Top 10 Gringo – Anohni vive no nosso primeiro lugar. Olivia Rodrigo, olha ela, vem em segundo. Grian Chatten fecha o pódio

Enquanto o primeiro semestre de 2023 já se apresenta como retrospectiva, este segundo aparece prometendo e já oferecendo alguns grandes discos. Seja no pop de olho nos charts da Olivia Rodrigo, seja na sofisticação de ANOHNI. Ou na boa surpresa que é o primeiro disco solo do vocalista do Fontaines D.C. A gente já sabe que a CENA brasileira vai estar aquecida nos próximos seis meses. Lá fora parece que não vai ser diferente. 

Dona de uma das vozes mais poderosas do universo pop, Anohni pouco lançou desde sua estreia solo, o exuberante “Hopelessness”, de 2016. Retomando os trabalhos com seu grupo mutante The Johnsons, que foi interrompido em 2015 em sua época de Antony, já temos algumas amostras de “My Back Was a Bridge for You to Cross”, que sai nesta sexta-feira, dia 7. O single mais recente é “Why Am I Alive Now?”, que mantém em dia a capacidade de Anohni de escrever letras fortes – uma canção existencial que faz uma daquelas perguntinhas “de simples resposta”: “Por que estou viva agora assistindo tudo isso indo para baixo?” A sombra que cobre a letra é amaciada pelo instrumental mínimo e caloroso. 

Olha ela. Após conquistar o mundo com sua forte (e em alguma medida polêmica por conta das acusações de plágios) estreia “Sour” (2021), a garota Olivia Rodrigo está de volta. E esta “Vampire” chegou causando. Tem quem ouça “Creep” do Radiohead ali, tem que ouça uma do One Direction. É bobagem querer diminuir alguma obra pelo quanto ela pega emprestado de outras, especialmente quando deixa tudo com um tempero e gosto particular. A história da música pop é isso e direito autoral em muitos casos pode ser atraso de cultura. Vale mais a energia dramática que Olivia consegue impor, inclusive recheando de palavrões que vão assustar as mães do adolescentes que derem play no som. “Guts” é o nome do álbum que vem por aí. Está marcado para setembro seu lançamento. Promete. 

Grian Chatten solo é um Chatten que pouco deu as caras em sua banda famosa, a Fontaines D.C. A voz está lá, as letras inteligentes também, mas há um postura mais classuda no material novo. Mal comparando, pense na transição do Morrissey entre os Smiths e sua carreira solo – não é uma transformação totalmente nova, mas novas cores aparecem. Tanto que Grian surge sem camisa e de braços abertos na capa do disco. Meio galã ou “galã feio”, aí é com você. Lá ou cá, é para lá de charmoso o casino que ele constrói em “Bob’s Casino”. Alex Turner sofreu bem mais pra chegar nesse clima. Grian constrói diferentes ambiências em um estalar de dedos, parece. Rapaz talentoso. 

Quem viu Bombino no Brasil ali por 2015 não esquece as boas apresentações que o guitarrista tuaregue fez por aqui. Instrumentista de primeira, caiu no gosto de nomes como Keith Richards e Dan Auerbach, do Black Keys. E ainda guarda uma história impressionante, já que sua etnia é perseguida no país africano Níger – o que quase já lhe custou a vida. “Sahel”, seu primeiro álbum desde a pandemia, será lançado em setembro. 

Mais uma nova do álbum do Blur que vem por aí, “The Ballad of Darren”. Roqueira e gritada, é uma faixa sobre onde os fantasmas vivem, diz Damon Albarn, que ficou reflexivo com a reunião da banda. Afinal, agora são um quarteto de quase sessentões. O guitarrista Graham Coxon resumiu o mesmo sentimento em outras palavras: “Quanto mais velhos e loucos ficamos, torna-se mais essencial que o que tocarmos seja carregado com a emoção e a intenção corretas”. “St. Charles Square” carrega exatamente essa energia intensa. 

Talvez você nunca tenha visto a cara do jovem produtor inglês Mura Masa, que aparenta ter bem menos que os seus 27 anos. Mas certamente escutou seu hit de Tik Tok, “Drugs”. A peruana Daniela Lalita dá voz à frase esperta: “Eu não uso drogas, mas com você eu uso”. Entendeu a razão de ter virado hit, né? Fora que a música é realmente boa.

Bethany Consentino era boa parte da alma do Best Coast, seu antigo duo/banda. E isso explica um tanto que sua carreira soe exatamente como sua banda. Talvez a novidade seja um arzinho mais country – no jeitão de colocar o violão ou as harmonias vocais. Em todo caso, sempre certeira e dona de músicas viciantes, como esta duplianha aqui: a apaixonada “For a Moment” e a suingada porém revoltada “It’s Fine”. 

Por falar em artistas que surpreenderam os brasileiros, é louco pensar que o bizarro Voidz, de Julian Casablancas, ainda está por aí, né? Mas, vamos aceitar, Julian parece acreditar mais em sua nova banda que na velha banda. E aqui, pelo menos nesta música, ele se entrega legal e coloca a voz para jogo, aloprando na distorção. Uou. Por enquanto, esta “American Way” só está no Youtube.

Sites de música do mundo começaram a publicar suas listas de melhores discos do ano até aqui. É sempre um bom jeito de descobrir álbuns que ficaram perdidos no caos diário de lançamento. Sim, até nós, especialistas (hehehe), precisamos de ajuda. E nessa ajuda descobrimos o belíssimo trabalho da Anna B Savage, artista londrina que está em seu segundo álbum, “in|FLUX”. Sua voz é marcante. As músicas têm um ar folk, ainda que embebidas de modernidade na produção. Uma Laura Marling meio Bjork das ideias, sem querer comparar as artistas. Mas já comparando…




* Na vinheta do Top 50, a cantora inglesa Anohni.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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