Top 10 Gringo – Amyl and the Sniffers fazendo aquilo. O ratatá do Tyler, the Creator. E a mãe Laura trabalhando de casa

Semana atípica por aqui, viu? Resolvemos reclamar de alguns lançamentos. E até reclamar de bandas e artistas muito queridas por nós. Será um certo mau humor ou estamos com a razão? Você decide. Lógico que sobram elogios para muita gente, em especial queridos australianos que vão do punk do Amyl and The Sniffers até a sempre incrível Kylie Minogue.

“U Should Not Be Doing That” (ou em bom português “Você não deveria estar fazendo isso”) com certeza é uma frase que Amyl Taylor escutou de muito homem por aí. Seja por ela ter uma banda punk ou por gostar de usar roupas curtas no palco, sempre tem alguém para encher a paciência dela. E provavelmente alguém bem preso na sua zona de conforto tosca, enquanto ela se arrisca e se joga no mundo, experimentando de tudo – inclusive, vem ao Brasil em breve. Esse tipo de resposta furiosa dá a tônica do que encontramos em “Cartoon Darkness”, terceiro álbum da banda australiana. O que fica evidente por outro lado é que a fúria é puro gosto de viver e de quebrar regras toscas. Parece raiva, mas é muito amor, na real.

Em vez de lançar o disco na sexta-feira e deixar a gente pensando o fim de semana todo nele, o senhor Tyler, The Creator resolveu soltar seu “Chromakopia” em plena segunda-feira. Vamos correr aqui para entender o caótico álbum, caos bem exemplificado na bagunçada “Rah Tah Tah”. Lembrando que o “Rah Tah Tah” dos EUA é bem diferente do “Ratatá” brasileiro. O deles é uma interjeição, o nosso, bom, pode ser sobre diferentes tiros ou cocaína.

“Patterns in Repeat” é o oitavo álbum de estúdio da inglesa Laura Marling, mas o primeiro dela depois que virou mãe no ano passado – por acaso ou não, seu disco anterior, lançado em 2020, se chama justamente “Song for Our Daughter”. E ter uma filhinha é o assunto do disco, seja através de contos da rotina ou em reflexões mais abrangentes. A temática ainda percorre o álbum de forma menos visível, digamos – “Patterns in Repeat”, a música, por exemplo, guarda a história de ter sido composta na sacada de um quarto de hotel acompanhada de uma garrafa de vinho após Laura usar a filha como desculpa para escapar de um evento social. Vantagens (!) de ser mamãe. O registro desta noite, inclusive, está disponível para quem assina o Substack da compositora! Mas não precisa ir tão longe: “Patterns in Repeat” soa feito em casa mesmo, com toda a pós-produção.

Se de um lado o nascimento de uma filha é cantando, Soccer Mommy convive com o outro lado da história: a perda recente de sua mãe. Da mesma maneira que Laura, o tema atravessa “Evergreen” de diferentes maneiras. Às vezes explícito na letra, às vezes na sutileza de ser um álbum onde ela resgata sua aura mais lo-fi do começo. É como se o disco todo passasse na fria manhã descrita em “Some Sunny Day” – onde Alisson, o nome real de Soccer Mommy, suporta a dor sabendo que o dia ensolarado chegará. “Mas eu sei que em algum dia ensolarado eu verei seu rosto”, canta ela mesmo em meio a tamanha escuridão.  

A Sub Pop tem um artista novo em seu casting. Estamos falando de Tunde Adebimpe do TV on the Radio. A banda voltou para shows ao vivo, mas pelo visto não vai lançar novidade, já que Tunde dá os primeiros passos solo. Um álbum completo vem aí em 2025. Por agora, o single “Magnetic” conta que teremos algo bem parecido com o que ele fazia na sua velha banda. Boas novas!

Mais para frente nesta lista vamos reclamar um pouquinho do single nova da Lady Gaga. Até lá saibam que tudo o que faltou para a Gaga sobrou aqui com a Kylie Minogue. “Tension II” é um álbum sem medo de soar exagerado e retrô. O que poderia dar muito errado, acaba soando original e cativante. É o resultado que se pode ver em “Lights Camera Action”, por exemplo, que parece tirar a poeira de alguma track perdida em uma coletânea de  eurodance. “Padam Padam” parece ter renovado mesmo o espírito dela.

Inusitada a conexão Black Keys com Alice Cooper, mas digamos que combinou demais a parceria na meio soturna meio engraçadinha “Stay in Your Grave”. O aperto que o personagem da música passa durante uma carona pode ser atribuído ao terror ou ao excesso de certas substâncias? A faixa celebra o Halloween e é parte da edição de luxo de “Ohio Players”, lançado neste ano, mas meio esquecido no churrasco, né?

No ano em que a Kim Deal promete lançar um disco fenomenal esbanjando criatividade, fica um tiquinho mais esquisito uma demonstração de estagnação do Pixies. É como se um pouco do charme da banda tivesse ido embora, ainda mais quando falamos de um grupo que sempre quebrou as convenções. “The Night the Zombies Came” não é desastroso, é bem ok.

No ano em que o country dominou legal a música pop, Gwen Stefani aparece de chapéu em “Bouquet”, seu primeiro álbum desde uma aventura natalina de 2017. Mas, pelo apelo de “Swallow My Tears”, dos outros singles lançados até aqui e das entrevistas que ela começa a dar, o disco será mais puxado para o yacht rock. Stefani cita influência de Eagles e Steely Dan. Capaz que o Ed Motta aprove, então.

Dia destes a gente elogiou a Lady Gaga em seu disco que conversa com o novo filme do Coringa, que tem ela como uma das estrelas. Gostamos especialmente por ela mostrar seu lado de intérprete num vozeirão impecável e outras coisas mais. Pena que uma exigência dos fãs dela parece ter a velha Lady Gaga de volta. “Disease” é ela respeitando esse fãs. Sinceramente? Estava melhor antes.

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* Na vinheta do Top 10, a banda australiana Amyl and the Sniffers.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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