Por onde quer que se olhe, isto é histórico. Antes tarde do que nunca, a importantíssima banda feminina Bikini Kill vai botar seus valiosos pés no Brasil, para um show único no país na Audio, Barra Funda, no dia 5 de março do ano que vem.
Os ingressos vão estar a venda a partir de amanhã, aqui, ou sem taxa de conveniência nas bilheterias da Audio e da Associação Cultural Cecília, com preços a partir de R$ 165. Mais infos, sempre que houver, vai ser na conta da Associação Cultural Cecília no instagram.
Citar o nome da Associação Cultural Cecília no rolê já começa os lances históricos citados, porque O Bikini Kill não está vindo por uma, digamos, tarimbada produtora de shows internacionais regulares do nosso calendário. O trio (ao vivo é um quarteto) vem por um esforço de um espaço independente, que mantém uma casa aberta em um boêmio bairro paulistano, e que há muito luta para difundir arte no geral, música nova no particular, em eventos na sua maioria gratuitos ou com ingressos bem acessíveis.
E o que é importante pontuar: o show do Bikini Kill é uma parceria, atenção, da Associação Cecília com a pequena DaTerra Produções.
Só traçando um comparativo indie, o gigantesco Lollapalooza, festival realizado agora pela gigantesca Live Nation, e no mesmo mês de março de 2024, soltou sua escalação hoje com dezenas de nomes. Mas, por mais que amamos algumas bandas do line-up do Lolla, não tem uma banda com a história das Bikini Kill ali.
Continuando a importância desse show das Bikini Kill, sem mesmo ainda entrar no mérito da banda em si, o anúncio da venda de ingressos de amanhã veio com o seguinte aviso: “parte da arrecadação dos ingressos será destinada à instituição Girls Rock Camp Brasil, que empodera meninas, mulheres e dissidências por meio da música. E os alimentos entregues na compra da meia entrada social — disponível para todos — serão doados para as aldeias Tekoa Pindo Mirim & Tekoa Itakupé, da Terra indígena Jaraguá em São Paulo”.
Não tem uma beleza indie nisso tudo? Mas vai ficar mais bonito.
* BIKINI KILL e KATHLEEN HANNA – Trio formado em 1990 em Olimpia, Washington, pela genial Kathleen Hanna, tem em sua linha hoje a baixista Kathi Wilcox e a baterista Tobi Vail. Se você reparar no ano de formação e na cidade onde elas surgiram, vai notar que as Bikini Kill (na época um quarteto com Bill Karen na guitarra) surgiram no meio da bagunça grunge e numa localização geográfica muito perto de Seattle. Só para dar uma ideia mais exata do que estaria por vir, Kurt Cobain estava morando em Olimpia na época em que gravou tanto o primeiro álbum do Nirvana, o “Bleach”, quando o fenomenal “Nevermind”.
Óbvio, Cobain e Hanna eram amigos. Tanto que foi por causa dela que surgiu o nome “Smells Like Teen Spirit”, o maior hit do Nirvana, depois que escreveu “Kurt Smells Like Teen Spirit” na parede da sala de Cobain. O mais legal é que o líder do Nirvana achou o máximo a referência e tascou no nome de sua mais conhecida canção, sem saber que era nome de um desodorante de meninas novinhas.
Mais sobre Kathleen Hanna:
– ela sempre foi ativista extrema da causa feminina e uma das maiores vozes do movimento punk de mulheres chamado Riot Grrrl.
– ela é casada com Adam Horovitz, dos Beastie Boys.
– ela fazia os principais fanzines da época, tanto grunge como feminista, e chegou a ir morar em Washington D.C. para ficar mais perto de protestos e ações pela luta das mulheres.
– Melhor amiga de Kim Gordon, do seminal grupo Sonic Youth, ela aparece no ótimo vídeo de “Bull in the Heather”, uma das principais músicas do grupo nova-iorquino, de 1994.
– Em 1998 ela fundou desta vez em NYC o ótimo Le Tigre, mais eletrônico e (um pouco) menos punk, que surfaria uma outra onda revolucionária, a do novo rock dos Strokes, White Stripes, LCD Soundsystem e Rapture.
– A Bikini Kill está intimamente ligado à nova geração da música. As meninas super novas da banda Linda Lindas têm Kathleen como deusa suprema. E já chegaram a abrir show do Bikini Kill, Kathleen Hanna já fez aparições em apresentações das Linda Lindas. Dizem até que Olivia Rodrigo é fanzoca de Hanna. Faz todo o sentido.
Bikini Kill no Brasil é ou não um show imperdível?
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* A foto do Bikini Kill acima, com Kathleen Hanna à frente, é de Debi Del Grande e a arte do evento é de Letícia Moth.