O improvável aconteceu. Vimos o Black Crowes 27 anos depois. E foi bom

Quando uma banda demora 27 anos para fazer sua segunda visita ao Brasil, é até difícil falar em expectativa. Só o fato de o Black Crowes estar na ativa já é um quase-milagre, o que dirá uma turnê pela América do Sul. Na terça-feira, 15 de março de 2023, os irmãos Chris e Rich Robinson, acompanhados de seus músicos de apoio, finalmente retornaram ao Brasil, se apresentando no Espaço Unimed (o das Américas), em SP. Estávamos lá para conferir.

Como na maioria dos shows dessa mais recente “reunião” dos Black Crowes, o foco foi na comemoração dos 30 anos de seu disco de estreia, “Shake Your Money Maker” (1990), o qual foi tocado na íntegra. Como em qualquer show onde um álbum é executado do começo ao fim, é uma faca de dois gumes: você já pode ter certeza do que será tocado, mas terá poucas surpresas. De qualquer forma, “Shake Your Money Maker” foi reproduzido maravilhosamente, sem muita modificação ou improvisação, na frente do público animado, porém comportadinho, que encheu o Espaço Unimed. 

A banda que apoia os dois Black Crowes originais é competente e reproduz tudo como no disco, sem muitos floreios, sem protagonismo. As estrelas são, de fato, Chris e Rich Robinson. E os holofotes geralmente focam neles. Felizmente, Chris continua dançando e pulando pelo palco como sempre fez, e sua voz está excepcionalmente intacta, aos 56 anos de idade, sustentando os 100 minutos de show com tranquilidade. Já Rich é mais reservado em sua linguagem corporal – alguns até o chamariam de “antipático” ou “desanimado”, mas quem estava perto o suficiente podia ver que ele fazia contato visual constante com a plateia, esboçando uns sorrisos aqui e ali.

Ao fim do disco “Shake Your Money Maker”, abriu-se o espaço para as possíveis surpresas da noite, as seis músicas que completariam o setlist, como têm feito na turnê. Veio uma sequência irretocável de algumas das faixas favoritas dos fãs: “Sometimes Salvation”, “Wiser Time” e “Thorn in My Pride”, esta sendo a única da noite a conter qualquer tipo de “jam”, e que também sofreu um pouco com problemas técnicos perto do fim.

Antes do bis, ainda vieram “Sting Me” e a clássica “Remedy”, deixando algumas dúvidas no ar: Não seria melhor os Black Crowes tocarem na íntegra “The Southern Harmony and Musical Companion” (1992), ou então “Amorica” (1994), respectivamente o segundo e terceiro discos da banda, ambos infinitamente superiores em todos os aspectos possíveis ao de estreia? Ou, quem sabe, abandonar essa ideia de executar “Shake Your Money Maker” e fazer um setlist tradicional, puxando da discografia inteira deles? Alguém reclamaria? Enfim, 27 anos entre um show e outro, não dá para ficar na bronca com nada com uma banda assim.

Para encerrar a noite, o grupo costuma tocar uma cover, como “Rocks Off”, dos Rolling Stones, ou “Rock & Roll”, do Velvet Underground. Em SP, fugiram do óbvio e mandaram a faixa relativamente rara “Virtue and Vice”, que fecha o disco “By Your Side” (1998). Um fim catártico para um retorno tão aguardado e improvável.

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* As fotos do Black Crowes usadas para este post e a chamada da home são de @camilafcara

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