Top 10 Gringo – Aos guitarristas com carinho. O pódio da semana é de Sugar, Courtney Barnett e Bar Italia

Um top dedicado aos guitarristas. Na semana em que perdemos o imenso Ace Frehley, guitarrista do Kiss, o pódio é formado por artistas e grupos que confiam na distorção para dar seu recado. A volta do tradicional Sugar, velho de guerra dos anos 1990, a volta da canhota Courtney Barnett e mais um single do trio (?) mais azeitado do mundo hoje, o Bar Italia. 

 O rumor durou poucos dias antes de se provar verdadeiro. O Sugar está de volta. Para quem não manja, Sugar é a banda que Bob Mould montou um pouco depois do fim do importantíssimo Hüsker Dü e do começo de sua carreira solo. Em outras palavras, foi sua grande contribuição para o rock dos explosivos anos 1990. Em companhia dos membros originais, David Barbe e Malcolm Travis, Bob anunciou shows em Nova York e Londres e uma música inédita. “Achei que tínhamos concordado em deixar o passado para trás”, ele canta em “House of Dead Memories. Não concordamos, Bob. A questão é incluir mais alguns países nessa tour aí… Notícias de um novo álbum também não temos ainda. 

Tudo bem, a Courtney Barnett até nomeou seu terceiro disco, lançado em 2021, de “Things Take Time, Take Time”, mas já estávamos com muita saudade. Depois de soltar o instrumental “End of the Day”, o máximo que tivemos da nossa australiana predileta foi um cover de Neil Young lá no começo do ano. Agora ela está de volta em um single inédito com alguns baita amigos – Stella Mozgawa do Warpaint na bateria e Zach Dawes (The Last Shadow Puppets) no baixo. “Stay in Your Lane” parece descrever alguém com sérias dúvidas de ser capaz de qualquer coisa. Será que ela anda insegura assim? O vídeo da música foi dirigido por Alex Ross Perry, o carinha que fez aquele doc malucão sobre o Pavement. É um vídeo bem angustiante, digamos, apesar de bem-humorado. Exige estômago. 

No Brasil, os dois primeiros discos dos Beatles misturados com singles viraram o álbum “Beatlemania”. Sim, um disco com tradução bem “Sessão da Tarde”. Seria um barato se “Some Like It Hot”, terceiro álbum do grupo inglês Bar Italia virasse por aqui “Quanto mais quente melhor”, respeitando a tradução inventada para o filme “Some Like It Hot”, estrelado por Marilyn Monroe, Tony Curtis e Jack Lemmon, um trio tão poderoso quanto Nina Cristante e seus guitarristas Jezmi Tarik Fehmi e Sam Fenton, diz aí. “Omni Shambles” é o último single antes da chegada do disquinho novo. Eles nunca soaram tão The Cure. 

Não é preciso entender nada do que Dylan canta em “Boots of Spanish Leather” para se arrepiar. O clima, a respiração, o violão dedilhado, tudo emociona. Quando você descobre que a letra todinha registra a paixão de um casal se desfazendo quando um deles vai viajar para longe, que cada estrofe é uma carta de um para outro até que um dos lados recebe uma carta derradeira, uau. É cortante.
 Para se ter uma ideia do envolvimento de Dylan com a canção naquele momento, a faixa foi tocada duas vezes, sempre do começo ao fim, nas sessões de “The Times They Are a-Changin’”. Uma delas apareceu no álbum lançado em 1964, a outra finalmente está por aqui, parte de “The Bootleg Series Vol. 18: Through the Open Window 1956-1963”. Um clássico é um clássico.

Falou em Bob Dylan e já pensamos em Bob Vylan, que também está de inédita. A dupla mais perseguida do mundo por seu posicionamento pró-Palestina obviamente volta para sacanear os reacionários em geral. “Sick Sad World” é irônica do instrumental meio punk meio pop anos 80 até a letra, com versos tipo “Assisto às mentiras da BBC e acho que estou ficando louco/ Viva, é 2025, consiga um emprego nas minas”. Pois é. “Nobody’s safe, these sickos even target women and kids.” Vixe!

“I Quit”, álbum lançado pelas Haim neste ano, vai ganhar uma versão de luxo ainda neste mês com três faixas inéditas. Uma delas é “Tie You Down”, com Bon Iver, meio que devolvendo a participação de Danielle Haim em seu ótimo “SABLE, fABLE”. Diferente da temática de superação de fim de relacionamento posta no disco, “Tie Your Down” fala de alguém que adoraria manter as coisas no lugar, mas relacionamentos são assim, não dependem só de um. É como se fosse um retrato anterior ao das canções do álbum, onde o foda-se já foi ligado. Aqui a separação ainda dói. O climinha country pelo som deixa tudo mais doloridinho ainda. 

A amizade entre David Byrne e Hayley Williams não está de brincadeira. David já cantou Paramore em seus shows. Hayley, por sua vez, aparece no disco novo do senhor Byrne e com o Paramore lançou um cover de “Burning Down the House”, clássico do Talking Heads. Natural uma parceria entre eles quando David ficou por conta da trilha sonora da adaptação aos cinemas para “Os Pestes”, livro escrito por Roald Dahl, o mesmo de “Matilda” e “A Fantástica Fábrica de Chocolate”. Esta “Open The Door” é a trilha dos créditos e não poderia ser mais Talking Heads em sua pegada meio “Nothing but (Flowers)” do ritmo ao jeito de harmonizar as vozes. 

Enquanto prepara o próximo do The XX, Oliver Sim não deixa de mostrar que anda muito bem longe das asas de Jamie XX. “Telephone Games” já é o segundo single que tem os dedos do importante produtor britânico Bullion. O clima da faixa? Basta um play para sacar que os tais “games” não são nada inocentes. O vídeo tira um sarro jogando com as antigas linhas telefônicas eróticas. 

Invertendo um poucos os papéis, Tom Waits estrela “Father Mother Sister Brother”, novo filme de Jim Jarmusch, e o cultuado diretor é quem vai cuidar da trilha sonora do longa, em parceria com Anika. “Jetlag”, um instrumental lentinho e reflexivo, não poderia ser mais jarmuschiano. O filme chega aos cinemas no Natal, mas a trilha sai um pouco antes, ainda em novembro. 

À moda antiga, o inglês Wet Leg pode dizer que está de “música de trabalho” nova. Lembra quando os singles saiam depois do álbum e com vídeo na MTV? Pois é. A banda resolveu “tardiamente” fazer um vídeo não menos provocador para a provocante “Mangetout” (“You think I’m pretty, you think I’m pretty cool/ You wanna fuck me, I know, most people do”). Melhor banda indie do planeta?

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* Na vinheta do Top 10, o grupo americano Sugar.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix

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