Lembra quando…: a Popload entrevistou o Morrissey?

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É #tbt que chama, né? Estreamos hoje uma seção especial, um “flashback” pessoal da Popload. Uma viagem ao túnel de posts, entrevistas marcantes, vídeos, sessions, matérias que chocaram a Cena (hehe), descobertas que sim, você ouviu aqui primeiro e muito mais.

Porque muito antes das redes sociais e dos compartilhamentos e da viralização de vídeos de gatinhos, quem sabe até mesmo antes de você ter idade legal para ir a um show, a Popload estava aqui. Ou lá, no papel, em forma de coluna semanal em grande jornal brasileiro. É bom reviver tudo isso ou até se envergonhar um pouco, claro, afinal, a gente também “cresceu” e tem direito a mudar de opinião sobre ~certas coisas~. O passado condena, mas diverte também.

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Entrevista do Moz publicada na na Ilustrada em 2012 e na Popload

Para estrear esta seção nostalgia, a Popload compartilha aqui uma entrevista com o polêmico (e atualmente um tanto intolerante) Morrissey. A vida não está fácil para o fã do ex-Smiths. Cada vez que ele abre a boca é uma bomba. A repercussão da última entrevista a um jornal alemão em que ele decide opinar de Kevin Spacey à imigração gerou tanto auê que Moz prometeu não dar entrevistas nunca mais. Ufa.

Há exatamente seis anos, em fevereiro de 2012, a Popload batia um papo com o cantor para a Ilustrada, caderno de cultura do jornal Folha de São Paulo. Moz estava de volta ao país depois de doze anos. A matéria completa, com entrevista, você lê abaixo:

Nem tão indie, nem tão cult

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Na primeira e única ocasião que esteve no Brasil para shows, em 2000, o cantor inglês Morrissey concedeu entrevista a este jornalista em um hotel em Curitiba. Embora estivéssemos no mesmo lugar, Morrissey não quis descer do quarto e a entrevista foi feita por telefone. Ele na cama, eu no saguão, conversa via ramal interno. “Desculpe-me. Acordei agora e não estou com uma aparência digna de oferecer às pessoas. Vou poupá-lo”, disse ele, numa justificativa à la Morrissey.

Doze anos depois, o cantor volta ao país para três novas apresentações, desta vez em Belo Horizonte, Rio e São Paulo, respectivamente nos dias 7, 9 e 11 de março. E aceitou dar nova entrevista.

“Mas tem que ser por e-mail, no máximo quatro perguntas e nada de falar sobre os Smiths”, veio o aviso.

Morrissey -poeta pop e vocalista singular que um dia liderou o fundamental The Smiths, nos anos 80, e montou uma sólida carreira solo na virada para os anos 90, levando, para onde quer que vá, um verdadeiro séquito de adoradores que se mantém até hoje- continua o mesmo.

O que mudou foi a música em torno dele. Com um disco pronto desde o ano passado, Morrissey não tem gravadora disposta a lançá-lo, mesmo lotando shows em qualquer parte do planeta.

Sobre isso, sobre a indústria musical em geral e sobre o Brasil, o senhor Morrissey, quase 53 anos, tem quatro respostas a dar.

Lúcio – Existe algo especial em voltar ao Brasil neste momento de sua carreira? Lembra-se dos shows de 2000?

Morrissey – Fiquei surpreso em saber que vendi tantos ingressos para esta turnê no Brasil. E fiquei completamente perplexo com a repercussão da última vez em que estive no país. Você sabe o quanto os EUA e a Inglaterra acham que são o centro do mundo. Então, é difícil saber como as coisas são no Brasil.

Eu me dou bem nos EUA e na Europa, mas meu alcance na mídia lá é quase sempre invisível. Então, fica implícito que todo grande sucesso vem das pessoas de quem você ouve falar… O que não é o meu caso! Acho que sou confuso demais ou muito provocador para a mídia lidar comigo, porque eu não sou uma pessoa simples. Então, é sempre uma surpresa.

Baseado na grande repercussão que foi o anúncio de seus shows, a impressão que temos é que, no Brasil, você ainda mantém um intocável status de artista cult, mesmo entre o público mais jovem. Acredita que isso é fruto da internet?

Não sei ao certo o que significa ser cult. Sempre achei que significasse que poucas pessoas se interessam por você. Há muito tempo me chamam de “artista cult” e “indie”, mas nenhum desses termos é verdadeiro. Eu simplesmente não sou uma puta da mídia, que faz qualquer coisa para aparecer. Acho que todo mundo está deprimido com essa nova era da música porque parece que ela só se interessa por músicas sem sentido.

Em todo o lugar que você vá, ouvirá músicas inexpressivas -tocam techno-dance em todas as lojas de departamentos, lojas de sapatos e elevadores, porque ninguém está realmente ouvindo aquilo. Você nunca vai ouvir uma canção com conteúdo social num salão de beleza ou na TV.

Se você perguntar a uma vendedora de loja como ela consegue ouvir aquela música alta o dia todo, ela vai sempre responder: “Ah, eu me desligo”. É assim a música moderna. Você não tem a permissão de escolher a canção que quer escutar. Você é bombardeado na cabeça com música que outros escolhem para você ouvir. E assim ela se torna insignificante.

Como faz para manter a sua carreira viva sem um contrato com um selo para lançar um CD e vivendo na era do download gratuito? Ainda se sente relevante para a música?

Eu me sinto triste porque nenhuma gravadora quer assinar comigo. Isso diz muito sobre a indústria da música nos dias de hoje. Ela está efetivamente morta agora.

Não é que ela esteja morrendo: já morreu! As gravadoras a mataram ao bagunçar as paradas de sucesso e por assinarem contratos com moleques de 15 anos que ficariam emocionados em fazer tudo isso sem um contrato.

Sigo porque gosto de cantar e, até o momento, tenho um público que quer minhas músicas. Mas minhas razões para continuar não significam nada para as gravadoras.

Você ouve música nova, bandas novas?

Acabo ouvindo de tudo, mas a maioria dos novos artistas matam a música. E a imprensa musical -o que sobrou dela!- vai sempre “hypar” seus amigos, escrever sobre os amigos e inventar premiações para os amigos, mês sim, mês não. Mas, no fundo, acho que não existe uma só pessoa neste planeta que ache que haja esperança para a música moderna.

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Postado por Lucio Ribeiro   dia 01/03/2018
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