Of Monsters and Men volta com “All Is Love and Pain in the Mouse Parade” para recriar, em outra fase, o que faz de melhor. Mas ainda funciona?

Imagine o seguinte cenário: você acorda numa manhã fria de domingo e decide sair para dar umas voltas de carro. Ao fundo, montanhas, lagos e um céu nublado — uma atmosfera típica da Islândia. Tudo parece muito distante para nós aqui do Brasil, mas, desde o comecinho dos anos 2010, a banda Of Monsters and Men traduz essas paisagens melancólicas em músicas não tão melancólicas assim para a galera indie/folk ao redor do mundo.

Nesta sexta-feira que passou, o grupo islandês retornou com “All Is Love and Pain in The Mouse Parade”, o primeiro disco desde “Fever Dream”, de 2019. O álbum anterior, mais entregue ao pop dançante, passou longe de se firmar como unanimidade (se é que elas existem na música). Seu sucessor, então, marca uma volta às origens, na estética e na sonoridade. As roupas neon ficaram de lado, bem como a produção “limpinha” assinada por Rich Costey (Vampire Weekend, Muse, Fiona Apple).

Gravado ao longo de dois anos na terra natal do quinteto, o projeto mostra Nanna, Ragnar e companhia tentando replicar o que fez de “My Head Is an Animal” (2012) tão especial: a intimidade, os refrões poderosos e a veia folk. Parte disso aparece com força em faixas como “Ordinary Creature”, “The End” e “Fruit Bat” — esta, aliás, uma viagem de oito minutos, que ganhou até uma session ao estilo dos “velhos tempos” da banda.

Os ouvidos mais atentos não deixarão passar as linhas de bateria com floreios à la The National presentes ao longo de todo o disco, mas principalmente em “The Actor”. E não se trata de coincidência. Apesar de os integrantes terem se dedicado mais à produção do próprio projeto desta vez, Peter Katis, colaborador de longa data da banda norte-americana por quem a vocalista Nanna já demonstrou sua admiração, é um dos nomes creditados em “All Is Love and Pain in The Mouse Parade”. 

Josh Kaufman, multiinstrumentista cujas colaborações vão de The War on Drugs a Taylor Swift, é mais um que se juntou ao Of Monsters and Men na empreitada, ajudando a trazer uma cara nova, mas ao mesmo tempo nostálgica para o álbum. A ideia não se limita ao som, estendendo-se também pelos temas das letras. Ainda no divertido single “Ordinary Creature”, a banda canta sobre “voltar a si mesmo” e buscar o conforto depois de um período sombrio. Um toque meio pós-pandêmico.

Se nem tudo funciona — a exemplo de “Barefoot in Snow”, que troca as camadas de instrumentos por um arranjo minimalista e eletrônico —, pelo menos o saldo parece positivo, e o disco tem tudo para embalar o grupo em festivais e shows solo pela Europa e América do Norte. Para o Brasil, nada anunciado, mas não é por falta de pedidos nas redes sociais, para variar.

A última passagem do OMAM por essas bandas foi no Lollapalooza 2016, tocando logo antes de Mumford & Sons — que, agora sim por pura coincidência, também lançou um disco de “volta às origens” neste ano. 

Será que ainda é cedo para chamar de revival indie folk?

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* O autor deste texto, Dimitrius Vlahos, escreve sobre cultura pop e entretenimento, principalmente cinema, para a revista “Monet”. É guitarrista e costuma viajar todo ano para assistir a festivais de música fora do país

* Leia entrevista com Ragnar Þórhallsson, vocalista do OMAM, publicada no sábado.

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