CENA – Carne Doce mexe com a história em seu bom novo disco. A sua e a do indie nacional

Geralmente quando usa-se o termo “maturidade” para avaliar um processo de disco ou show de uma banda nem sempre a palavra indica coisa boa. Pode ser usada para falar que o grupo em questão deixou seu frescor e energia para trás, virou “adulta”, perdeu o mojo juvenil que move montanhas sonoras, foi-se o “teen spirit” da energia e o que sobra são canções… maduras.

Pois bem, “Cererê”, o novo álbum da excelente banda goiana Carne Doce, lançado nesta sexta-feira, é o disco maduro do grupo do casal Mac e Salma. E isso significa tudo de bom, dentro de um gênero próprio estabelecido pela banda no que se pode chamar de uma “quase MPB”, executada em cima de um indie-delicado. Sabe o papel de bandas como Doves e Elbow para o pop britânico? Então…

Quarteto que exibe (sempre exibiu) equilibrio exato em letras boas, vocal original/único e melodias sonoras absurdamente bem construídas, o Carne Doce conta em “Cererê”, seu quinto álbum e o primeiro em quatro anos, bastante de sua história, desde que lançou sua estreia, de título homônimo, em 2014. E de um jeito mais refinado.

E não somos nós que achamos isso, somente.

“Vejo nesse disco passagens de tudo o que fizemos nestes dez anos de carreira. Para mim, ‘Metagreste’ e ‘Despedida’ remetem ao ‘Carne Doce'(2014) e ao ‘Interior’ (2020); ‘Noite dos Tristes’, ‘Festa’ e ‘Suspiro’ têm a ver com ‘Tônus’ (2018); ‘Trago’ poderia ser uma música do ‘Princesa’ (2016) e por aí vai…”, acha também Macloys, guitarrista do Carne Doce.

“Cererê”, o batismo do novo disco, não custa repetirmos por aqui, é um belo centro cultural de Goiânia com teatros e área interna que serve (serviu?) de resistência da cena indepentente local contra o “totalitarismo” da música sertaneja que domina a região. O Cererê foi sede dos famosos festivais Bananada, Goiânia Noise e Vaca Amarela, eventos onde o Carne Doce começou. E esse “recuo” no tempo da banda tem muita razão no momentum da banda.

“Parece que a inspiração desse disco foi um exercício de nostalgia, de buscar sentido na nossa própria origem. As letras da Salma deixaram isso mais claro e homenagear o Centro Cultural Martim Cererê, dando nome a uma faixa e ao próprio álbum, deu sentido a toda essa ideia”, revela Macloys.

“Cererê é mais que um mero espaço físico ocupado pela cena alternativa. É um lugar de afeto, de encontros e amizades, de romances e tretas, e principalmente um lugar de trabalho, laboratório onde não só a gente, mas vários artistas goianos vivenciaram o sonho de ser uma banda.”

O álbum já está em todas as plataformas de streaming, desde ontem. Mas abaixo, facinho, deixamos as nossas duas músicas de cara preferidas do disco, as que abre e fecha o “Cererê”: o single “Noite dos Tristes” e “Despedida”.

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