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* OK, foi inesquecível. OK, o festival é “nosso” e portanto pode parecer cascata de ego, mas aqui no nosso discernimento imparcial acrítico e imodesto não teve um show abaixo de nota 8,87. Entre novidadeiro e histórico, salvaram-se todos. Entre o Boy Pablinho e a Pattona Smithona nenhum deixou de ser encantador, cada um no seu tamanho. Cada um na sua caixinha de “história da música”. O festival foi lindo (aqui no nosso discer…), a (não-)chuva ajudou, a galera jogou junto desde a hora em que os portões abriram até o momento de partir, embasbacados todos pela “school of rock” que foi o show da diva Patti Smith. Quanta história foi contada em 12 horas ali naquele palcão bonito. Sim, à certa altura teve um problema em banheiros, um erro de cálculo. Será corrigido. Mas o que consideramos o nosso maior acerto é não perder a mania de fazer um festival sobre música e pessoas.
Dentro do que podemos falar sobre os shows, e com este post enfeitado por imagens gloriosamente saídas da câmera do fotógrafo Marcos Hermes (@marcoshermes), a gente achou que tudo no Popload Festival 2019 foi assim:
PATTI SMITH
No auge de seus 72 anos, Patti Smith subiu ao palco do Popload Festival em uma cidade tomada pela incerteza do futuro para mostrar que ainda há união entre as pessoas. Com sua poesia cantada e suas mensagens de amor eterno, todos presentes se tornaram um só sob gritos de poder, afeto e liberdade. Foram mensagens de esperança para aqueles que acompanham sua carreira desde os anos 70 e para aqueles que chegaram na festa dos engajamentos só agora, um público consumido pelas ansiedades do século XXI e que receberam um acalento nas palavras de Patti.
Em sua arte, porque a sua música já transcendeu o nirvana e não pode ser considerada somente um conjunto de melodia e letras, Patti nos guiou para o final de um dia que ficará na memória, o final de uma noite feita para nós, os amantes.
(Carolina Andreosi)
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THE RACONTEURS
À noite, entre a algazarra dance cool do Hot Chip e a hiperiluminada apresentação de Patti Smith, foi a vez do Raconteurs estrear no Brasil – e de Jack White fazer sua quarta passagem pelo país. O quarteto, acompanhado do ilustre Dean Fertita (Queens of the Stone Age, The Dead Weather) tinha a difícil missão de tocar, em apenas uma hora, um setlist que agradasse a fãs que nunca puderam vê-los no palco. Dentre as 12 músicas apresentadas, sete vieram do mais recente disco, “Help Us Stranger”, lançado agora em junho deste ano, e encaixaram bem com as antigas como “Old Enough” e “Level”. O que fica fácil de notar é a química entre os músicos no palco, especialmente durante a jam em “Broken Boy Soldier” – nem parece que, antes de 2019, o Raconteurs tinha ficado oito anos ausente dos palcos. O rock que a banda faz pode não ser tão popular quanto era ao lançamento de “Steady, As She Goes”, lá em 2006, mas sua qualidade não mudou em nada. Foi uma pena não poder ouvir “Carolina Drama” ou “Blue Veins”, mas fica para a próxima. Pode voltar para tocá-las, Jack.
(Fernando Scoczinsky Filho)
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HOT CHIP
O show do Hot Chip é sempre o show do Hot Chip. Sao sete no palco fazendo a festa para os milhares que estão no chão, que logo embarcam na balada deles. Já mandaram na segunda música q deliciosa “Flutes”, umas das melhores faixas da banda, com direito a dancinha ensaiada dos integrantes para o refrão. E aquele fim de tarde na Barra Funda virou o melhor lugar para estar com os amigos no planeta. “Melody of Love”, “Spell”, “Hungry Child” são músicas do novo album, “A Bath Full of Ecstasy”, que saiu em junho, e como podem já soar como hits? Esse é o tipo de banda que segue sendo relevante ao mesmo tempo que divertida e dançante. O cover de “Sabotage”, dos saudoso grupo nova-iorquino Beastie Boys, foi inacreditavelmente bom! Muito parecido com a versao original, nao entendi muito por que, mas só sei que adoraria ver de novo. O final com o hit absoluto “I Feel Better” já deixa a gente esperando pelo próximo show do Hot Chip por aqui, porque eles sim podem voltar todo ano.
(Isadora Almeida)
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CANSEI DE SER SEXY
Feliz 2004!!!!! Uma das formações brasileiras que mais marcaram nossa cena em muitos níveis, o hoje quarteto feminino Cansei de Ser Sexy, de São Paulo, tocou, em São Paulo, pela primeira vez depois de oito anos longe da cidade, a mesma cidade que elas ajudaram a botar no mapa mundial com muitas canções boas, uma irreverência absurda e um sentido completo de música-fashionismo-autozoação-inclusão-críticasgerais que poucas bandas vão ter, para o bem e para o mal. Incrível imaginar que a absurda cantora Lovefoxxx continua sendo a pessoa mais fofa que já segurou um microfone neste país, dessas de querer levar para casa e ser bff para sempre. Que show leendo. Que performance limda. Foi 2004 de novo mesmo. Talvez o mundo esteja tão intragrável hoje por falta de mais bandas como o CSS, sua composição de molejo indie, show contagiante, pop feliz, letras foda, guitarras ótimas, batidas “perfeitas 10/10”. Num certo mesmo sentido em que horas depois o show de Patti Smith contou, com todos os elementos que carrega, a história do rock do punk para cá, a apresentação do Cansei de Ser Sexy nesta especialíssima volta no Popload Festival (cóf.) contou a nossa história, a história da nossa cena. Estou errado, Santa Cecíliaaaaaaa?
(Lúcio Ribeiro)
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TOVE LO
Não dá para provar, mas pareceu que a Tove Lo conseguiu levar ao festival seu próprio público, que nem sabemos se ficou para ver o resto do festival. Pode ser só sensação, mas apostaria nisso. O que garantiu dos fãs do público do começo ao fim. E ela entregou o que eles pediram: hits, dancinhas, som alto, telão lindo. Virou notícia que ela mostrou os seios no show, um lance que rola sempre ao vivo. Mas nossa “manchete” é ela ter proporcionado o primeiro momento funkeiro do Popload Festival na história. Teve o bombado MC Zaac no palco, na parceria deles, “Are U Gonna Tell Her”, que colocou o festival para rebolar. Até o chão.
(Vinícius Félix)
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KHRUANGBIN
Seria o show ideal para o fim de tarde ensolarado. Só faltou o sol, mas tudo bem. O trio Khruangbin talvez seja um pouco estranho de cara, mas quem se deixou encantar pelo minimalismo da bateria, da boa conversa do baixo com a guitarra e se acostumar com a ausência de letras na viagem psicodélica totalitária do trio, foi no embalo da trip deles em uma apresentação que é música quase o tempo todo sem pausa para respiro – um momento de percussão com garrafas aqui, um telefone que toca no palco ali e só. Fora isso, o show são os três estilosos integrantes (Oi, Laura!) e sua “world music” hipnótica de amplitude incrível, pouco improviso, em uma hora. Quem gostou e achou que eles fazem boas jams sessions vai se espantar quando descobrir que eles reproduzem bem fielmente o som dos álbuns. Que delícia de viagem para esperar o que viria depois.
(Vinícius Félix)
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LITTLE SIMZ
Acompanhada por uma banda de três músicos, a rapper inglesa Little Simz, destaque da nova cena britânica e já queridinha de Kendrick Lamar, fez um vibrante show em que cantou faixas de seus três discos. Como ela própria deixou claro, Simz trouxe um pouco do norte de Londres a São Paulo, com músicas de rap impregnadas de funk, soul, eletrônica e do grime de forte e delicioso sotaque. Ela encerrou sua participação com duas de suas melhores canções, “Flowers” (parceria com o incrível Michael Kiwanuka) e “Offence”. Tudo tão bom que até fez parar de chover.
(Thiago Ney)
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LUEDJI LUNA
Muita gente insiste em ir para festival para ver uma ou duas bandas. Tudo bem, tudo certo, mas perdem por exemplo um belo show de abertura. Principalmente em festivais que gostam de deturpar os conceitos de “show de abertura”, daqueles só para fazer o tempo passar enquanto o healiner não vem. Quem estava no Popload Festival desde cedo teve oportunidade de ver um dos shows mais bonitos da CENA BR de 2018/19. Luedji luna começou sua apresentação linda em um vestido branco iluminando o começo de festival chuvoso e trazendo músicas do álbum “Um Corpo no Mundo”. Ponto alto e emocionante foi a participação do bloco Ilê Aiyê para cantar “Banho de Folhas” com Luedji, que abriu o caminho para o Popload Festival 2019 seguir com um axê inspirador.
(Isadora Almeida)
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BOY PABLO
Um show especial do Popload Festival, depois da “vovó” Patti Smith e feito apenas para cerca de mil fãs genuínos, porque precisaram chegar cedo ao evento para retirar ingressos, o menino norueguês Boy Pablo acalmou os ânimos de quem passou o dia experimentando várias energias no Popload Festival e precisava de um momento de calma para processar tudo o que aconteceu. Para quem tem fama pela articulação na internet, Pablo até que fez um bom e REAL “chill-out roqueiro”, em outro palco do festival, este do outro lado da rua, no auditório do Memorial da América Latina. Fofo, intimista e, o melhor, um show sentado.
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