Saiu hoje “Moisturizer”, o ótimo disco novo da banda inglesa “Wet Leg”, uma linda continuação para o “quebrador” disco homônimo de estreia do grupo, de 2022.
Não à toa, o jornal britânico “The Guardian” deu nota alta ao disco em sua edição de ontem e chamou a Wet Leg, ainda, de “british indie’s big breakout band”
Na quinta à noite, ontem, a partir do Bar Alto, a paulistana Vila Madalena já pode ouvir o disco, graças a uma audição de “Mosturizer” nas escadarias da entrada.
Agora nos streamings, e embora com as meninas fundadoras da banda Rhian Teasdale e Hester Chambers enfeitando novamente a capa, a Wet Leg desde há pouco é um quinteto. Rhian e Hester integraram de vez os rapazes Josh Mobaraki (guitarrista), Ellis Durand (baixista), que falaram à Popload para a entrevista que você lê abaixo, mais Henry Holmes.
Popload – Vocês já superaram o “high” daquele show incrível que fizeram no Glastonbury?
Josh Mobaraki – Acho que ainda nem processei direito a informação. Talvez quando eu tiver uns 55 anos de idade eu pense: “Nossa, foi um negócio importante mesmo, né?”
Popload – Vocês tinham expectativas para o show, ou evitam pensar nisso antes?
Ellis Durand – A primeira vez que tocamos no Glastonbury (em 2022) foi uma loucura, um momento muito estranho e inesperado. Tivemos a sorte de poder tocar lá novamente. Acho que não esperávamos… Bem, era um palco maior desta vez, tocando em um horário diferente, e tinha tantas bandas legais no festival. Não, eu não esperava tudo isso. Fiquei agradavelmente surpreso.
Josh Mobaraki – Aconteceu algo similar no Primavera Sound, em Barcelona, em 2022. Chegamos lá e ficamos chocados com a reação do público. Aí tocamos lá novamente neste ano e pensamos: “É impossível ser tão bom quanto da última vez”. Mas o público nos surpreendeu novamente.
Popload – Eu estava vendo o vídeo da música “CPR” no Glastonbury, e um dos comentários mais votados no YouTube dizia: “Eu não sabia que os jovens ainda estavam começando bandas de rock novas!”
Josh Mobaraki – Que elogio!
Ellis Durand – Muito gentil da parte dessa pessoa!
Josh Mobaraki: Henry é o mais jovem de nós. É um bebê.
Ellis Durand – Ele tem 27. O resto da banda está na casa dos 60 [risos].
Popload – O que vocês cresceram ouvindo? O que te levou a fazer esse estilo de rock?
Ellis Durand – Eu cresci ouvindo tanta coisa diferente. Mas, o que me fez querer tocar música, eu diria que os Arctic Monkeys, os Strokes, os Maccabees.
Josh Mobaraki – Quando eu tinha uns 15 anos de idade eu amava Explosions in the Sky, que era uma banda bem nichada, cheia de guitarras. Eu também fiquei obcecado por hip hop. Em algum momento, expandi meu gosto, e sei que isso soa bobo, mas eu simplesmente gosto de músicas boas.
Popload – Eu estava ouvindo o seu disco novo (“Moisturizer”), e na segunda metade ouvi umas guitarras que me lembraram bastante o My Bloody Valentine. Foi uma referência proposital?
Josh Mobaraki – Foi mesmo. Eu amo tocar daquele jeito. Jamais imitaria o som deles, mas amo a técnica de aplicar muita distorção, tocar acordes e usar a alavanca, parece que o tempo está sendo distorcido. Legal que você percebeu isso! Também fiz isso em “Angelica”, uma música que produzi no primeiro disco da Wet Leg.
Popload – A banda começou essencialmente como uma dupla, das meninas, mas agora vocês viraram integrantes oficiais dela. Vocês podem me contar como esse processo aconteceu?
Josh Mobaraki – Bem, o Henry já tinha gravado no primeiro disco, ele tinha composto todas as partes de bateria, então já era uma “banda” de verdade. Aí quando chegou a hora de fazer a turnê, nos convidaram para tocar com elas. E a partir desse momento já viramos uma banda completa. Acho que nunca tentamos recriar o som do disco ao vivo; cada integrante sempre incorporou suas próprias ideias às músicas. Agora [com o segundo disco], é o momento perfeito para anunciar a banda dessa forma.
Popload – Eu estava olhando os créditos de composição do disco novo e percebi que há muitas combinações diferentes de autores na banda. Como funciona essa dinâmica na Wet Leg?
Ellis Durand – Fazíamos muitas jams juntos, mas também enviávamos demos uns para os outros, então quem participava de cada faixa variava bastante.
Josh Mobaraki – Mas tem uma faixa no disco chamada “Jennifer’s Body”, essa surgiu durante uma jam, com a banda inteira junta. Mas as outras, cada uma surgiu de uma forma diferente.
Popload – Comparando os vídeos de vocês no Glastonbury 2022 e 2025, dá para perceber que a vocalista, Rhian Teasdale, claramente evoluiu muito enquanto “frontwoman”, das roupas ao cabelo. Isso foi só ideia dela ou vocês a estimularam?
Ellis Durand – Foi 100% a Rhian.
Josh Mobaraki – Eu acho que, talvez… Bem, eu não posso falar por ela. Mas todos temos ambições enquanto banda. Apoiamos o que qualquer um quiser fazer. Ninguém segura ninguém.
Popload – E, quando vocês fazem músicas novas e começam a mostrá-las para outras pessoas, quem tem a reação que mais importa para vocês?
Ellis Durand: A nossa.
Josh Mobaraki – É legal quando outras pessoas gostam do que fazemos, mas, sendo realista, a única coisa que importa para mim é o que nós achamos. Só queremos fazer músicas que gostamos. Tem gente que diz que o disco novo é diferente, ou uma evolução do primeiro disco. Nos shows recentes, percebemos que o pessoal parece reagir bem, e isso é encorajante.
Popload – Por último, preciso perguntar: o Brasil está nos planos de vocês no momento?
Josh Mobaraki – Gostaríamos muito de voltar à América do Sul. Mas estamos só tocando os shows que aparecem para nós. É o que os adultos fazem [risos].
Ellis Durand – Esperamos que aconteça em algum momento. Definitivamente. Talvez [risos].
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* A foto da banda usada neste post é de Alice Backham.