Semana passada, tratamos Rose Gray como promessa. Agora é realidade, a artista britânica fez barulho nesta semana com seu álbum. Alô, fãs da Charli! Em campos menos barulhentos, mas não menos talentosos, um álbum póstumo traz de volta a esperteza de Mac Miller, ao passo que uma certa pompa reapresenta ao mundo a ótima Lucy Dacus após a pausa do boygenius.
Semana passada comentamos por aqui que quem gostou do sotaque da Charli XCX ia amar a pegada da Rose, outra britânica que envereda pelo pop esquisitinho, digamos. Pelo single “Party People” dava para imaginar um “brat” mais levinho vindo aí e é isso que se verifica quando damos play na íntegra do álbum “Louder, Please”. É como se Rose pegasse o bastão da Charlie, mas mudasse um pouco a rota – tem menos ironia no discurso, menos risco em termos de som, mas não deixa de soar bacana. Experimenta e conta para a gente.
O tempo voa mesmo. Já tem sete anos da morte do talentoso rapper Mac Miller, vitimado por uma overdose aos 26 anos. Em 2020, “Circles” foi seu primeiro álbum póstumo, fruto do material que Mac deixou incompleto pouco antes de morrer. “Balloonerism” tem outra história. Foi gravado entre 2013 e 2014 e ficou na gaveta todos esses anos. De acordo com a família do rapper, era um trabalho bem quisto por ele e que possivelmente seria lançado algum dia pelo próprio músico. No fim das contas, decidiram soltar o material por conta da circulação pirata do conteúdo. Ou seja, não tem truque. É Miller na sua essência e capricho – as linhas melódicas superjazz, o baixo do Thundercat fazendo a cama em várias tracks. Uma belezinha de se ouvir. Era para ele estar por aqui ainda.
Antes da banda Boygenius ser o acontecimento do verão de 2023, dá para dizer que Lucy Dacus era a mais desconhecida do trio que conta também com Phoebe Bridgers e Julien Baker. Daí que o nosso lado fã fica feliz de ver o sucesso do grupo ser o motor que alavanca o lançamento do seu próximo álbum em proporções inéditas: lançamento do single “Ankles” no Jimmy Fallon e vídeo chique à beça com a atriz Havana Rose Liu. “Forever Is a Feeling” sai no final de março e promete. “Ankles” já diz muito ao ser uma música que imagina as alegrias de um amor impossível. Todo o lado sexy da música, descrito em versos como “Puxe meu cabelo/ E deixe-me tocar em você onde eu quiser”, só rola na imaginação da personagem, sofrendo com o que não pode ter – “E se não nos tocarmos?/ E se apenas conversarmos/ Sobre o que queremos e não podemos ter?” são os versos de abertura. Deu um calorzinho aí?
“Night Life”, novo álbum da banda inglesa The Horrors, sai em 21 de março. Banda que vive num mundo bem particular, comandada pelo gigante Faris Badwan, soltou mais um single a caminho deste disco, a faixa “pop” chamada “More than Life”. Pop dentro do universo Horrors de ser. Se você pensa que o combo melancolia-euforia morreu nos anos 80 com o Sisters of Mercy, ta aí o Horrors para manter essa chama viva. Ou, melhor, essa escuridão viva. Gostamos bem de Horrors por aqui, assumimos.
E, por falar em projetos que crescem, destaque para a banda The Weather Station, na verdade um projeto com nome e sobrenome, liderado por Tamara Lindeman. Do folk caseiro e lo-fi para gravações mais complexas, o sétimo trabalho, “Humanhood”, aponta para diversos caminhos ao trazer músicas que foram feitas em esquema livre de criação – seis músicos, uma sala e liberdade. O material depois ganhou overdubs e edição, mas a força espontânea é evidente no que cada canção se arrisca sugere ou apresenta ideias inesperadas. Em outras palavras, soa vivo muito vivo. E assim como Ethel Cain, que tanto falamos semana passada, mais um álbum que parece traduzir certo malestar do ser humano em 2025.
O Thursday é um dos nomes clássicos do emo. Para se ter ideia, a estreia do My Chemical Romance foi produzida por Geoff Rickly, o vocalista e principal compositor da banda. Separados desde 2012, a banda voltou a lançar novidades em 2024 com uma pegada bem clássica dentro do gênero. “Taking Inventory Of A Frozen Lake” parece ter todas as chavinhas para se considerar que uma música é emo, por exemplo.
Os fãs da série “It’s Always Sunny In Philadelphia” vão reconhecer de cara de onde os escoceses do Slowlight arrumaram o nome “Pepe Silva” – o personagem que Charlie acredita que não existe e decide desarmar a conspiração – cena que virou meme. A música fala sobre isso? Não, mas explica um pouco o humor da turma, irônicos à beça – um outro som deles, por exemplo, leva o nome de “That’s Pretty Good (For a Girl)”
Zach Phillips é um músico hiperativo. Tem mil projetos, quatro bandas, já teve selo e toca sua carreira solo. Seu disco mais recente, lançado na virada do ano, “True Music”, foi feito de modo peculiar: com o microfone direto do notebook e aplicativos gratuitos de gravação. Com a limitação imposta a si mesmo, em poucas semanas Zach fez um monte de canções delicadas e que soam maravilhosas em sua proposta lo-fi. Lembra um pouco Sufjan Stevens. Boa surpresa.
A inglesa dona de um vozeirão Celeste estava um dia chateada em uma edição de Natal do projeto dance Boiler Room até que na pista de dança surgiu uma ideia. Ela precisou, no meio da barulheira, correr para a área de fumantes e registrar aquilo. A tal ideia é “Everyday”, um crescendo emocional levado por uma guitarra limpa quase o tempo todo.
A história do grupo inglês Panchiko é meio difícil de acreditar. Mas é a seguinte: a banda fundada no final dos anos 1990 meio que não virou nada e ficou morta até alguém achar uma demo deles e postar no 4chan em 2016. O grupo de Nottingham viralizou e, quando os novos fãs acharam os integrantes na internet, eles resolveram reviver o sonho. De lá para cá, saiu mais um álbum em 2023 e eles agora chegam com dois singles interessantes: “Shandy in the Graveyard” e “Ginkgo”. O som da banda é um indie etéreo, um sub-Radiohead, talvez. Por ser interessante e por muito tempo não ter um rosto, explica a fama.
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* Na vinheta do Top 10, a cantora britânica Rose Gray.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.