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* Pense sob a perspectiva do baterista Matt Helders, cuja função principal na vida é ser baterista do grupo inglês Arctic Monkeys, o que não é pouca coisa na música de hoje, mas na noite de quinta-feira se encontrava em outra lugar, em outra tarefa.
Estamos, eu e Matt, no suntuoso Greek Theatre, em Los Angeles. No meu caso, para o último para o último show desta série californiana para a Ilustrada, que começou há duas semanas em San Francisco exatamente com o parceiro dele no Arctic Monkeys: Alex Turner e seu projeto paralelo The Last Shadow Puppets.
No caso de Helders, para o último show nos EUA de sua nova aventura fora de sua “zona de conforto” britânica, no caso tocando como baterista do novo show da lenda viva Iggy Pop.
De onde está sentado, com baquetas na mão, ele vê a sua frente um dos mais importantes guitarristas dos últimos anos, Josh Homme, do grupo americano Queens of the Stone Age.
Mais à frente ainda, ou ao lado, ou atrás, ou no meio do público, ou correndo, ou sentando, ou arriscando um mergulho na plateia, ou cuspindo, ou fazendo mil usos da palavra “fuck”, está o velho Iggy Pop, um dos mais importantes frontmen desde sempre, empolgadíssimo em executar ao vivo as músicas de seu novo disco, o elogiado “Post Pop Depression”, recém-lançado.
O álbum, seu 17º oficial da carreira e construído em parceria com Josh Homme, chegou às lojas em março junto com o show e sua premissa, “Uma noite apenas, uma vez apenas”. Anteontem, em Los Angeles, foi o derradeiro dessa turnê singular americana por 15 cidades selecionadas. Agora em maio acontecerão sete concertos na Europa e depois o veterano roqueiro encerra a parceria. Nunca mais essa banda.
O supergrupo ainda conta ainda com o multiinstrumentista Dean Fertita (Queens of the Stone Age, The Dead Weather, Raconteurs), entre outros, mas é o senhor Iggy Pop o “dono” da coisa toda, mesmo.
Como uma aula de rock velho, rock atual e referências, ele amarra ao vivo três gerações do rock e todas as músicas do novo álbum (com exceção de uma) e alguns de seus principais clássicos. De repente Matt Helders, que até uns dez anos atrás alegava não saber tocar, se vê então espancando a bateria em canções como “Lust for Life”, “The Passenger”, “Nightclubbing” e “China Girl”, essas duas últimas feitas por Iggy em parceria com David Bowie na Berlim dos anos 70.
A noite está bem fria no aberto Greek Theatre, uma arena aberta dentro do gigante Griffith Park, e a banda toda entra arrumadinha, com uniforme, para tocar por duas horas para as quase 6 mil pessoas que lotam o lugar.
Depois de dois clássicos iniciais, Iggy Pop já está com seu não-uniforme. O resto do show faz sem camisa, às vezes mostrando a cueca, chamando as pessoas “pobres” (a dos ingressos mais baratos) para virem à frente no meio dos ricos (os que pagaram muito para ficar na frente do palco). “Preciso de umas pesssoas ‘reais’ e ‘vivas’ aqui na minha frente, para esse show funcionar.” Iggy Pop sendo Iggy Pop.
Matt Helders tem 29 anos. Iggy Pop, 69. A diferença dá a idade do punk, que para os ingleses completa 40 anos neste ano, mas Iggy já havia começado essa revolução alguns anos antes, nos EUA. Para Helders, o “do it yourself” (faça você mesmo) virou “do it with him” (faça com ele). E a história, pelo menos para ele e por um período determinado que seja, se fez mais uma vez.
* As fotos de Iggy Pop que enfeitam este post e a home são do “LA Weekly”, de autoria de Levan TK.
* A Popload está na Califórnia a convite do VisitCalifornia.