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Como de costume, Popload abrindo espaço aos fins de semana para algumas colaborações pontuais e selecionadas. Neste sábado é a vez de falar de cinema, com texto do jornalista e blogueiro Tom Leão, um dos caras mais importantes na informação da cultura indie do Rio desde os tempos do importantíssimo e hoje saudoso Rio Fanzine, do jornal O Globo. Tom responde pela Popload Cinema Club. Traga a pipoca e leia!
Popload Cinema Club — por Tom Leão
E vamos nós com mais um filme que tem a música como base. Não é uma obrigação aqui na Popload, mas calhou de ter vários assim rolando. E, desta vez, um exemplar brasileiro: O biofilme ‘Tim Maia’, de Mauro Lima (‘Meu nome não é Johnny’). Se não é arrebatador, emocionalmente, é muito bom na parte técnica (som, fotografia, desenho de produção, reconstituição de época). Mas, apesar de durar 2h20m, não dá conta de tudo o que tem pra contar. Na parte final, sobretudo, abrevia a narrativa e não nos mostra o Tim Maia da fase brego-romântica, nem seus grandes shows de comeback — após um período sumido–, como os que fez no Circo Voador e, principalmente, um no Parque Lage, que não tinha hora pra acabar. Talvez tornasse o filme demasiadamente longo. Mas faz falta.
A parte mais bacana do filme — e que tem uma pegada forte de humor — é o primeiro ato, focado na infância e adolescência de Tim, na Tijuca, zona norte carioca, ainda como Sebastião das quentinhas (entregava comida para sua mãe, cozinheira). Nesta parte, vemos como Tim descobriu o rock, o que o levou a montar uma banda, The Sputniks, com a Turma da Matoso (tradicional rua da Tijuca, onde nasceu o rock carioca), ao lado dos então desconhecidos Jorge Ben, Roberto e Erasmo Carlos (estes dois, fizeram parte da banda efetivamente). Também nesta parte, há a presença de Carlos Imperial (que merece um filme à parte), o camarada que ‘introduziu’ o rock no Brasil, através de um programa semanal na extinta TV Tupi, ainda nos anos 50, que lançou várias bandas e artistas pop/rock. Na sequência, acompanhamos a ida de Tião, agora Tim (sugestão de Imperial), para Nova York, na cara e na coragem, onde passou sufoco, mas acabou tomando contato com o funk e a soul music, que mudaria sua vida para sempre. Não sem antes passar perrengue na volta ao Brasil, onde perdeu o bonde da Jovem Guarda, que deixou seus amigos ricos e famosos, já em São Paulo.
O filme é baseado no ótimo livro de Nelson Motta, ‘Vale tudo’ (no qual, sou citado, por ter sido ameaçado de morte pelo próprio Tim, após uma crítica de disco, elogiosa até, da qual ele não gostou por ter sido comparado a Barry White! ha ha), mas com um recurso criado pelo diretor, a narração em off, feita pelo maior amigo de Tim, o cantor Fábio (Cauã Reymond). Nessa parte, Tim é interpretado por Babu Santana — quando jovem, o ator é Robson Nunes. Aqui, vemos a passagem de Tim e de sua entourage pela Swinging London do começo dos anos 70 (ele já estava montado na grana, após o estouro de seu primeiro álbum, que teve vários hits), algo que não é muito conhecido do grande público; e do caso que teve com uma groupie (Alline Moraes), mãe de seu único filho. São passagens interessantes, pouco sabidas de quem só conheceu o artista depois, e ficou mais com a imagem final dele, a do doidão criador de caso e de frases espirituosas. E que é muito boa, também. Contudo, o filme não consegue penetrar totalmente na complexa persona do artista que, como dizem os americanos, era ‘maior do que a vida’…
*Tom Leão assina o blog Na Cova do Leão e é colunista de cultura da Globo News