Top 10 Gringo – Botamos o Tame Impala em primeiro, tudo bem? E olha que tem as novas da Silvana Estrada e do Sleaford Mods

Todo mundo jogando pedra no Tame Impala, né? É um mundo ingrato mesmo. Um dia estão te superestimando, noutro você vira o vilão. Sejamos justos, o Tame Impala nunca foi a parada mais revolucionária da Terra. Era a banda certa na hora certa, e a hora agora é desacelerar as emoções. “Deadbeat”, quinto álbum do senhor Tame Impala, aka Kevin Parker, entrega sim o que promete.  

A vibe do novo momento de Kevin Parker está todinha na apresentação do Tame Impala no Tiny Desk gringo. Ao optar por não tentar recriar uma banda completa no espacinho, distribuindo todas as funções no violão, inclusive a percussiva, ele entregou sua despretensão. Se em “The Slow Rush”, Parker colocou o Tame Impala para conversar com suas produções pop (trabalhou com Lady Gaga, Dua Lipa e The Weeknd), aqui ele coloca seu projeto de vida/banda na garagem de novo. Música eletrônica analógica. De fato, Kevin Parker botou as baterias eletrônicas em amps de guitarra, desvirtuando um processo que poderia ser mais limpinho.  

“Ninguém se importaria, nem pássaro nem árvore/ Se a humanidade toda desaparecesse/ E a própria primavera, ao amanhecer/ Mal notaria nossa partida”. Com esses versos de arrepiar que a poeta Sara Teasdale encerra “There Will Come Soft Rains”. Escrito em 1918, perto do fim da Primeira Guerra e durante o surto da gripe espanhola, com esses versos a poeta mirou na grandiosidade da natureza perto da nossa pequenina (des)humanidade. A imagem construída no início do poema, da bonita chegada de uma chuva leve, é o truque, é o jeito de esconder a porrada. Por isso, a mexicana Silvana Estrada nomeia seu mais novo álbum inspirado neste poema, “Vendrán Suaves Lluvias”, escrito em condições semelhantes: pandemia do coronavírus, genocídio na Palestina. Na ternura, na beleza, Silvana dá o mesmo golpe, porém mais esperançosa, mais confiante em nós mesmos como agente de uma mudança possível. É questão de se mexer.

Nossos ingleses falastrões favoritos tão de álbum novo para o ano que vem. Não é o Oasis, calma. Estamos falando do Sleaford Mods e “The Demise of Planet X”, anunciado para janeiro de 2026. A reflexão proposta pelo trabalho será observar de dentro o caos do mundo nos últimos três anos. Bastou o Sleaford Mods ficar três anos quietinhos e tome Trump, genocídio na Palestina… “Parece que vivemos em meio às ruínas. Uma abominação multifacetada registra na psique coletiva”, anotou Jason Williamson. O primeiro single é “The Good Life”, uma pauladinha na nostalgia em carne viva da indústria musical. “Ya got awards for joyless faces ’cause ya fans like joyless shit” é daqueles versos que dispensam tradução. 

Outro disco que está apanhando é o novo do Bar Italia. Para zoar a situação, a banda resolveu se orgulhar do 5.9 que tirou na Pitchfork, afinal é o mesmo 5.9 do novo da Taylor! Agora é só vender a turnê pelos estádios do mundo. Ok, pode ser não ser o trabalho mais fresquinho e coeso do mundo, mas o trio formado por Nina Cristante, Sam Fenton e Jezmi Tarik Fehmi também precisa das musiquinhas para respirar durante um show. Aqui estão elas. 

Mais cedo neste ano, falamos por aqui de como a Sasami tirou o pé da experimentação para construir um cancioneiro pop em “Blood on The Silver Screen”. Agora ela abriu um papo falando que uma de suas inspirações escondidas no álbum é da música country. Ela diz ter ouvido muito Dolly Parton e Patsy Cline enquanto escrevia o disquinho. Para explicitar a influência, ela decidiu chamar a amiguinha Soccer Mommy para reler “Just Be Friends”. O que estava escondido na original explode aqui. 

A sinceridade de Chrissie Hynde é cortante. Ao anunciar seu disco de duetos afirmou: “Sei que não é a ideia mais excitante do mundo…”. De fato, “Duets Special” é meio marcha lenta mesmo com um timaço de convidados `(Cat Power, Debbie Harry, Rufus Wainright, Shirley Manson, Lucinda Williams… e muitos outros) e um repertório nota dez (Elvis, Beatles, Stones, Morrissey e até alguns standards). O ponto alto fica mesmo em Chrissie tirar um David Gahan (Depeche Mode) de casa para brilhar em “Dolphins”, uma canção meio esquecida e linda do compositor folk Fred Neil. 

Primeiro foram os jornalistas, agora são os músicos que migram para o Substack. Tem a newsletter da Laura Marling, do Jeff Tweedy, Rosalía, Patti Smith… Agora é a Anna Calvi que resolveu lançar seu correio por lá. A promessa é postar textinhos, entrevistas, playlists e até material inédito. Desse último item, ela sacou essa cover do Bonny “Prince” Billy em parceria sua com o ótimo Perfume Genius. Vale lembrar que é da Anna Calvi a trilha das últimas temporadas da nossa saudosa série “Peaky Blinders”. 

Caraca, o galã britânico Sam Fender mostrou o seu poder nessa. Chamou o Elton John só para fazer um riff de piano, e apenas isso, em sua nova música. E não é porque o riff é complexo e só o sir Elton daria conta. Nada disso, nós poderíamos ter dado essa ajudinha, o cara ligou para o Elton porque pode. Conta mais sobre o tamanho dele na Inglaterra do que qualquer outra coisa. A música chupinha tanto Bruce Springsteen que só pode ser promo indireta para a cinebio do Boss. 

Se um dia a gente descobrir que as irmãs Haim tentaram vender “Even the Bad Times” para a Taylor Swift, não seria estranho. Mas pelo visto não rolou um acerto com a loirinha mais rica da música e a track foi ser lado B na versão de luxo do excelente “I Quit”, do trio de Los Angeles. A outra questão é: qual a razão de lançar uma versão de luxo com apenas três inéditas?

Celebrando dez anos do seu álbum “Half Free”, queridinho pelo Iggy Pop, ao mesmo tempo em que lança “Scratch It”, US Girls, o projeto tocado por Meghan Remy, solta o single experimental duplo “Running Errands”. São duas versões para uma mesma música que trabalha com elementos dos dois álbuns, o de 2015 e o atual, entre outras coisinhas. A versão (“Yesterday”) É uma colagem das mais interessantes.

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* Na vinheta do Top 10, a banda australiana Tame Impala.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix

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