Em seu segundo álbum solo, o poderoso “Big Buraco”, a artista baiana Jadsa revela uma nova versão de si mesma, mais confiante, segura de suas palavras afiadas e conduzida por arranjos envolventes, produzidos em parceria com Antonio Neves. O disco foi criado em uma imersão intensa de sete dias no Wolf Estúdio, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro.
Para esta nova fase, Jadsa optou por formar uma nova banda e convidou o amigo, produtor e multiinstrumentista Neves, responsável por traduzir suas ideias e reunir os músicos que dariam corpo ao disco.
A escolha se mostrou certeira, já que, com uma conexão única entre voz e guitarra, Jadsa poderia facilmente ser ofuscada por uma produção grandiosa, mas os arranjos conduzidos por Neves preservam sua essência.
Entram aí os sopros delicados, os grooves de baixo feitos sob medida por Paulo Emmery, os teclados refinados de Antônio Fischer-Band e os scratches certeiros das DJs Miya B e Cinara, que adicionam camadas que remetem à sonoridade dos anos 2000, referências marcantes para a artista.
Com raízes no teatro baiano, onde conheceu João Millet Meirelles, seu parceiro em Taxidermia e produtor de seu primeiro disco, Olho de Vidro, Jadsa reforça os vínculos criativos neste novo trabalho. Meirelles assina efeitos, arranjos e detalhes em algumas das faixas de Big Buraco, e sua presença ajuda a contextualizar a narrativa sonora e visual do álbum.
Jadsa é uma compositora visual. Por meio de repetições e imagens sonoras, ela constrói paisagens pelas quais o ouvinte transita, convidando-o a viajar por seu universo. Um dos destaques está nas misturas entre inglês e português, que surgem não apenas como resultado de seus estudos, mas também como forma de incorporar elementos do cotidiano a um repertório que universaliza sem perder a brasilidade.
O álbum, desta capa acima, se desenrola em quatro atos:
Primeiro ato, Big Bang. O ponto de partida, de onde viemos e o que nos move. Já na faixa de abertura, Jadsa apresenta um mantra que guia sua jornada:
“Eu quero ser o que rolar pra mim/ Quero, de querer, de estar a fim/ Fazendo o certo/ independentemente/ Indefinidamente/ Viver bem/ Comer bem/ Dormir bem/ Falar legal”
Segundo ato, Big Luv. O amor como companhia constante ao longo do caminho, que acende as sensações do cotidiano, como em “Sol na Pele”, composição de Jadsa e Antonio Neves. A música descreve uma situação tão comum quanto subir uma ladeira, mas cujo destino é o encontro com quem se ama, e culmina na faixa “Big Luv”, escrita por Jadsa em parceria com sua produtora executiva e companheira, Maíra Morena.
Terceiro ato, Big Mama. O amor que transcende, acolhe e transforma, o amor de mãe, no caso de Jadsa. A música que melhor representa esse ato é “Samba pra Juçara”, composta com sua mãe, Juçara Castro, e que remete diretamente as suas raízes baianas.
Quarto ato, Big Buraco. O mergulho mais profundo, no eu, no outro, no abismo emocional. Um momento de acerto de contas, introduzido pelo vozeirão de Antonio Neves em “Isso é o Big Buraco”, que, no formato de vinheta, sintetiza a viagem que é este trabalho.
Entre sentimentos intensos e letras diretas, Jadsa entrega um disco ao mesmo tempo íntimo e expansivo, reafirmando sua potência como uma das vozes mais originais da nova música brasileira.
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* As fotos deste post e na home são de Liz Dórea.