Top 10 Gringo -Black Midi crava seu som doido em primeiro. Steve Lacy bota seu signo no pódio. Lizzo e os gays pegam o terceiro

Dá para abraçar o mundo em um único disco? Bom, nesta semana encontramos alguns exemplares pelo mundo que tentam isso (ou quase). E em diferentes áreas: uma banda de rock inglês, um artista da Califórnia em ascensão e uma artista de escala global, talvez dona do hit do ano. Interessante, no mínimo. E olha que tem até bossa nova no nosso Top…  

O tempo faz bem para bandas que querem aprender. Os ingleses do Black Midi sempre foram sonoramente amalucados e interessantes na mesma medida, mas talvez faltasse uma substância mais consistente na doideira. Não é o problema do seu terceiro álbum, “Hellfire”. O álbum é espertíssimo, conceito, funciona como uma programação de rádio, com a banda se aventurando por muitos caminhos musicais – sem comparações, pense na virada do Clash em “London Calling”. A calma e bela “Still”, as várias partes insanas de “Welcome to Hell” e “Sugar/Tsu”… Diz no encarte que nossa predileta, “Eat Men Eat”, conta com arrotos (!!!) enviados por fãs – se alguém encontrar isso pela música, nos avise, a gente ainda não achou, mas se está nos créditos… Crescer sem perder a essência, que desafio. A jovem banda ensaia entrar no hall dos grandes.

Talentoso guitarrista da banda The Internet, Steve Lacy chega ao segundo álbum solo, o astrológico “Gemini Rights”. Colaborador de nomes como Vampire Weekend, Thundercat, Kali Uchis, Tyler The Creator, Lacy é dos caras que sabem colocar sua guitarra em conexão com o século XXI. Esse disco marca sua vontade de se impor como artista solo para conquistar o mundo. Ele até falou isso em uma entrevista, de perder o medo de ser uma estrela, saca? E suas composições vão nessa direção, um pop superbem construído, interessado em emocionar. Só ver a reação das pessoas no Tik Tok com a bela e dolorida “Amber”, uma baladaça ao piano. 

Enquanto uns buscam seu protagonismo, Lizzo retorna para reivindicar o trono do pop – que era todo seu até a pandemia estourar. Descansada após tanto tempo em casa, como menciona em uma música, ela volta entregando tudo no discaço “Special”. Tem rap (“Special”), R&B (“Break Up Twice”) e um toque de disco em “Everbody’s Gay”, esta escolhida, que de quebra é uma das mais belas homenagens a obra de Michael Jackson já feita. A música abraça com muito carinho a sonoridade inventada por Michael e Quincy Jones. Que disco!!. E ainda tem um dos hits do ano – “About Damn Time”. Ela conseguiu, de novo. 

E a nossa surpresa quando lá no meio de “Beatopia”, segundo álbum da nossa querida Beabadoobee, surge uma bossa nova? Sim, a artista filipina-britânica, bombada no TikTok e tudo, sacou um pouco da batida brasileira nesta canção sobre perceber que aquela coisinha que você odeia em alguém é justamente algo que lembra muito você. É um pouquinho quadrada a pegada dela, é verdade, mas a gente curtiu a tentativa. E, como conta a própria Beatrice, seu nome real, rola uma ousadia vocal aqui inédita para ela, se exigindo um pouco mais do que em suas outras canções. E ela dá um show de desenvoltura e alcance e tal. Lindíssimo. 

2002 não marca apenas os 20 anos do penta. São 20 anos de “Turn on the Bright Lights”, o álbum que colocou os nova-iorquinos do Interpol entre as bandas que ajudaram a salvar o rock mais uma vez no começo do século XXI. Daquela turma, talvez só eles tenham sobrado (quase) intactos e com lançamentos constantes – uns mais bem recebidos que os outros, é verdade. “The Other Side of Make-Believe”, que começou a ser escrito na pandemia, acaba por ser um disco consistente e corajoso ao assumir riscos. No faixa-a-faixa que escreveu para a Apple, o baixista Paul Banks detalha em várias canções como foram intrincadas as composições, com a banda se desafiando. “Passenger” é um bom exemplo de construção, com seus pequenos detalhes que saltam aos ouvidos ainda que pareçam correr em segredo.   

Se a Inglaterra há tempos vive uma profusão de novas bandas que se embebam do pós-punk, era inevitável que a nova geração também teria um New Order para chamar de seu. Ok, é um exagero, mas também uma comparação inevitável pelo tanto de Manchester que corre nas veias do novo álbum do ótimo Working Men’s Club, seu segundo lançamento, “Fear Fear” – tanto que depois de pensar nela a gente descobriu que o “Guardian” já fez a mesma piada lá em 2020. Mas não foque no revival. Tem criatividade suficiente aqui para novas explosões. Se eles foram a trilha sonora da pandemia, quando o grupo surgiu, podem ser uma banda promissora nestes dias novos.

Quem reclama dos algoritmos? Após curtir o álbum do Steve Lacy, o Spotify entregou para gente o maravilhoso som da Orion Sun, artista da Filadélfia que atualmente vive em Nova York e que já se aventura na música há um tempo. Seu EP mais recente, “Getaway”, merece um play. É um som leve, uma voz linda, pronta para estourar. Fora que é bem bonita sua bio na plataforma: transformando-se através da música.

Tem vez que é um detalhe da música que pega a gente. No caso deste som, repare na chegada do baixo. Ele só aparece na canção quase 30 segundos depois do começo e uau. Vira outra música. Detalhes, pequenos detalhes. A gente não conhecia muito a Johanna Warren, mas ela já tem alguns álbuns e este é o single do seu próximo trabalho, “Lessons for Mutants”, que chega na proposta de ser um tanto quanto torto. Warren falou recentemente que acha que as música andam muito certinhas. Seu trabalho seria um “ato de resistência” a isso. 

Não tem muito tempo que a gente fez uma notinha aqui apontando Omar Apollo como um amigo do C.Tangana, ou como brincamos na época o ex da Rosalía. O “menino” cresceu e fez um discão, “Ivory”, lançado em abril. Agora planeja um versão com algumas faixas extras e “Archetype” está entre elas. E, caramba, é daquelas que a gente não entende como não entrou no disco. Musicão. 

Da Austrália e atualmente nos Estados Unidos, G Flip há pouco tempo contou em seu Instagram sobre seu gênero: não-binário. E agora, no dia 14 de julho, dia internacional das pessoas não binárias, lançou uma música sobre o assunto. A letra de “Waste of Space” descreve sua dor adolescente de não se entender como garoto ou garota e se sentir muito mal com isso. Ao longo da canção, a descoberta resolve esse não lugar. Vale ir ao YouTube e ler os depoimentos emocionados de muitas pessoas que encontraram nessa música suas histórias. 

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* Na vinheta do Top 10, a banda inglesa Black Midi.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.
*** A foto do Black Midi que ilustra a vinheta do Top 10 é de Atiba Jefferson.

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