BBC para “Birds of a Feather”, da Billie Eilish. 

The Hard Quartet é uma espécie de supergrupo bizarro e muito despretensioso onde basicamente a única figura famosa é Stephen Malkmus, líder do Pavement. Matt Sweeney fica em segundo lugar pelos trabalhos com Chavez, Superwolf, a trilha de Red Dead Redemption e seu canal de YouTube onde entrevista guitarristas. Empatado tecnicamente, ficam Emmet Kelly e Jim White, ambos com uma longa lista de serviços prestados ao indie (Cat Power, Ty Segall e por aí vai). Dito isso, o que importa dizer é que o Hard Quartet exala a energia do seu time, uma música técnica, de quem sabe o que faz, mas está totalmente pouco se lixando para o que vão pensar deles. Tiozões espertos. Lógico que soa super Pavement, se quiser resumir de outra forma.

A gente sabe o que encontrar na atual fase do Coldplay, mas às vezes lembramos a banda que lançava belezinhas tipo “Don’t Panic” lá em 2000. Será que ela ainda existe? Fomos de play em “Moon Music” atrás de algum resquício e até que ele aparece sutilmente no início da faixa que leva o nome do disco – dona de uma longa abertura que leva a um Chris Martin reflexivo. A surpresa foi tão grande que até demos um pause: “Olha a banda que a gente gostava aí”. Voltamos já neste disco. 

E, por falar em bandas inglesas do começo dos anos 2000, quem se lembra da Razorlight? Eles voltaram com a formação clássica e lançam disco novo no fim do mês, agora. Já saíram uma porção de single, mas chamou nossa atenção a inusitada “Taylor Swift = US Soft Propaganda”, que é uma piada/provocação vinda de uma frase que alguém falou durante as gravações e o figura Johnny Borrell pescou em suas anotações. A música não fala da Taylor, mas brinca em um verso com Jonathan Richman (“”Bem, essa soa como filler do Jonathan Richman/ O que significa que provavelmente é a melhor música do álbum”). Pior que soa mesmo como algo que o Jonathan Modern Lovers Richman faria, em todos os sentidos.  

Antes de dar o play em “Honey”, o novo álbum do Caribou, projeto do produtor canadense Dan Snaith, é importante saber de um detalhe: todos os vocais do disco são dele, mas alterados por inteligência artificial para soarem como pessoas bem diferentes – vozes jovens, vozes velhas, meninos e meninas. Sem saber mais detalhes do processo, é difícil julgar a questão. A inteligência artificial foi uma ferramenta ou muleta do processo criativo do artista?  É sério ou é zoeira? Em termos práticos, funciona. Temos mais um disco legal do Caribou. Resta ter mais infos sobre a engenharia do processo e possíveis problemas éticos ou relativos a direitos autorais, por exemplo. Mas está sempre valendo, Dan.

Em 2024, chega ao fim a gigantesca “The Eras Tour”, a ambiciosa turnê de Taylor Swift. E uma coisa que rolou nessa tour foram as dezenas de datas com abertura do Paramore, uma banda mais velha que o fênomeno Swift, mas uma novidade para muitos fãs da cantora – e talvez uma das razões para o cancelamento da participação deles no Lollapalooza Brasil. Em um vídeo de despedida da turnê, o Paramore agradeceu a oportunidade ao som de “Crave”, delicada música do álbum “This Is Why”, e jogaram a promessa de que devem voltar a fazer shows solos em breve. Alô, Brasil. 

A gente tentou. Abrimos o coração, mas segue inabalável nossa opinião inicial: ouvir o Finneas solo é a prova de que a Billie Eilish carrega mais o irmão do que o inverso, algo que muita gente erroneamente acredita ao sempre invocar ele como a mão por de trás de todas as ideias. Sem Billie, falta um tiquinho de carisma ao trabalho, muito bem-feito, diga-se. Mas não decola.

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* Na vinheta do Top 10, o músico inglês Geordie Greep.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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