Caótica foi nossa semana, dona Lady Gaga. Na nossa seleção, fomos do pop da superstar até o metal mais pancada do momento – já ouviram Spiritbox?. No meio de mundos tão diferentes e semelhantes, em alguma medida, passamos também por ídolos do hardcore e da música indie – muitos em novas jornadas solos apartados de suas bandas. Hora de escutar tudo isso.
“Mayhem” significa “caos” em inglês. É um nome apropriado para o novo álbum da estrelíssima Lady Gaga. “Mayhem” é caótico nos muitos caminhos que aponta e cai bem em um mundo tão caótico quanto. Ao mesmo tempo, perde feio em termos de caos para Charli XCX e cia. Perto do hyperpop, Gaga soa convencional. E tudo bem. Porque também tudo bem ela revistar a si mesma e alguns pares sem medo de deixar marcas – Kate Bush e o Chic são as referências imediatas. Só o pop é capaz disso: soar igual e soar novo ao mesmo tempo. Na música conta mais a emoção. E, ufa, ainda bem que é assim. Somos humanos. E em “Mayhem”, Gaga pensa (quase) o tempo todo nisso, em apelar para nossas emoções. Seja para dançar, se surpreender com suas escolhas ou até ficar com raivinha dela. “You love to hate me”, ela canta em “Perfect Celebrity”, sabendo o que provoca. Tem potencial para ser o álbum com mais hits desde sua estreia. Três já estão por aí: “Die with A Smile”, “Abracadabra” e “Disease”. Te esperamos em Copacabana, ma Lady.
Bob Mould conta que precisa do palco para se manter criativo. Imagine como foi a pandemia para ele. Um álbum recém-lançado, “Blue Hearts”, e zero shows para fazer. Isso explica os cinco anos sem novidades até este “Here We Go Crazy”, , que saiu há uma semana, feito justamente após uma série de shows pelo mundo. As apresentações reativaram Bob e isso é perceptível na energia das 11 músicas apresentadas em pouco mais de 30 minutos. É o Bob que aprendemos a amar, com seus riffs derramados por quem toca a guitarra sem qualquer delicadeza. Até quando decide ser acústico, como em “Lost or Stolen”, a faixa mais sombria do disco, Bob bate em todas as cordas, fazendo o violão cumprir o papel de uma banda toda. É um álbum conceitual à moda do Husker Du, a mais famosa de suas bandas. A historinha não é fechada, mas vemos um personagem que entra em crise, chega ao fundo do poço e encontra alguma redenção. De olho nas trevas políticas dos EUA agora, Bob conta que desde a eleição anda focado em dedicar amor e atenção a quem está próximo. O álbum é uma dessas demonstrações de carinho aos amigos – no caso, todos os seus ouvintes.
E, por falar no poder da música pop, quem resolveu diminuir o caos em sua música e abraçar o pop foi a Sasami. Após mostrar seu lado mais metaleria em “Squeeze”, discaço de 2022, ela resolveu mixar isso com um lado seu ainda desconhecido do público. De acordo com ela mesmo, “Blood on the Silver Screen”, seu terceiro álbum, junta a performer estridente com a Sasami Ashworth, a menina que estudou música em conservatório. Em todo caso, ela não abandonou as guitarras, como se nota na farofinha “Love Makes You Do Crazy Things”. É um disco de amor. Importante lembrar: Sasami foi para o pop, mas segue nada convencional. É legal quando a artista mostra caminhos que o público não estava esperando.
Não dá para dizer que o metal é muito nossa especialidade, embora gostemos aqui e acolá de algumas coisas do gênero. Fato é que é bem legal o Spiritbox, a mais recente sensação do meio. “Tsunami Sea” soa como o título. Uma avalanche que empurra os tímpanos do ouvinte com força. E o barato é a carismática Courtney LaPlante, vocalista que consegue ter o vocal mais agressivo do mundo e depois alternar para uma voz quase angelical. Repare nessa dinâmica em “Fata Morgana”, uma referência ao fenômeno óptico capaz de criar miragens em alto-mar. O vocal de LaPlante tem justamente essa capacidade de enganar a gente. Perfeita.
Na linha do indie rock básico, The Ophelias apresenta “Salome”, mais um single do álbum “Spring Grove”. A música retoma Salome, que pediu a cabeça de João Batista e por muito tempo foi figura recorrente na literatura como símbolo de força feminina, e é uma (in)direta aos homens mais velhos da indústria e seu comportamento nojento com as mulheres. Recomendadíssimo para fãs de Boygenius, afinal é uma produção da Julien Baker. “Spring Grove” chega em abril.
O casal Patrick Riley e Alaina Moore, duo americano que forma o Tennis, poderia escrever uma música sobre seu próprio casamento. Mas “At The Wedding”, na real, é sobre ficar reflexivo no casamento dos outros. Nessas horas, quem é casado é invadido por perguntas das mais diversas: Será que eles vão durar? Mas o meu vai bem? Eu estou feliz? As músicas de divórcio do Fleetwood Mac do mundo invertido seriam assim.
Na esteira da breve volta do TV on the Radio no ano passado, o vocalista Tunde Adebimpe lança na semana que vem seu primeiro álbum solo. Pelo que aponta o terceiro single, “God Knows”, Tunde busca um saborzinho não muito afastado de sua banda, mas opta por ser levemente mais pop e nostálgico. Para explicar a faixa, ele recorreu a uma doce música de coração partido dos anos 60, “Breaking Up Is Hard to Do”, de Neil Sedaka. “God Knows” parece mesmo uma versão atualizada da velha canção. “Thee Black Boltz” sai pela Sub Pop no dia 18 de abril.
Para divulgar sua primeira turnê norte-americana, a nova banda do senhor Stephen Malkmus soltou duas inéditas. Uma é um instrumental maluquinho de tudo (e meio dispensável). A outra (a tal “Lies (Something You Can Do)”), é super Pavement, na falta de observação melhor da nossa parte. É Malkmus, então lógico que é bom e lógico que vai soar super Pavement.
Depois do pandêmico “Serpentine Prison” (2021), nosso amigo Matt Berninger, vocalista da banda The National, prepara seu segundo álbum solo, “Get Sunk”. O disco sai em maio, mas como adianta este single “Bonnet of Pins”, temos daqui um pouco mais de energia que o habitual de sua banda. O disco foi construído ao redor de parceiros diversos, incluindo Meg Duffy (Hand Habits), Julia Laws (Ronboy) e seu velho parça Booker T. Jones.
Não, ainda não ouvimos decentemente o single de comeback das irmãs Este, Alana e Danielle Haim, que acabou de sair. Mas tinhamos juntados aqueles segundinhos todos que postam da música nova no Tik Tok, onde são especialmente hilárias, e já sabemos o quanto vamos amar. Ainda não tem pista de disco cheio, mas está na hora, né, meninas?
**
* Na vinheta do Top 10, a cantora americana Lady Gaga.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.