POPLOAD abre espaço aos fins de semana para algumas colaborações pontuais e selecionadas! Temos a Flávia Durante dando importantes pitacos latinos na “Arepas Sonoras”, a coluna “Popload Cinema Club”, que traz o olhar certeiro do jornalista carioca Tom Leão e o Felipe Evangelista, escrevendo sobre o rico mundo do hip hop na seção especial Popload Beats. No texto de hoje, Felipe
POPLOAD BEATS — por Felipe Evangelista
Eu passei os últimos dias tentando decidir qual o tema que eu iria abordar na coluna desta semana. É tanta coisa acontecendo que a dúvida era inevitável. Teve o single novo do Kendrick Lamar e a infinidade de detalhes que cercam esse lançamento, teve o álbum novo do Saigon que com certeza é merecedor de uma coluna própria e alguns outros temas que desde que eu comecei a escrever tenho vontade de abordar. No momento em que parecia que eu tinha decidido, eis que vejo uma notícia interessante na Folha de São Paulo: Haddad anuncia show da banda Public Enemy.
No momento em que li a notícia, comecei a listar na minha cabeça os últimos artistas de Hip-Hop e R&B que vieram se apresentar no Brasil do ano passado para cá: Wiz Khalifa, Nas, Black Star, Ja Rule, Alicia Keys, The Roots, Ne-Yo, Kid Cudi, Baby Boy Da Prince, De La Soul, GZA, De La Soul, Busta Rhymes e Soulja Boy. Se nenhum nome passou batido pela minha cabeça, a lista é essa aí. Se tirarmos alguns que até hoje estão ativos e fazendo sucesso, sobram dois grupos. Um deles são as lendas do Hip-Hop, que fizeram sucesso na década de 80 e 90, mas que hoje raramente lançam algo novo. Que fique claro que em nenhum momento eu achei ou vou achar ruim que nomes do calibre de Public Enemy, De La Soul e Black Star venham para o Brasil. Eles possuem uma história incrível dentro do Hip-Hop e vê-los de perto é uma oportunidade única.
O outro grupo tem rappers em decadência, sem mercado nos Estados Unidos e na Europa, que começam a fazer shows em países mais afastados, onde ainda tem fãs dispostos a gastar seu suado dinheiro. Nesse grupo se encaixa Ja Rule, Baby Boy Da Prince e Soulja Boy. Eu poderia me alongar por diversas linhas para falar sobre cada um desses rappers, mas eu vou me limitar a falar apenas sobre o autor do hit “The Way I Live”. O único álbum do cara, que gerou dois singles, foi lançado em 2007. Isso mesmo, 7 ANOS ATRÁS! E o pior de tudo é que foi um álbum fraco, sem conteúdo e que não vendeu nada. A única coisa que “salvou” o álbum foi a porra do hit ostentando o jeito que ele vive. Desculpa, mas não dá para levar um show desses a sério.
O problema é que quando a gente pensa em colocar a culpa em alguém por não trazer para o Brasil o nosso artista preferido, a gente sempre mira direto nas produtoras dos shows. Lógico que elas têm uma parcela de culpa nessa história, mas a grande parte da culpa deve ser depositada na conta dos meios de comunicação. Televisão, rádio e internet são grandes influenciadores da massa e se eles não olharem esses artistas, a chance de o público conhecer é mínima. Lógico que sempre vai haver aquele público curioso, o cara que ao invés de deixar as rádios escolherem o que ele deve ouvir, vai atrás por conta própria do que o agrada. E mesmo que esse grupo cresça cada vez mais, ele ainda é muito pequeno.
Já as rádios têm medo de ousar e ficam naquela velha história de tocar as músicas que fizeram sucesso nos últimos anos e os destaques do Hot 100 da Billboard. Eu não ouço rádio tem alguns anos, mas eu tenho certeza que se eu ligar em qualquer uma dessas rádios de música pop eu vou ouvir “Anaconda” da Nicki Minaj, “Black Widow” da Iggy Azalea, “Love The Way You Lie” do Eminem e “Empire State of Mind” do Jay-Z. Mais uma vez, eu não tenho nada contra essas músicas ou esses artistas, pelo o contrário, de alguns deles eu sou fã e outros eu até tenho um certo apreço, mas por que não arriscar? Por que não tocar o som novo do A$AP Rocky que lançou ontem? Por que não tocar o remix de “No Love” do August Alsina com a Nicki Minaj? Por que não tocar algum single do próximo álbum do T.I.? Por que não tocar “Holy Ghost” do Jeezy? E olha que eu nem estou falando de artistas novos e alternativos, são todos artistas consagrados e que são figurinhas carimbadas nos programas da TV americana.
Outra desculpa que a gente está acostumado a ouvir é sobre o cachê cobrado por esses rappers “do momento”. Para a gente fazer uma comparação simples, eu vou usar uma reportagem que saiu na Complex em agosto, onde é divulgado o cachê de diversos rappers. Um dos que teve o valor divulgado é Soulja Boy, que não sai de casa por menos de US$ 50.000. Nessa faixa, por “apenas” US$ 10.000 a mais, a gente poderia ver um dos artistas mais falados do momento, Tyler, The Creator. Busta Rhymes foi outro artista que esteve aqui no Brasil recentemente e que a Complex citou. O cara cobra não menos do que US$ 40.000 por show. Com uma economia de US$ 5.000 seria possível contratar Chance The Rapper, o cara que teve a melhor mixtape do ano passado e que está ajudando a levantar a cena de Chicago novamente.
Lógico que contratar um show não é apenas estar disposto a pagar o cachê do artista. Existem milhões de fatores e detalhes que podem impedir a realização de um evento desse porte, mas se a gente juntar todos os tópicos que eu abordei, do interesse das produtoras à inteligência na hora de escolher o artista e da coragem das rádios ao interesse do público, com certeza nós vamos ter a possibilidade de acompanhar, além dos grandes ícones do Hip-Hop, artistas que aos poucos vão escrevendo o seu nome nesse gênero que a gente tanto aprecia.
*Felipe Evangelista tem 27 anos e passou mais da metade da vida ouvindo hip-hop. É administrador e aspirante a produtor musical.