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*** Os suecos do Refused estão transformando o adeus em um evento mundial. A banda de hardcore, nascida na cena politizada de Umeå nos anos 90, marcou para 21 de dezembro seu último show da carreira justamente na cidade natal e anunciou que a apresentação será transmitida ao vivo para o mundo inteiro mediante um ingresso digital em faixa de preço acessível. A ideia é dar uma última chance para quem nunca conseguiu vê-los ao vivo depois de um ano de turnê final intenso, com shows considerados por eles mesmos alguns dos melhores da trajetória (incluindo os daqui na América do Sul, claro), mas que inevitavelmente deixou várias cidades e países de fora do roteiro. No palco, além do repertório do Refused, o público vai ver um pequeno retrato da própria Umeå hardcore, com os veteranos Abhinanda, o retorno do projeto Final Exit, com Dennis Lyxzén e David Sandström, e nomes mais novos da cena local como Nix e Dream Warriors, em uma noite que funciona quase como um festival de despedida. Junto com o anúncio do streaming, a banda lançou uma campanha de financiamento coletivo para viabilizar Exit to End, documentário que pretende contar a trajetória completa do Refused, da época em que eram apenas garotos idealistas em uma pequena cidade do norte da Suécia até o status de referência mundial do hardcore moderno. Dirigido pelo cineasta sueco Balsam Hellström, o filme é apresentado como algo que vai além de um simples registro de banda, mirando uma história sobre o preço do idealismo, sobre amizade e reconciliação e sobre como uma cena local improvável acabou colocando Umeå no mapa da música pesada. A turnê de despedida e o show final devem servir como fio condutor desse arco, amarrando três décadas de barulho político, guitarras angulosas e postura intransigente sobre o que significa ser uma banda de punk em pleno século 21.

*** Em Memphis, quem uniu diferentes gerações do indie foram Stephen Malkmus e Kurt Vile. Os dois dividiram o topo do line-up do festival Raised By Sound e aproveitaram para subir juntos ao palco em um tributo direto à cidade, escolhendo “Feel Real Good”, clássico hedonista de 1996 dos heróis locais Oblivians. Os sets solo também vieram cheios de acenos para diferentes cantos da memória afetiva indie. Kurt Vile misturou faixas próprias com uma versão de “If I Could Talk I’d Tell You”, dos Lemonheads, cover que combina com o jeito arrastado e melancolicamente ensolarado da sua voz. Stephen Malkmus, por sua vez, montou um repertório que equilibrava a carreira solo com uma boa dose de nostalgia do Pavement, incluindo “Range Life”, “Spit on a Stranger” e “In the Mouth a Desert”, além de “Federal Dust”, música do Silver Jews da época em que ele dividia ideias com David Berman. Tudo isso acontece num momento em que o catálogo solo de Malkmus chega às plataformas de compra digital e ele volta ao centro das conversas culturais, citado em longos perfis sobre a geração X, como se fosse a personificação daquele espírito eternamente irônico, desajustado e influente que o indie dos anos 90 ajudou a espalhar pelo mundo. E ele é.
*** Seguindo no universo das lendas, o grande Bob Dylan continua tratando a vida na estrada como parte natural da própria obra. O cantor anunciou mais uma etapa da Rough and Rowdy Ways Tour, agora com uma nova leva de datas pelos Estados Unidos marcada para a primavera de 2026, quando ele completará 85 anos de idade. O giro inclui cidades como Omaha, Sioux Falls, Grand Rapids, Detroit, Louisville, Columbus, Cleveland, Knoxville, Chattanooga, Asheville e Baton Rouge, entre outras paradas pelo Meio-Oeste e pelo Sul norte-americano, em uma sequência de apresentações que mantém o padrão dos últimos anos: teatros, auditórios e casas de médio porte em que a experiência é mais intimista do que grandiosa. Quem acompanha essa fase recente sabe que os shows giram em torno das músicas de “Rough and Rowdy Ways”, álbum de 2020 que consolidou a fase tardia de Dylan com longas narrativas, reflexões sobre arte, morte e memória e um clima de blues um tanto contemplativo. As setlists costumam trazer quase o disco inteiro, com espaço para favoritos de outras eras e rearranjos radicais de clássicos, além de eventuais surpresas. Ainda que não sejam no Brasil, abaixo, seguem as datas.
