Em sua melhor versão no Brasil, Smashing Pumpkins exorciza shows ruins do passado em noite perfeita

Billy Corgan sempre faz o que dá na telha (careca) dele. Se o público vai gostar ou não, é outra história, e isso parece pouco importar ao líder dos Smashing Pumpkins. Para a sorte de todos os que estavam no Espaço Unimed no último domingo, o que deu na telha (careca) dele foi apresentar a melhor versão da banda que poderíamos ter visto em 2024.

Para entender melhor, é só rever as últimas passagens do grupo pelo Brasil.

Em 2015, um show morno no Lollapalooza Brasil, sem qualquer integrante original da banda (além de Billy, claro), e um setlist focado demais em seu material mais recente à época, que ninguém ali queria ouvir.

Em 2010, show igualmente morno e cheio de músicas novas (e fracas), também com zero membros da formação clássica, no finado Festival Planeta Terra.

Voltando décadas atrás, lá em 1998, após o lançamento de “Adore”, outro show em SP entupido de material novo e quase nada dos clássicos “Siamese Dream” e “Mellon Collie & the Infinite Sadness”.

Mas o Billy de 2024, seja por qual motivo for, é mais legal. Generoso, até.

Primeiro que a formação atual da banda contém mais dois integrantes do SP que todos conhecem e amam: o baterista absurdamente habilidoso Jimmy Chamberlin, com sua bateria que chama toda a atenção no palco, e o carismático guitarrista James Iha, que, sim, faz toda a diferença.

Segundo, uma olhada no setlist já entrega: os hinos dos discos mais amados da banda (e até umas faixas bônus) dominam o repertório atual. E vamos um pouco além: até as músicas mais recentes escolhidas se encaixaram bem. Apesar de obviamente não empolgarem tanto, conseguiram se misturar bem ao restante e, ao menos, não atrapalharam nada as duas horas de show.

Destacamos aqui a parte central do setlist, um ápice fora de hora, tão perfeito que podia até encerrar a noite. Após Billy mostrar seu talento de frontman cantando “Ava Adore” sem guitarra e andando pelo palco, veio a maravilhosa “Disarm”.

Uma breve saída do palco, e Billy volta apenas com um violão, executando “Landslide”, cover de Fleetwood Mac que praticamente supera a original, e que soou tão bela e perfeita ali que ouvi-la apenas uma vez parecia até errado.

Após mais uma cover acústica, “Shine on Harvest Moon”, a banda retorna para “Mayonaise”, com James Iha trazendo algumas das guitarras mais arregaçadas da noite. Como se não tivesse como melhorar, veio “Bullet with Butterfly Wings”, um dos maiores hits da banda, desde sempre e para sempre.

Na parte final do show, a gigantesca “Gossamer”, que nunca saiu oficialmente em nenhum disco, agiu como a desculpa perfeita para Corgan exibir seu virtuosismo na guitarra. Faixas épicas e carregadas de solo tendem a ser chatas, mas essa fluiu bem. Sua posição no fim do setlist foi propícia, após o público já ter ouvido a maioria dos hits que queria.

Logo antes das duas últimas músicas no setlist impresso, “Cherub Rock” e “Zero”, Iha e Corgan fizeram várias “piadinhas” entre si nas guitarras e nos vocais, incluindo techos de músicas de AC/DC e Black Sabbath. Aliás, que simpático Corgan estava. Seria felicidade de estar no único show com ingressos esgotados da turnê atual?

“Zero” veio para vingar de vez a performance fraca da banda no Lollapalooza Brasil 2015. Aquele show se encerrou antes da hora, com uma versão acústica de “Today”, interrompida por fogos de artifício estourando no palco principal, onde Pharrell Williams se apresentava.

“Zero”, que viria em seguida no setlist, não foi tocada, e a banda foi embora. Ontem à noite, no Espaço Unimed, quando a plateia gritou “Wanna go for a ride?”, foi uma catarse coletiva, compensando a espera de quase dez anos para ouvir um fim digno para um show do Smashing Pumpkins.

Só que não era o fim. A banda retornou e tocaram uma cover surpresa: “Ziggy Stardust”, de David Bowie. Mais surpresa ainda: com James Iha no vocal. O show já estava ganho. A plateia já estava satisfeita. Foi a cereja no topo do bolo.

Não precisava mais nada, mas Billy Corgan decidiu deixar seu vocalista cantar David Bowie no fim, e foi um fim leve e divertido para uma noite praticamente perfeita. Novamente, fez o que deu na telha dele – dessa vez, por acaso, era bem do que os fãs precisavam.

E, num detalhe fashion mais místico que importante, a roupa de padre do Billy Corgan vestida por ele no show de SP caiu muito bem, parecendo exorcizar mais de duas décadas de apresentações aquém do potencial da banda no Brasil.

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* As fotos do show do Smashing Pumpkins em SP usadas nesta post são de Rodrigo Gianesi.


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Postado por Fernando Scoczynski Filho   dia 06/11/2024
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